Os 04 cavaleiros da porca Alice (3ª temporada)

A queda de um mito – 3º capítulo 

– Naquela noite a taverna se entupiu de gente. Roniléssis chegou acompanhado de dez mosquetianos, alguns armados e fazendo questão de mostrar que estavam armados. Bebiam muito e falavam sem qualquer receio, mesmo na presença do chefe. O próprio Roniléssis não estava reservado. Era uma boa oportunidade de avançar na investigação e descobrir segredos, mas permaneci num canto do balcão, observando as pessoas e marcando alguns que, com certeza, eu poderia ter, depois, uma conversa reservada e, com mais certeza ainda, de quem arrancaria informações preciosas.

Roniléssis me chamou, então, pra sua mesa. Fez-se um silêncio repentino à mesa. E ele, me mandando sentar e me mostrando aos demais:

– Amigos, este é meu amigo ledor de estrelas, um discípulo muito querido de Ó’deCavalo. Nós todos sabemos o perigo que nosso líder está correndo com a prisão do Keyróssis. Quem sabe as estrelas nos possam dizer como ele poderá se livrar dos tantos inimigos que fez na capital, com sua tentativa de ajudar a população sofrida desta região, com sua governança sem palavras bonitas, mas com palavras dirigidas diretamente ao coração de aldeãos e aldeãs, os verdadeiros donos de nossa pátria. Quem sabe elas nos digam que é hora de abandonarmos nossas casas e nossas famílias e nos dirigirmos à capital, para proteger nosso líder…

Houve uma zoada e uivos e batidas de mãos nas mesas e botas no chão e, claro, eu não precisava ler as estrelas pra saber o que Roniléssis queria que eu dissesse. Ele levantou as mãos e o silêncio se fez. Não se ouvia um pio, um tilintar de copo, um sorvo de cerveja… Eu me levantei da cara, fechei os olhos olhando para o teto como se procurasse as estrelas através dele, peguei das “pedras mágicas” que carregava no bolso e espalhei sobre a mesa. Abri os olhos e fui passando a mão pela formação das pedras.

– A ida para a capital é imprescindível… mas há dois perigos muito grandes no caminho de vocês. O primeiro é deixar suas famílias desguarnecidas nas aldeias, para o que as estrelas dizem que há uma solução. Vou pedir para vocês dez ficarem em forma de frente para esta mesa, vou colocar o revólver de Roniléssis em cima da mesa e ele apontará três de vocês que deverão permanecer nas aldeias para tomarem conta das famílias. Peguei um grande anel que estava no meu bolso, coloquei-o no dedo anelar e coloquei minha mão a uns 30 centímetros acima do revólver, com o cano voltado para o próprio Roniléssis.

O truque era óbvio – eu queria que os mosquetianos que eu selecionara para uma conversa reservada ficassem à minha disposição enquanto o chefe comandava seus homens até a capital: o anel era um ímã e, com isso, eu dirigia o revólver exatamente para quem eu queria. Ninguém percebeu nada, nem Roniléssis… estavam todos semi embriagados e alvoroçados com aquela mágica de um revólver que gira sozinho sobre uma mesa, atendendo as ordens das estrelas. Selecionados os três, arrisquei uma jogada perigosa:

-O 2º perigo é o cadáver insepulto. – Roniléssis deu um murro na mesa e berrou:

– Este perigo só eu posso resolver. Vamos encerrar por aqui. Fora vocês quatro – além dos três escolhidos pelas estrelas, ele indicou um quarto – um sujeito grande e mal encarado, careca e barbudo, os outros todos vão para casa, despeçam-se da família, avisem os que não vieram aqui e se preparem que amanhã cedo partimos pra capital. Não economizem armas.  Magalha, uma última rodada, e esta é de graça, taokey? – Mandou eu me sentar de novo, virou-se pros três selecionados e fez um gesto claro: eles se sentaram também. Os garotos trouxeram garrafões de cerveja, houve um grito de guerra, todos encheram e viraram suas canecas e saíram.

Ignorando minha presença, Roniléssis transmitiu instruções precisas para os três mosquetianos escolhidos sobre a forma que eles iriam fazer a vigilância sobre as famílias, lembrando que eles deveriam recrutar aldeãos confiáveis para trabalharem e se fixarem nas fazendas de cada um dos mosquetianos que seguiriam pra capital, cabendo a eles coordenar a vigilância, passando em cada fazenda pelo menos uma vez a cada três dias. Desenhou um roteiro num caderno que trazia com ele, anotando cada fazenda e, tendo os três dito que tinham entendido perfeitamente a missão, dispensou os três e manteve o quarto, a quem me apresentou como Keyrôssinho. Baixou o tom de voz e explicou:

– Keyrôssinho é meu parceiro em todas as encomendas que eu recebo ou que me mandam fazer. Como tal, ele sabe exatamente onde estão os corpos da idiota que enfrentava o filho do homem na Comissão Gestora e do imbecil que bingou a porca Alice aqui na quermesse. Amanhã ou depois, você vai até este lugar junto com ele e, até lá, consulte suas estrelas e encontre o lugar mais adequado pra enterrá-los novamente, sem qualquer risco de serem encontrados por quem quer que seja. Não se preocupe… Você será bem recompensado.

Eu tinha absoluta certeza que seria bem recompensado. Desejei-lhe boa viagem e bom trabalho na capital, pedi pra Keyrôssinho me procurar dois dias depois e me despedi. Dia seguinte cedinho, entreguei um bilhete para o meu roboqueiro de confiança e ordenei: quero isto entregue hoje e quero ver você amanhã cedo aqui de volta, bem acompanhado… (termina amanhã)

 

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