O amor está escondido no fim do arco-íris (II)

Durante um longo período – da minha infância até os 40 anos pelo menos – este 4º poder (no Brasil, pelo menos) se alinhava ao poder constituído, influenciando decisões de governo ou alinhava-se à oposição, sempre e em qualquer situação, infringindo a regra básica do Jornalismo que me foi ensinada no curso: ética e imparcialidade são fundamentos pétreos  do Jornalismo…

Não segui-los não é atitude moralmente honesta, mas é compreensível: Jornalismo é um negócio como outro qualquer, precisa de dinheiro para ser executado e quem paga a execução é quem tem dinheiro: governo, bancos, financeiras, empresas públicas e privadas, miliardários excêntricos ou não… Mas editores e repórteres ainda tinham alguma liberdade (os barões da mídia respeitavam a norma básica de que notícia é notícia, não é opinião). A partir da ditadura, este respeito acabou.

É óbvio que aos financiadores da Imprensa não interessa a verdade. Se esta for favorável, maravilha! Se não, pra que divulgar? Alguns anos atrás, um ministro da Fazenda de Itamar, Rubens Ricúpero, disse isto claramente, achando que era uma conversa particular, como informa a Wikipédia:

”O escândalo da parabólica foi resultado de uma transmissão televisiva vazada em 1° de setembro de 1994, de uma conversa entre o embaixador Rubens Ricúpero, então ministro da Fazenda do Brasil, e o jornalista da Rede Globo Carlos Monforte, seu cunhado, enquanto se preparavam para entrar no ar ao vivo no Jornal da Globo daquele dia. Essa transmissão foi feita por meio do canal privativo de satélite da Embratel, acessível pelos lares com antena parabólica. Nela, Ricúpero afirmou: “Eu não tenho escrúpulos; o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde.” (A Globo, sempre a Globo… ).

O problema é que a política, que entrelaça tudo, não é tudo numa sociedade. O jornal teve seu tempo, o rádio teve seu tempo, a tevê aberta teve seu tempo… agora, vivemos o tempo da Internet, o tempo das redes sociais… É fantástica a liberdade que as pessoas têm de expressar opiniões e sentimentos, uma coisa maravilhosa… mas é impressionante, também, a ignorância demonstrada por muitas destas mesmas pessoas que, no geral, expressam o pensamento único, batido durante os últimos anos pelos meios de comunicação – esquerda x direita, Estado x Mercado, petismo x anti petismo, liberdade dos costumes x moral da família, ciência x religião…

Nossa geração, governos petistas inclusos, fracassou em transformar a sociedade brasileira. Ela permanece politicamente analfabeta e dependente de uma elite econômica que conduz e manipula a vontade de boa parte da população através dos meios de comunicação. Antes, jornais, rádios e tevês, dependentes da veiculação publicitária, agora os portais jornalísticos, também sustentados pela publicidade, e as redes sociais, bombardeadas por mensagens sub reptícias e fake news fabricadas e bancadas pela mesma elite econômica.

E onde é que o amor entra nesta história? Exatamente onde ele não entra mais: a comunicação moderna baniu o amor e escondeu-o no fim do arco-íris, onde as pessoas têm cada vez mais dificuldade de chegar…

As páginas de Artes ou de Variedades dos jornais sobreviventes hoje, estão pesadas, enfatizando histórias reais, mas sempre perpassadas por uma violência subjetiva e raiva incontida, como se isto fosse a coisa mais natural da vida; os programas policiais das tevês, sempre em horários ainda vespertinos, têm apresentadores que agridem em vez de narrar e câmeras que abusam das imagens de medo estampadas no rosto ou na atitude do possível marginal; e as novelas estão muito mais preocupadas em contar histórias em que todos os ‘ganchos’, dos personagens principais aos secundários, se amarram em e a partir de relacionamentos sexuais,  hétero ou homo, tanto faz… o importante são as matérias de jornais e revistas e os comentários nas redes sociais depois: Fulana transou com Sicrano, que traiu Beltrana, que estava esperando Fulana numa boate gay…

Enfim, eu acho que a humanidade caminha para a auto-destruição. E não tem mais retorno. As redes sociais, que estão substituindo definitivamente os meios de comunicação tradicionais, tornam-se, a cada dia, mais inóspitas e insensíveis, substituindo, inclusive, as reuniões familiares, os encontros sociais, o bate papo descontraído à mesa de um bar. E ampliam o ódio e a violência latente que o ser humano carrega desde as cavernas. Aquela previsão de que o mundo globalizado eliminaria as diferenças sociais, raciais, sexuais, religiosas vai se transformando numa ilusão. Bom é armar a população e dar tiros, muitos tiros, não é mesmo, senhor presidente?

De qualquer modo, fica o convite de um velho sonhador: alguém se habilita a buscar o fim do arco-íris comigo?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *