O amor está escondido no fim do arco-íris (I)

Quando cursei  Jornalismo há quase 50 anos atrás, havia a matéria Técnica de Redação, que era essencial para quem pretendia seguir carreira. Naquela época, apesar de a gente ter aulas de Ética, Radio jornalismo, Publicidade, Relações Públicas, Fotografia, História das Artes, Economia, o fundamental em comunicação era o jornalismo de jornal mesmo. Tanto que quem fazia o curso com intenção de se profissionalizar era, geralmente, quem gostava de escrever, como era o meu caso (gozado… não me lembro de Tele jornalismo, mas me lembro do Plínio Carneiro ensinando o que eram bits, num tempo em que computador era ficção para nós, meros caipiras brasileiros!)

As aulas eram dadas por um experiente jornalista, José Mendonça, diretor da sucursal de O Globo em Belo Horizonte, muito conceituado no meio, mas que eu, mesmo respeitando seu conhecimento e técnica jornalística, achava um porre. Ele entrava na sala, sentava-se em sua mesa e ficava c…..o* normas-padrão de como fazer um jornal: ‘a manchete principal tem que ter tantos toques (datilográficos) em corpo (tamanho da letra) tal e tem que conter o fundamental da notícia e a foto da primeira página tem que ser tão expressiva quanto a manchete…e um monte de outras regras e regrinhas que eram seguidas por todos os repórteres e editores, inclusive o famoso 3 Q+C+O (Que+Quem+Quando+Como+ Onde) obrigatório em todo ‘lead’ (o primeiro parágrafo) de qualquer notícia.

Eu adorava escrever e detestava regras para escrever… apesar de entender que imparcialidade e emoção não dão uma boa liga. Daí que, ainda durante o curso, em exercícios e provas, passei a escrever para a 2ª página dos jornais, a chamada página nobre, onde são publicados os editoriais, a opinião do jornal, ou melhor, dos donos do jornal. Como estudante, eu ainda tinha liberdade de escrever o que eu pensava, muitas vezes floreando o texto ao sabor da minha imaginação… E como eu floreava, elucubrando em torno da ideia central!

Fato é que eu seria um excelente editorialista – isto não é vaidade fhcista não, foi o grande mestre Jacques do Prado Brandão, meu professor, quem disse – ‘desde que eu fosse trabalhar em um jornal cujos donos comungassem das minhas ideias e da minha maneira de encarar a vida, o que não existia no Brasil sob ditadura’ (‘O Pasquim’, criado em 1969, ‘Opinião’, em 1972,  ‘O Movimento’, em 1975, e o Lampião da Esquina (primeiro jornal gay do país), em 1978, não tinham lugar para calouros, estagiários ou jornalistas em começo de carreira).

Nestes quase 50 anos desde a minha profissionalização, a comunicação no mundo e no Brasil mudou muito (os donos dela quase nada!). O principal jornal mineiro naquela época (se bem que mineiro, naquela época, significava Belo Horizonte e seu entorno e as regiões norte e nordeste do Estado, já que as demais ou eram culturalmente ligadas à São Paulo ou ao Rio de Janeiro) era o Estado de Minas, dos Diários Associados, as Organizações Globo de então.

O ‘jornal dos mineiros’, como dizia uma propaganda,igual toda a imprensa tradicional, seguia o padrão a mim ensinado pelo professor José Mendonça: páginas ímpares para as notícias mais importantes da área, páginas pares para as demais notícias da área, dividindo-se o jornal em áreas tais como: Política nacional, Política local, Vida da cidade, Artes e Diversões ou Variedades, Esportes/Futebol, Polícia.

(Claro… havia os jornais populares, em que a primeira página era dedicada a um crime de repercussão ou uma história fantástica, sempre com uma foto de mulher bem à vontade, mas isto, diziam os “profissionais da grande imprensa”, não era jornalismo…)

Com o advento da Internet, o jornalismo impresso está morrendo. Todos os grandes grupos de comunicação têm portais que, no fundo, seguem as mesmas regras que me foram ensinadas há quase 50 anos atrás, devidamente adequadas à plataforma visual (em vez de folhas de papel distribuídas por cadernos, a tela do celular ou computador correndo na vertical): a página inicial com a manchete do dia chamando para  as principais notícias da política nacional e regional e, na sequência, dependendo do dia, as notícias de artes e diversões, as notícias do esporte e as notícias gerais, com destaque, no primeiro e no último segmento, para as notícias policiais.

Ou seja: nas regras que me foram ensinadas pelo professor Mendonça, não houve mudança significativa. Houve mudança, e muita, naquilo que eu acho que é importante para o ser humano: se você é assinante ou leitor de qualquer jornal ou portal ou ouvinte/telespectador de rádio ou tevê da grande imprensa  brasileira, já deve ter percebido que, além da política, os três temas que, mesmo não sendo manchete principal (às vezes, podem ser), ocupam o maior espaço jornalístico hoje são violência, sexo e futebol! Quando os três se misturam, então, como no recente caso do suspeito estupro do Neymar (feito pelo Neymar, não sofrido por ele, claro!), aí  vira manchete principal… (que foi relegada às páginas pares porque apareceu a Vaza Jato!).

A Imprensa sempre teve papel preponderante na política de qualquer país. Não é atoa que ela é chamada de 4º Poder. No Brasil, este poder, muitas vezes, foi crucial  para os demais, como nos anos 50, que levaram ao suicídio de Vargas, nos anos 60, quando derrubaram Jango e implantaram a ditadura militar, e  agora a pouco, quando impincharam Dilma, demonizaram  Lula e elegeram Bolsonaro e seus três filhos pródigos. (continua 5ª feira)

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