Os 04 cavaleiros da porca Alice (3ª temporada)

A queda de um mito – 2º capítulo

– Eu não o conheço, mas meu mestre é muito ligado a ele e me disse recentemente que ele presidirá o Conselho por muitos e muitos anos, as estrelas dizem isto…

– Espero que sim… e que me libere deste castigo. Não estou acostumado a ficar longe das filhas e dos amigos. Não posso nem pescar!

– Bom, eu agradeço o café, mas preciso ir. Se você me der as indicações de seus amigos, volto hoje ainda pra Ibirapitanga e amanhã mesmo vou procura-los. – Saí de lá com dois nomes, um deles o de Ronilessis que, certamente saberia muita coisa sobre o bingueiro e muitas coisas mais, vez que, conforme eu havia apurado, era ele o chefe de uma tal SoMA² – Sociedade dos Matadores Autônomos Anônimos, responsável direta pelos principais crimes de morte de toda a região nos últimos anos, desde que Zirouziro foi pra capital.

Daí, passei em Anhangabaúba, que era perto, e mandei um roboqueiro com mensagem urgente para Judgemorus, e  voltei rápido para Ibirapitanga. Antes que a CAD/SS providenciasse a prisão de Keyróssis, eu precisava me encontrar com Ronilessis e, claro, ganhar a confiança dele. Pensei em pedir ajuda a Ziroutwo pra encontra-lo, mas achei melhor não levantar suspeitas – ele podia descobrir a história falsa do marido desconfiado – e apelei pra Magalhássil, que não teve qualquer desconfiança e dificuldade: o mosquetiano era amigo e freguês e costumava ir à taverna quase toda noite. E foi naquela mesma noite.

Estava no cômodo atendendo uma jovem preocupada com um futuro marido que não aparecia, quando o garoto de Magalhássil veio me avisar da presença de Ronilessis. Despachei a moçoila com um monte de esperanças e fui pra taverna. Vi o sujeito corpulento conversando baixinho com dois outros uniformizados, das forças de segurança da aldeia. O taverneiro me serviu um canecão de vinho tinto e me pediu calma. Depois de um certo tempo, foi levar uma rodada de cerveja à mesa do mosquetiano, disse-lhe alguma coisa, ele virou-se pra mim, fez um sinal com a cabeça, esperou os parceiros virarem as canecas, dispensou-os e fez um sinal pra me aproximar.

– Muito prazer… eu sou…

– Sem nomes, por favor. Você sabe quem eu sou e me foi indicado por alguém… Quem?

– Keiróssis…

– Amigo dele é meu amigo… Magalha! Bebida na mesa logo! Este aí disse que você está com um problema. Diga que eu resolvo.

– Eu sou um ledor de estrelas… um homem de paz. Como diz meu mestre Ó’deCavalo, com muita propriedade, a violência física elimina o inimigo, o que empobrece nosso espírito de luta e amolece nossa vontade de conquistar estes inimigos pra nossa causa…

– Eu respeito seu mestre, mas penso como Zirouziro, que se diz discípulo dele também, mas prefere meus métodos: eu não levo desaforo pra casa e não deixo um amigo fazer isto também… e ainda ganho dinheiro com isto!

– É… Keyróssis elogia muito seu trabalho. Me disse que sua atuação no convencimento do bingueiro na quermesse foi impecável… – Ele me olhou perfunctoriamente, deu um suspiro e, em vez de se tornar ameaçador, ficou no aguardo de mais elogios. Era minha deixa.

-Como eu disse, eu sou um ledor de estrelas e elas costumam brilhar mais intensamente quando prenunciam novos tempos para a região. Meu mestre, com quem estive antes de vir para cá, vem falando isto desde que Zirouziro assumiu a presidência do Conselho, mas muita gente começou a duvidar porque já tem algum tempo que ele está lá e não houve mudanças significativas… Meu mestre, então, me disse que o tempo ainda não havia chegado porque a maior força de Zirouziro ainda não estava pronta. Quando perguntei quem era esta força, ele me disse: “Vá para Ibirapitanga e você conhecerá esta força. Junte-se a ela, que o novo tempo está para chegar!

– E esta força é…

– Você e seus mosquetianos…

– Então, você não tem um problema pra ser resolvido… você queria me conhecer…?

– Desculpe-me, mas foi preciso. Nas minhas andanças pela região e nas muitas histórias contadas por aldeãos e aldeãs que vêm se consultar comigo, os mosquetianos ou são heróis destemidos, protetores dos mais fracos e necessitados, ou são violentos e perigosos, de quem se deve manter distância. Eu tinha que me apresentar e mostrar minhas credenciais a quem fosse importante, e você é o mais importante, certamente… – Ronilessis estufou o peito e ergueu o queixo naturalmente e eu tive certeza que ganhara um amigo e protetor. A conversa correu solta, então, sobre estrelas, armas, mulheres, fofocas da aldeia… Meu bote seria dado outro dia.

Por dias seguidos, me encontrei com ele. Aos poucos, fiquei conhecendo outros membros da mosquétia, alguns dos quais quiseram se consultar comigo. Em uma semana, eu já sabia de 22 assassinatos por encomenda cometidos pelos mosquetianos de Ronelessis, sabendo, inclusive, onde estavam enterrados os cadáveres de 08 deles, que ainda eram dados como desaparecidos pela CAD/SS. Mas o chefe, Ronilessis, era mais cauteloso e os crimes cometidos diretamente por ele, um com certeza a mando de Zirouziro ou de seu clã, não eram compartilhados como os demais, cujos preparativos, razões e ações eram comentados como se fossem simples jogos de salão.

Eu já estava ficando preocupado com a demora do CAD/SS em prender Keyróssis, apesar desta demora dar tempo pra me enturmar com Ronilessis, quando estourou a bomba: ele foi preso em Anhangabaúba… Na verdade, ele fora preso no dia seguinte ao meu encontro com ele, mas a notícia só vazou quando Wassefus voltou da capital. (continua amanhã)

 

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