Política do bolso (I)

Eu moro em Brasília desde 1975. Convidado por um amigo, que se formou comigo no Curso de Jornalismo, vim para o lugar dele como assessor de comunicação de uma estatal (ele havia sido convidado para assessorar o ministro da Agricultura). Já contei aqui das minhas dificuldades de convivência com o mundo político brasiliense, o que não impediu minha adaptação e meu carinho e amor pela cidade.

Toda vez que alguém, daqui ou de fora, reclama da “roubalheira dos políticos de Brasília”, eu retruco que dos quase 600 parlamentares em Brasília, apenas 11 são eleitos pelo Distrito Federal… E, se reclamam da aridez, do clima e da convivência (“Brasília não tem esquinas, pô!”), eu retruco com o verde espalhado por toda a cidade, em contraposição ao cinza poluído de outras capitais, e conto meu primeiro susto quando cheguei aqui: nos instalando no apartamento, minha única filha então, com menos de dois anos, sumiu… mas, a encontramos logo, tomando sol e brincando sentada no gramado que havia embaixo do prédio (em Belo Horizonte, ela fazia isto, brincar e tomar sol, na garagem do prédio…).

Nestes 44 anos de candanguismo explícito, algumas coisas me incomodaram bastante, como o poder imensurável, de um lado, dos grileiros de terras públicas, que transformaram boa parte da cidade numa cidade como outra qualquer, superpopulosa, poluída, suja, violenta… e, do outro, dos sindicatos de servidores públicos, que criaram uma casta de privilegiados muito distante da realidade brasileira.

Resultado desta realidade: o domínio do populismo irresponsável sobre a política local – deputados distritais são como vereadores que, com as exceções de praxe, só se preocupam com seus currais eleitorais, ‘cadando e angando’  para a cidade em si, o que favelizou sua periferia, atraindo uma população pobre e pouco instruída para um local sem indústrias e com poucos empregos privados, mas inchada de empresas de terceirização de serviços, empregadoras de mão de obra desqualificada e barata, para atender os Executivos, os Legislativos e os Judiciários federal e distrital.

Com isso, o roteiro é previsível: vira e mexe, garis, serventes, arrumadeiras e vigilantes se vêm no olho da rua, sem direitos, por ‘falência fabricada’ da empregadora, ficando aliviados, satisfeitos e agradecidos por serem reempregados pela empresa substituta, normalmente contratada emergencialmente, sem licitação, pelo governo ou estatal ou fundação… Do mesmo modo, a cada três meses, a rotatividade da mão de obra em certos segmentos privados é notável: quantas vezes a mesma frentista te atendeu no posto de gasolina em que você é freguês?

Obviamente, a política local sempre foi disputada por estas duas forças opostas: o populismo de direita, representado por um ruralista de família tradicional da região, familiares e apaniguados, e o populismo de esquerda, representado por profissionais liberais oriundos da esquerda mas encaçapados pelo petismo.

O populismo rorizista (Joaquim Roriz governou o Distrito Federal em 04 mandatos, um nomeado e três eleito) deu certo. Sua popularidade se alicerçou em um tripé imbatível: construção civil, habitação popular e empoderamento do funcionalismo distrital, o que levou empreiteiras/incorporadoras, contingentes incontáveis de famílias pobres e o imenso quadro funcional do GDF a venerá-lo incondicionalmente. (continua amanhã)

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