Até quando?

Até quando nós vamos ter que aguentar os filhos do eleito presidente da República falando besteiras e c…ndo* regras de conduta para a sociedade brasileira? Eduardo Bolsonaro foi eleito deputado federal por São Paulo, com 1.843.735 votos, o mais votado em toda a história do país!  (e seu irmão, Flávio, foi eleito senador pelo Rio de Janeiro… – e tem muitos paulistas e sulistas que dizem que os nordestinos é que não sabem votar!) E tem se caracterizado não pelos projetos que apresenta na Câmara Federal, mas pelas estultices que posta nas redes sociais e pela influência que exerce sobre o pai na escolha de seus colaboradores diretos.

A última foi a indicação do futuro ministro das Relações Exteriores, um diplomata de carreira do Itamaraty, que nunca exerceu o cargo de embaixador, mas que tem um blog nas redes sociais que exalta Bolsonaro e considera Donald Trump o salvador do mundo ocidental; e diz que globalismo é um conceito apropriado pelo marxismo cultural, que tenta acabar com a civilização cristã…  Sua influência já está incomodando a própria entourage do presidente eleito, mas filho é filho, né? O que me lembra muito um personagem, Cascatinha, o filho do ‘meu paipai’ Chico Anísio…

Nós estamos caminhando seguramente por um caminho muito perigoso. Uma boa parte da população, principalmente a classe média, antiga e nova, que quer preservar o status conquistado nos últimos anos (de governos petistas), acreditou nas promessas de combate à corrupção, de combate ao banditismo, de combate à devassidão moral, numa ladainha eleitoreira que alimentou as redes sociais, principalmente os grupos de Whats’App, de meias verdades e falsas notícias, como se elas fossem verdades geradas por uma tia preferida ou por um ex-colega de trabalho ou, pior, pelo filho que estuda fora de casa…

Na verdade, como denunciado e comprovado por uma reportagem da Folha de São Paulo, tais memes, vídeos, depoimentos, informações eram distribuídas por empresas especializadas contratadas por empresários bolsonaristas, o que está proibido pela legislação eleitoral. Ou seja: o candidato que prometeu que vai enfiar corruptos e corruptores na cadeia ou manda-los para o raio que os parta, já ascendeu ao poder corruptando a legislação…

De qualquer modo, o assunto foi parar na Justiça, sob a vigilante lupa do  egrégio ministro Luiz Roberto Barroso, não pelas mãos da Folha de São Paulo, mas da também egrégia Procuradora Geral da República, Rachel Dodge, que pediu uma investigação do assunto em todas as campanhas eleitorais e não apenas na bolsonarista, comprovada pelo jornal.

(Observação de um velho jornalista, eu mesmo: os poderes constituídos do Brasil – Executivo, Legislativo e Judiciário – têm uma característica muito própria, coisa entranhada em nossa cultura. Todos eles acham que se alguma irregularidade é cometida por todos ou quase todos – o Caixa 2, por exemplo, nas eleições de qualquer nível – ela deixa de ser um crime estabelecido em lei, e passa a ser o ‘jeitinho brasileiro’ de aplicar a sua imensa criatividade para resolver uma chateação inventada pela nossa gigantesca e estúpida burocracia.

Imagino que a nobre Procuradora Geral, já convencida  pela reportagem que o financiamento empresarial para a campanha bolsonarista realmente existiu, quis dar uma brecha para que o assunto não fosse levado às últimas consequências – comprovado judicialmente, não haveria outra saída para a Justiça, que teria que anular a eleição de Jair Bolsonaro ou, talvez, até toda a eleição presidencial).

Iniciado o processo, o eminente ministro Barroso solicitou informações às empresas de Internet  – Twitter, Facebook, Instagram, WhatsApp e Google – se a campanha do PSL havia pago para impulsionar conteúdo nas respectivas redes sociais, e elas responderam basicamente que isto não aconteceu.  A reportagem da Folha não dizia que a campanha do presidente eleito tivesse feito isto… mas  relatou casos de empresas cujos donos eram apoiadores de Bolsonaro que teriam comprado pacotes de disparo de mensagens contra o PT por meio do WhatsApp.

