Bendito seja o Carnaval do povo! (III)

Como o Brasil do poder vive das manchetes globais, a escatologia presidencial já foi substituída, nas tevês, nas rádios, nos jornais e nas redes dissociais, pela garantia da democracia pelos militares, uma afirmação peremptória de Sua Excelência, imediatamente ‘explicada’ por dois generais de seu governo (‘O presidente quis dizer que…) e reafirmada por seu ministro da Casa Civil (‘… é graças aos soldados e não aos políticos que podemos votar…’). Políticos, profissionais liberais, aquela parte da sociedade civil, enfim, que gosta de posar de voz do povo, mais os partidos de oposição, jornais e emissoras da grande imprensa, protestaram… e não se falou mais na escatologia tuittada pelo presidente da República do Brasil!

Assim como ninguém fala mais de Gustavo Bebiano (quem?), o ministro decaído, ninguém fala de Queiróz, o laranja preferido… E, há muito tempo (três meses e meio) ninguém fala de Temer, Eliseu Padilha ou Moreira Franco, o ex presidente e respectivos asseclas que perderam o foro privilegiado, e continuam livres, leves e soltos, sem que o MPF, tão preocupado em varrer a corrupção do país, reapresente as acusações que já fizeram quando o foro prevalecia e a liberação desenfreada de emendas protegeu o bando.

A preocupação dos ilustres membros da Lava Jato agora, juízes, procuradores, policiais, vinha sendo criar seu próprio nicho político, recebendo recursos da Petrobras, via Estados Unidos,  sob a justificativa de ‘continuar combatendo a corrupção intrínseca do país’ mas, na verdade, com o objetivo camuflado de criar uma nova fonte de poder para amigos e parceiros conferencistas e palestrantes e para ONGs e escritórios de advocacia especializados em corrupção empresarial e compliance (uma palavra derivada do verbo inglês to comply – agir de acordo com a regra), que proliferaram rapidamente em seu entorno e de outras operações, menos badaladas. Regras que eles próprios criaram e que só eles dominam bem…

Tudo bem, nós vivemos no Brasil, o país do Carnaval! Se o presidente da República pode chafurdar na lama da escatologia por sentir-se ofendido com as críticas carnavalescas , porque procuradores da República não podem criar seu próprio cofrinho, intermediando o acordo entre a Petrobras e o governo americano para usar, a seu bel prazer, “contra a corrupção”, alguns milhões de dólares  que deveriam ser devolvidos ao Tesouro brasileiro ou à própria Petrobras? E porque não aproveitar o Carnaval, quando ninguém está prestando atenção, para aprovar a criação deste cofrinho?

Azar deles que ainda tem gente neste país que, mesmo vivendo o Carnaval, não brinca com coisas sérias. E tentar aproveitar-se da fama de defensores implacáveis da Justiça, protetores incansáveis da moralidade pública, donos incontestáveis da verdade, para construir um poder paralelo ao Estado, é coisa muito séria! Dizer, como justificou a ANPR (Associação Nacional de Procuradores da República) , que a União não seria confiável para administrar o Fundo, é de uma contradição risível: eles não querem repassar R$1,25 bilhão da Petrobras, exatamente para quem gere o cofre de onde saem os polpudos salários e penduricalhos que eles recebem mensalmente… (Se eu fosse a União, ficaria p…* e pararia de pagar!)

No final das contas, até a sumida Procuradora Geral da República resolveu sair de sua covardia corporativista e desceu o cacete nos mancebos curitibanos. Dona Dodge pediu ao Supremo Tribunal Federal que anulasse, por ilegal, o acordo firmado entre os procuradores da Lava Jato e a Petrobras, que indicava a criação de uma fundação privada a ser gerenciada pelos próprios procuradores da Lava Jato. Na verdade, ninguém é mocinho nesta história: dona Dodge quer continuar Procuradora Geral ou indicar seu sucessor… Dom Moro quer colocar Deltan Dallagnol, o mais ilustre d’Os Intocáveis (tirante o próprio),  no lugar dela… Repito: o Brasil é o país do Carnaval!

Enfim, mesmo que a gente goste da festa em si, o Brasil foi, neste Carnaval de 2019, carnavalizado no pior sentido que verbo carnavalizar pode ter: aquilo que o Bloku apresentou num desfile restrito a bairros de São Paulo, foi internacionalizado por um presidente da República que não tem a menor noção do que representa o cargo que ocupa e as constitucionais funções da Procuradoria Geral da República foram transformadas em um jogo político, cujo objetivo era tornar o ex-juiz, procuradores e policiais federais  da Lava Jato em protagonistas de um processo muito além de suas competências funcionais. Afinal, com Carnaval ou sem, quem é que não quer mamar!

Se assim ansiavam, porque não se candidataram a cargos políticos, como tantos o fizeram, e foram eleitos, na esteira do anti petismo?  Militares, policiais civis e militares e bombeiros, loucas professoras descabeladas, jornalistas comprometidas, blogueiros e youtubers  fanatizados foram eleitos para as Câmaras Estaduais e Federal… Até um ator pornô virou deputado federal! (Não tenho nada contra… assim é a democracia! Sou contra usar uma função de Estado e fazer política, como se eleito fosse!)

Objetivamente, os concursados e engravatados guardiões da moral brasileira não aceitam a democracia! Assim como Pelé, há uns 30 anos atrás, eles não acreditam nos 150 milhões de brasileiros que compõem as classes pobre e miserável do Brasil… (“O brasileiro não sabe votar!) e preferem resolver as ‘coisas’ por cima! Aproveitando a ‘compreensão’ das classes superiores. Neste caso, se deram mal! São babacas imberbes diante dos grandes interesses econômicos internos e internacionais, representados, hoje, pelo ‘poderoso’ ministro da Economia, Paulo Guedes, o mesmo que disse que o Brasil e ele amam os Estados Unidos! (Ele, de paixão, imagino!)

Acima de tudo, Carnaval é fantasia… e o Brasil vive, hoje, uma fantasia surreal! Joãozinho Trinta não conseguiria reproduzir no Sambódromo! Respeitando a democracia que reconquistamos em 1988 (com a Constituição Cidadâ), Fernando Henrique neo-liberalizou o Brasil; respeitando a Constituição que aprovamos em 1988, Lula estatizou o Brasil… Bolsonaro quer armar e americanizar o Brasil! É um idiota… que, infelizmente, tem muitos seguidores fanatizados que transpiram ódio pelas redes dissociais. Até quando?  (fim)

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