Bendito seja o Carnaval do povo! (II)

Para quem, como eu, que sempre acreditou que o povo é soberano, sabe o que quer, é doloroso descobrir que o povo não sabe nada, é enganado o tempo todo ou, pior, acha cômodo ser enganado porque não tem que assumir nada, não tem que se responsabilizar por p…* nenhuma, e não pode cobrar nada! (ele sequer se lembra em quem votou para vereador ou deputado um mês depois das eleições!).

E a classe média brasileira, que é quase tão politicamente analfabeta quanto o povão, e arrota sua ignorância pelas redes sociais, compactuando com esta situação, que percebe esquisita, mas não quer mudar porque tem medo de perder o pequeno status conquistado ou a chance de ascender mais um degrau na escala social.

É ela que gosta de bater no peito sempre e mostrar seu temor a Deus, endeusar os valores familiares e venerar os símbolos pátrios, mas se regozijar com o analfabetismo político do povo, se sentir incrível e ‘na moda’ vestindo roupas de grife falsificadas da China, adorar assistir canais de sexo nas tevês pagas e ficar extasiada (mas fingindo horror) quando a tevê aberta ou as redes sociais mostram mulheres quase nuas  saracoteando pelos sambódromos da vida. ‘Deus é Pai’ diz ela, persigna-se, e continua assistindo, imersa em sua culpa pelos desejos impuros que tem ao longo da exibição…

Alguns amigos politicamente engajados me dizem que o Brasil está experimentando as dores do amadurecimento… Eu discordo. Um povo que acha normal haver quase 13 milhões de desempregados, que acha normal que 50 presos ocupem celas para 05 pessoas, que acha normal balas perdidas matarem crianças dentro de escolas, que acha normal um crime político não ser descoberto em quase 01 ano de “investigações”, mesmo tendo as Forças Armadas envolvidas na sua elucidação, que acha normal um presidente da República postar vídeos pornográficos e escatológicos em seu twitter pessoal, mandando o decoro do cargo à p…* que pariu, não está amadurecendo  p….* nenhuma! Ou, pior, vai levar outros 500 anos para chegar à idade adulta!

Na verdade, o país está é sendo engambelado pelos poderosos de sempre, como sempre foi… a imensa maioria da população se aliena numa felicidade ilusória porque, se tem pouco pão para cada dia, tem muito circo… no mínimo umas três vezes por semana nos Mineirões, Castelões, Arrudões e Maracanãs e uma semana inteira, ou mais, a cada fevereiro.

O que torna o Carnaval deste ano, recém festejado, um dos mais interessantes já vividos por mim. Há muito tempo eu deixei de pular Carnarval e passei a assistir os grandes eventos televisionados: os desfiles das Escolas de Samba do Rio, os trios elétricos de Salvador, os blocos tradicionais de Olinda e Recife.

Este, aliás – que eu considero o mais popular do país, no sentido da participação efetiva do povo nas ruas, sem ter que pagar ingressos ou abadás caríssimos para assistir, torcer ou correr atrás – eu fui conhecer há uns 04 ou 05 anos atrás. E gostarei de voltar algum dia!

Mas, desde então, o Carnaval via tevê ficou sem graça, insosso, um desfilar de estrelas globais a narrar, mecanicamente,  o que estamos vendo, sem transmitir a emoção real que transborda das ruas. Aí, eu li sobre os primeiros gritos de ‘VTNC’, emitidos, a plenos pulmões, pelo povão que sambava pelas ruas e avenidas de muitas capitais e cidades Brasil adentro.

Carnaval verdadeiro, no Brasil, sempre foi isto: o povão soltando seus cachorros contra os governantes, contra as angústias da vida, e cantando a favor da alegria, do despudor, da sem-vergonhice,  sem que isto signifique pornografia ou escatologia… e da liberdade, enfim, uma liberdade que ficou enroscada na garganta nos últimos 04 anos… dominados pela Lava Jato!

Nosso alaranjado presidente, o Mito das redes sociais, um homem religioso, patriota e família, porém, não gostou das manifestações populares (a liberdade de se expressar numa democracia não é digerível para um militar acostumado a obedecer e dar ordens) e respondeu às críticas e gozações no seu estilo trumpista, via seu twitter pessoal: mostrando pornografia e escatologia de um grupo como se fosse representativo de todo o Carnaval do Brasil, de toda a alegria e liberdade que goza o povo brasileiro durante as festas momescas.

As críticas, pela falta de decoro e de respeito pelo cargo para o qual foi eleito, transmitindo escatologia gratuita pelas redes sociais, que seus seguidores retuitaram no mesmo baixo nível, foram instantâneas…. Apesar de muitos terem preferido se omitir, como já vêm fazendo desde que as movimentações financeiras do Queiróz e o laranjal do PSL vieram a público (isto sim são p.t….s*!)…

A propósito, onde foi parar o laranjal do Gustavo Bebiano? Igual a queda do ministro, caiu na vala comum da Justiça brasileira e daqui a uns 04 anos, quando houver novas eleições presidenciais, vai reaparecer? (continua)

 

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