De rock, Caê e satanismo (II)

Para quem não leu o Inferno, de Dante Alighieri, considerado o maior poeta da Itália, é a primeira parte de uma obra em versos chamada “A Divina Comédia” (as outras duas são Purgatório e Paraíso). Na visão de Dante, o Inferno começa com um Portal, onde há uma inscrição: ‘Os que aqui adentram, devem perder toda esperança’, seguido por um Vestíbulo, onde ficam os indecisos e covardes, que passaram a vida “em cima do muro”. Como não quiseram assumir compromissos nem tomar decisões firmes, não entrarão nem no Paraíso nem no Inferno. Seguindo, há um rio, o Acqueronte, onde o barco de Caronte leva os mortos para os 09 Círculos do Inferno.

Cada um destes Círculos acolhe um tipo de pecadores. E eu imagino que a maioria destas figuras bizarras e estrambólicas que vêm sendo tornadas autoridades governamentais, estão sendo pescadas no Oitavo Círculo. Ele é formado por 10 fossos, onde são jogados, entre outros, os rufiões, os sedutores, os puxa-sacos, os corruptos, os hipócritas, os ladrões, os falsificadores e os semeadores de discórdias e difusores do ódio.

É bem verdade que estes últimos, os semeadores de discórdia e difusores do ódio já dominavam as redes sociais bem antes da consolidação do Mito como candidato à Presidência da República. Aécio Neves e seu PSDB, quando não aceitaram o resultado das eleições em 2013, lançaram seu grito de ódio contra a democracia e deram prosseguimento ao processo de demonização do petismo e demais forças progressistas, que vinha sendo cultivado antes até do primeiro governo Lula pelas Organizações Globo.

E a democracia, com honras parlamentares, foi devidamente estuprada em 02 anos de fomento ao ódio, que não foi apaziguado com a fraude Temer, nem com a ascenção dos bolsonários, uma horda de pessoas despreparadas, complexadas, belicosas, vingativas, homofóbicas e racistas…  e dispostas a esmurrar, chutar, morder ou metralhar os “inimigos”, mesmo que estes “inimigos” sejam apenas minorias da sociedade, como quilombolas, indígenas, transexuais ou deficientes físicos.

A primeira leva de pescados do Inferno chegou ao poder junto com o Mito: os generais de pijama, que se encontravam no Sétimo Círculo (destinado aos violentos de corpo e alma), e os bobos da Corte, figuras patéticas que aparecem solenes e didáticas em cerimônias públicas e programas jornalísticos para defecarem regras e vomitarem ensinamentos imbecis toda vez que se faz necessário ocultar alguma trapalhada ou ‘grande jogada’ do governo. E, claro, os pimpolhos que, parlamentares medíocres como o pai sempre foi, se sentiram donos da cocada preta, criando mais problemas ao governo que toda a oposição reunida.

Em quase um ano, alguns já foram excretados do convívio insalubre e inóspito, incluindo ministros, como Bebiano e Santos Cruz, políticos, como Alexandre Frota, Joyce Hasselmann e boa parte do PSL, partido do Mito, e apoiadores voluntários, como o cantor Lobão e o youtubber Nando Reis. Mas outros, insignificantes até então, emergiram daquele limbo pantanoso em que viviam se roendo de ódio e ciúmes e, cheios de empáfia pelo poder alcançado, passaram a arrotar imbecilidades e espalhar ódio entre seus iguais.

Na política cultural, a indicação de olavistas e idiotas para comandar seus principais órgãos, tem um propósito óbvio: quem assistiu Farenheit 451, de François Truffault, passado numa sociedade ditatorial hipotética, em que qualquer forma de escrita é proibida, pois o conhecimento além do estritamente necessário torna as pessoas infelizes e improdutivas, ou viu documentários dos tempos nazistas, em que universidades, bibliotecas e livrarias eram invadidas para realização de grandes queimas de livros, sabe que regimes ditatoriais não admitem a liberdade das muita formas de expressão que a cultura de um povo é capaz de ter.  (continua)

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