Traidores? (III)

O procurador Daniel Khan, do Departamento de Justiça do governo americano, por exemplo, em entrevista à Imprensa (lá, a grande imprensa não é ‘flexível’ ao tilintar do ‘din din’), disse que  “Sempre que estamos analisando um caso, temos de determinar quais são os interesses dos EUA (…) e, é óbvio, que quando estes interesses são contrariados, tudo fazemos para que o problema seja resolvido a contento dos Estados Unidos…” (US$ 853,2 milhões cobrados da Petrobras pela Justiça americana é um bom exemplo disto, né mesmo?)

Nos últimos anos, brasileiros descobriram alternativas  para desenvolvimento da energia nuclear, brasileiros descobriram modos de explorar o petróleo nas profundidades do pré sal, brasileiros ofereceram oportunidades de construir pontes, estradas, prédios públicos, vilas residenciais mais seguras e menos caras, brasileiros inundaram os mercados islâmicos com carne mais barata e de acordo com as regras religiosas… Isto foi um acinte, um desrespeito ao poder americano!

A eleição de Lula em 2002 e a manutenção de um governo independente em 2006, 2010 e 2014 desagradaram o governo americano, o capitalismo internacional e a elite nacional. Apesar dos governos Lula e o primeiro de Dilma terem garantido, em 12 anos, uma lucratividade excepcional ao capital, o medo de mudanças na tradicional passividade da população era grande: povo instruído é povo aguerrido! Povo educado não consegue ser enganado! Era preciso evitar isto!

O Brasil é, sabidamente, um país que tem uma das piores distribuições de renda do mundo. E, consequentemente, o analfabetismo político é mastodôntico. A imensa maioria do povo brasileiro vive, há séculos, de migalhas que lhe são jogadas por uma elite poderosa e infensa às necessidades sociais deste povo.

A ascensão de Lula ao poder ameaçou esta condição e esta elite, apoiada por uma classe média egoísta e medrosa, preocupada em preservar o próprio umbigo, o que o transformou em um inimigo a ser derrotado de qualquer jeito e, ao petismo, no único responsável por todo e qualquer problema enfrentado pelo país, da corrupção endêmica à economia estagnada, da violência urbana à “transformação” de aeroportos em rodoviárias… oh! que horror! Lula virou persona non grata e as políticas públicas voltadas para o povo viraram saco de pancadas nas redes sociais, um canal poderoso de manifestação dominado pela classe média.

O petismo precisava cair! O poder precisava voltar a mãos seguras… E voltou! Depois do impeachment, uma quadrilha conivente com os poderosos nacionais e multinacionais, assumiu o poder. Durante dois anos nada fez, a não ser reduzir direitos sociais, dilapidar o Estado e entregar as riquezas nacionais. Mas, o risco permanecia latente: Lula precisava ser afastado definitivamente.

É onde entram as safadezas de um Procurador Geral da República, as interpretações das leis pelos intocáveis de Curitiba, as diatribes teatrais de Gilmar Mendes (que mudaria de posições quando ele próprio começou a ser ameaçado pelos lavajateiros) e a tibieza, fragilidade moral e comprometimento político de vários juízes de cortes superiores.

Lula foi acusado pela ‘convicção’ dos procuradores da Lava Jato, condenado, sem provas, por Sérgio Moro, e teve sua pena de prisão agravada pelos desembargadores do IV TRF, tudo a tempo e hora de impedir sua candidatura (que seria vitoriosa) em outubro de 2018. Mas, os possíveis candidatos dos poderosos também sifu*!

E o Brasil, por vontade do povo (57 milhões de votos!), envolvido pela pregação anti petista da grande mídia e pelas fábricas de ‘fake news’ mantidas por empresários e ruralistas doidos para se livrarem de impostos, leis trabalhistas e direitos sociais, caiu nas mãos de uma ‘famiglia’, cujos sinais mafiosos começam a subir à superfície.  Em quase 05 meses de desgoverno, os poderosos já perceberam a armadilha que prepararam para si próprios. Bolsonaro permanece enquanto houver esperança, para eles, de ser aprovada a reforma da Previdência. Depois…

E daí? A ‘famiglia’ Bolsonaro sendo expelida, assumem  os militares? E, se assumirem, vão analisar a atuação de lavajateiros como traição à Pátria? Janots, Moros, Dallagnois, Gebrans, Marenas serão considerados traidores e julgados como tal? Afinal de contas, nos acordos assinados pela Petrobras com o Departamento de Justiça americano, com interveniência da Lava Jato, não há cláusula que permita aos lavajateiros usufruírem de recursos da Petrobras, disponibilizados pelos próprios americanos, mas há cláusula que permite aos Estados Unidos conhecer a estratégia empresarial da Petrobras… Isto não é traição?

Enfim, eu acho que os lavajateiros, inclusive Moro, devem começar a rezar para que Lula volte ao poder. Lula é um pacificador nato… perdoar é parte fundamental de seu caráter.

 

 

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