De rock, Caê e satanismo (III)

Fascismo, nazismo, comunismo e tantos outros ismos que existem por aí, incluindo os fanatismos religiosos, não suportam conviver com pretos tocando berimbau e jogando capoeira nas praças de Salvador… ou com um teatro lotado para assistir Roda Viva, de Chico Buarque… ou gente bem posta na vida levando seus filhos para uma exposição de nus artísticos ou de caricaturas políticas… ou uma praça com 5.000 jovens pobres e miseráveis se divertindo no Pancadão de uma comunidade carente vizinha de bairros chiques de São Paulo.

Assim, na atual zorra fascista que nos governa, é mais do que natural que um obscuro diretor teatral que diz esta asnice: “A foto da sórdida Fernanda Montenegro…, publicada hoje na capa de uma revista esquerdista, mostra muito bem a canalhice abissal destas pessoas”, seja imediatamente guindado ao posto de secretário de Cultura. Como na Alemanha Nazista e sua sistemática perseguição a intelectuais e artistas, atacar ídolos consagrados é uma forma de se impor sobre mentes tolas e manipuláveis. A “sórdida Fernanda Montenegro” é esta figura que completou 90 anos, 75 dos quais dedicados ao teatro brasileiro, e que, numa entrevista, faz críticas aos atuais desprezo pela cultura e demonização do ator:

Na mesma linha, as entronizações dos novos presidentes da Funarte e da Biblioteca Nacional, representam um desrespeito brutal à milhões de pessoas, brasileiras ou não, que desde os primórdios desta Terra Brasilis, muitas vezes voluntariamente e sem qualquer apoio público, construíram um dos mais ricos e plurais acervos culturais do mundo.

Na primeira, colocar um maestro, mestre em Linguística e especialista em Filosofia Política e Jurídica e, além disso, youtubber, pode parecer promissor, mas títulos não dizem muito quando a cabeça é poluída pelas teses astrológicas do guru.

A Funarte é o órgão do Governo Federal que tem a missão de promover e incentivar a produção, a prática, o desenvolvimento e a difusão das artes no país, em todas as suas manifestações, circo, teatro, dança, música, artes integradas, artes visuais. Ou seja, ela tem que estar aberta e predisposta a apoiar a todo e qualquer tipo de manifestação cultural do Brasil, seja um pancadão pelos becos de Paraisópolis, seja um Encontro de Tambores reunindo grupos afro-descendentes de música e dança, seja uma apresentação de fandango num Centro de Tradição Gaúcha.

Que isenção e respeito por tanta diversidade cultural terá um presidente que diz que “o rock ativa a droga que ativa o sexo que ativa a indústria do aborto… A indústria do aborto por sua vez alimenta uma coisa muito mais pesada que é o satanismo“. Como pescados do Inferno, estas figuras patéticas não conseguem se livrar de Satã! Na cabeça poluída deles, Belzebu está escondido em cada gaveta, em cada coxia, em cada goiabeira visitada por Jesus…

Já na Biblioteca Nacional, o novo presidente é graduado em Filosofia e Direito, com mestrado em Educação, além de youtubber também. Vai gerir uma das mais importantes instituições culturais do país, com um acervo que remonta a 1808, apesar de confessar, num twitter, que não consegue organizar nem sua biblioteca pessoal. E, como Mestre em Educação, acha que os “livros didáticos estão cheios de letras de músicas de Caetano, Gabriel, o Pensador, e Legião Urbana”, o que explicaria o analfabetismo dos brasileiros. Ligado a uma vídeo-produtora, costuma incentivar seus seguidores a contribuir com suas produções. Sorte dos brasileiros que ele não foi indicado para presidir o Museu da Imagem e do Som. (continua)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *