Eu já introduzi este palavrão aqui no blog: Naief Sáfady foi meu professor de Português no Colégio Estadual. Erudito, brilhante, daqueles professores que amavam a profissão e a matéria que ensinavam, obrigava os alunos a lerem romances brasileiros e buscarem , no dicionário – não existia Wikipédia naqueles tempos – qualquer palavra que a gente não entendesse.
Foi um tempo feliz para um tímido crônico como eu: meu pai tinha dicionários de todos os tipos e tamanhos em sua biblioteca particular, da qual eu era assíduo frequentador. E meus coleguinhas de sala, no geral, detestavam ler… imaginem frequentar uma biblioteca para pesquisar uma palavra ‘esquisita, que não tinha nada a ver com a vida deles…! Ou seja: ‘Leo… o que significa desvanecimento?’
A palavra aparece num dos mais indicativos trechos de Dom Casmurro, de Machado de Assis, um dos clássicos da literatura brasileira e, na minha opinião, o mais impactante romance sobre amor e traição da literatura mundial (até hoje, 120 anos depois de sua publicação, se discute se Capitu traiu ou não Bentinho!).
Há 120 anos atrás (e não mudou tanto assim!) as mulheres eram objetos dos homens. A maioria imensa obedecia… mas algumas tinham ‘fogo nas ventas’. E eram execradas pela sociedade cristã… O romance de Machado de Assis se passa no início do século XX, quando as mulheres de bem só podiam mostrar braços e ombros, assim mesmo com consentimento de maridos ou noivos. Além disso, mostrar outra parte do corpo feminino era uma abominação e sexo não vinculado à geração dos filhos era pecado mortal. Escrever que os ombros nus de Capitu eram motivo de desvanecimento era um atentado à moral àquela época. Mas Machado escreveu:,
“Os braços merecem um período. Eram belos, e na primeira noite em que os levou nus a um baile, não creio que houvessem iguais na cidade (…) Eram os mais belos da noite. A ponto que me encheram de desvanecimento…” Ninguém precisa correr para o computador… eu esclareço, copiando a Wikipédia: sentimento de orgulho; vaidade, presunção, esvanecimento.
Este meu professor tinha uma frase corriqueira em suas aulas, fossem comentários sobre a atuação de algum aluno, fossem sobre a situação geral do país (eram anos de chumbo): “Vocês (ou Nós) estão intussusceptados e mal remunerados que, em tradução livre significa f…d.s* e mal pagos!
É o que nós, brasileiros, estamos hoje… E ainda nem começou direito a tramitação da reforma da Previdência pelo Parlamento…
Em três meses de ‘tuitagem’, nosso miliciano mais ilustre mostrou o que entende de governar: dotado de conhecimentos precários de política interna ou externa – a não ser aquele joguinho do baixo clero parlamentar, do qual participou por 27 anos – ele não tem a mínima noção da dignidade do cargo para o qual foi eleito – foi capaz tanto de presidir uma reunião de ministros vestido com uma camisa falsa do Palmeiras, quanto postar em seu twitter pessoal um vídeo escatológico – e não se mostra nem um pouco constrangido por ser corrigido, a todo momento, pelos ‘tutores’ militares que o cercam…
É impressionante que um presidente eleito por 57 milhões de brasileiros, não tenha tempo para colocar seus ministros trabalhando arduamente para alinhavar e propor alguns projetos que minimizem a situação desesperadora dos quase 13 milhões de desempregados do país, mas encontre tempo suficiente para tuitar besteiras e xingamentos contra os ‘inimigos’ da sua Pátria – que não é a mesma minha – e incentivar seus fanáticos seguidores contra seus ‘inimigos’ pessoais.