É presumível que agora, o ilustre ministro Barroso faça novo questionamento às plataformas internéticas, sobre a possível existência destes empresários – como o dono da Havan, tão loquaz em suas aparições televisivas e pelas redes sociais – mas isto não deve acontecer de imediato e, assim, com férias forenses à vista, o assunto ficará para meados de fevereiro, com o novo presidente já empossado, assim como o novo Congresso. Presumo que, se julgamento houver, ele acontecerá depois de encerrado o mandato presidencial…

Aliás, prevejo que será um mandato tão inusitado quanto o foi o do atual presidente, que passou metade de seus dois anos ‘negociando’ com o Congresso, não leis e projetos para o país, mas ‘toma lá dá cá’ para se livrar de um impeachment por corrupção.

Exatamente porque um dos mantras da campanha bolsonarista era a promessa de não aceitar, em nome da Pátria e de Deus, qualquer pessoa suspeita de corrupção.  E, de cara, já indicou três: o todo poderoso ministro da Economia, Paulo Guedes, o também todo poderoso ministro da Casa Civil, Ônix Lorenzoni, e a menos poderosa ministra da Agricultura, Tereza Cristina.

Paulo Guedes está sendo investigado pela Procuradoria da República no Distrito Federal por supostos crimes de gestão temerária ou fraudulenta de investimentos de recursos de fundos de pensão. Ele já estava na mira do Ministério Público Federal desde o início do mês, quando havia sido aberto procedimento preliminar. Agora, a investigação foi formalizada.

Ônix Lorenzoni é um caso sui-gêneris: confessou publicamente ter recebido propina de R$100 mil (para caixa 2) , pedindo perdão a seus eleitores, e foi perdoado também pelo ínclito juiz Sérgio Moro, futuro ministro da Justiça e Segurança do governo eleito, pela ‘coragem’ de confessar o crime. Depois que foi nomeado ministro da Transição, a Folha denunciou outros R$100 mil de  caixa 2, desta vez não confessados… E ele continua ministro, assim como Sérgio Moro! Gente fina é outra coisa, né?

Tereza Cristina é, hoje, presidente da poderosa Frente Parlamentar da Agropecuária, a FPA, que engloba, principalmente, políticos do MDB, DEM, PP, PR e PSD. Tem posturas essencialmente conservadoras e contrárias aos ambientalistas, devendo, por isto, influenciar na escolha do novo ministro do Meio Ambiente, alguém que não impeça a expansão do agronegócio sobre matas e florestas do Brasil nem das multinacionais de fertilizantes e pesticidas.

Na Folha de São Paulo (que, parece, redescobriu o verdadeiro papel da Imprensa), de domingo, dia 18/11, a manchete principal é clara e objetiva: “Ministra de Bolsonaro deu incentivos fiscais à JBS”. A reportagem dos conceituados repórteres Rubens Valente e Cátia Seabra, informam que a futura ministra (que era Secretária de Agricultura do Mato Grosso do Sul, então) ‘concedeu incentivos fiscais ao grupo JBS na mesma época em que manteve uma “parceria pecuária” com a empresa.’

Quando eu era chefe de gabinete da presidência de uma empresa estatal, o presidente me chamou, certa vez, para participar de uma reunião com o diretor financeiro de uma multinacional instalada em Goiás. Ele achava que a conversa seria ‘perigosa’ e queria uma testemunha. O diretor chegou acompanhado de dois assessores, um deles com influência política sobre o governo goiano. Conversa vai, conversa vem, a proposta indiretamente colocada: isenção de taxas para armazenamento de produtos em nossas unidades no Estado, em troca de facilidades no governo estadual para liberação de terrenos e construção de novas unidades… O presidente, bom político, deixou aberta a negociação e levou-a ao ministro, que era goiano, e brecou o assunto.

Se não tivesse brecado, seria corrupção. A da futura ministra da Agricultura não foi? Para o presidente eleito, não. Imperial, ele foi taxativo: “No momento ela goza de toda confiança NOSSA”. Até quando mesmo?

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