E é aterrador ver que o Chefe de uma Nação soberana faça uma visita oficial a outra Nação soberana e tanto ele quanto sua comitiva se portem como cachorrinhos babões a abanarem o rabo para o dono, toda vez que ele estala os dedos. O que Sua Excrescência e seu Posto Ipiranga fizeram e falaram nos Estados Unidos é uma das páginas mais humilhantes da história deste país. Nem o 7 x 1 imposto pela Alemanha ao Brasil em pleno Mineirão foi tão vexaminoso.
Recordo:
- em almoço com a presença de Steve Bannon (o guru da direita americana) e de Olavo de Carvalho (o guru dos Bolsonaros), na casa do embaixador Sérgio Amaral (lembram dele? Foi ministro do governo Fernando Henrique), o super ministro da Economia classificou o Olavo de “líder da revolução” liberal no Brasil. Muito em moda nos últimos tempos, o “líder” é jornalista, ensaísta, conferencista, filósofo autodidata, ideólogo da nova direita brasileira, além de astrólogo autor de livro referencial (isto explica?), residente nos Estados Unidos desde 2005, de onde verbaliza, pelas redes sociais, seu imenso ódio a qualquer tipo de esquerdismo, sendo seguido por milhares de pessoas, chamadas olavetes;
- em outro evento, organizado pela Câmara de Comércio dos Estados Unidos, o Posto Ipiranga bolsonarista foi enfático: “O Brasil ama os EUA e eu também” (ele foi mais amoroso ainda: disse que adorava Coca Cola e a Disneylândia…!), uma boa justificativa, ao que parece para eles, para o presidente entregar as riquezas do país com gosto e sem remorso, e fazer, sem contrapartidas, um monte de concessões aos americanos. Neste aspecto, Paulo Guedes foi direto ao que interessa: “Em três ou quatro meses estaremos vendendo petróleo, o pré-sal… Nós estamos de portas abertas para esses negócios”. Eu, particularmente, acho que ele deveria ter sido mais explícito, dizendo que o Brasil estava de pernas abertas para receber o amor ianque!
- Já o presidente, acompanhado de um dos filhos em estado de pura excitação (ria o tempo todo!), foi recebido pelo presidente Trump e foi o que sempre foi e continua sendo: tosco e ridículo! O dignitário da ainda 8º economia do mundo faz uma visita oficial ao dignitário da mais poderosa nação do planeta e a primeira tuitada que ele manda para seus seguidores é para dizer que recebeu o número do celular pessoal de Trump?
- Bolsominions e olavetes passaram a bumbar imediatamente a inteligência do Mito, louvando sua perspicácia em trocar o tratamento especial que tem na OMC pela promessa de ser admitido na OCDE. Para os menos entendidos em Relações Internacionais, a OMC, Organização Mundial de Comércio, reúne 159 países e é fundamental no gerenciamento de acordos comerciais entre estes países; já a OCDE, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, reúne os 36 países mais ricos do mundo e que, exatamente por isto, procuram ‘vender’ seu ‘way of life’ para os outros países, menos desenvolvidos, pobres e miseráveis. Importante observar que o tratamento especial do Brasil na OMC já lhe dá algumas vantagens comerciais em relação aos outros membros, enquanto a entrada na OCDE vai depender de um longo caminho (a Costa Rica, por exemplo,
- Bolsominions e olavetes também estão tendo orgasmos bélicos com a possibilidade levantada pelo Trump de o Brasil se tornar membro da OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte, que é um sistema de defesa coletiva, onde os países da América do Norte e Europa concordam com a defesa mútua em resposta a um ataque por qualquer entidade externa à organização. Os novos heróis milicianos estão ansiosos para mostrar a força e valentia que têm: não se contentarão em caçar apenas traficantes em morros e periferias ou em invadir a Venezuela… querem mais, querem os comunistas que espalharam o marxismo cultural pelo mundo e estavam dominando o Brasil…! (Cá fico eu imaginando os três pimpolhos do presidente, com suas canetas e pregadores de gravatas em forma de fuzil comandando as bravas tropas brasileiras em nome da Pátria e de Deus! Avante, Brasil!)