Nós merecemos! (III)

Já minha pinimba com a Oi ainda não foi definitivamente resolvida. Mas é mais recente. Começou em março, quando fui agraciado com uma promoção especial para clientes de telefones fixos (eu tenho duas linhas, ainda do tempo da Telebrasília). Numa delas estava acoplada a transmissão de Internet e eu vinha insistindo, há tempos, para aumentar esta capacidade ou, então, acoplar outra transmissão ao outro telefone fixo, o que foi concedido no final do ano passado. Junto, fui informado que me mandariam, breve, de “bônus”, um chip para celular da Oi. A linha da Internet foi ligada, mas o chip não chegou, e como eu não precisava de outro número de celular (já tinha os dois da Claro), esqueci do assunto.

Em março, passando em frente a uma loja da Oi, resolvi perguntar sobre o chip. A simpática, sorridente, convincente, solícita e assertiva jovem atendente batucou seu computador rapidamente, deu-me um sorriso encantador e confirmou: “O senhor tem um número de celular sim… Tem o celular aí para eu instalar o chip?” Antes que eu dissesse algo, ela fez carinha de surpresa e tascou: “Ah! Mas o senhor está pagando muito caro sua conta do telefone fixo quase sem usá-lo…! Se o senhor mudar para este plano aqui, já incluindo o celular (mais o fixo + Internet de 15 Mb) em vez de R$230,00, o senhor vai pagar R$170,00/mês…”

Comecei a abrir a boca para especular um pouco sobre a proposta e ela voltou à carga: “Ah! O senhor já tem TV a cabo? Tem uma promoção ótima aqui… olha só: no Oi Total, com fixo, celular, Internet, dois pontos da TV Oi mais tudo aquilo que o senhor já tem de franquia em ligações para todas operadoras, por apenas mais R$30,00 do que os R$230,00 que o senhor está pagando hoje quase sem usar o telefone fixo… Não é uma oportunidade única?” O sorriso era tão intensamente sedutor e o piscar de olhos tão convidativo que quase cometi abuso sexual…!

Como não sou Don Juan de Marco, me  contive, sacudi a cabeça, levantei minhas duas mãos à frente e repliquei: “Meu bem, por favor, está vendo meus poucos cabelos brancos? Então, me dá um tempo para respirar?” Ela piscou os olhos imensos, deu um sorriso incentivador e ficou me olhando expectante… Respirei um pouco e pedi para ela repetir, devagar, a oferta. Os dois pontos de tevê me interessaram, já que eu tenho duas casas habitadas na chácara em que moro, a minha e onde estava morando minha mãe, com um sobrinho e uma neta. E minha mãe, quase centenária, mas inteiramente lúcida, como eu já escrevi aqui, tinha noites de insônia, não encontrando nada útil para ser visto de madrugada nos canais abertos. Decidi, pois, aceitar a proposta. Uma hora depois, saí da loja com o chip que eu não queria e um pacote chamado Oi Total, com a inevitável fidelidade à Oi por um ano.

A pinimba inicial foi a instalação da Oi TV, que levou 40 dias… assim mesmo depois de dezenas de ligações cobrando e ameaçando de desistir. Tempo, aliás, em que tive que fazer mudanças na chácara, o que eliminou a necessidade de sua instalação na casa de baixo. Aí sim, começou a via crucis:

Retornei à loja da OI onde outra simpática, sorridente, convincente, solícita e assertiva jovem atendente me informou que “para cancelar a tevê, o senhor terá que mudar de plano e, no momento, o senhor tem um contrato de fidelidade com a Oi neste plano atual… A loja não pode fazer nada, senhor! O senhor terá que falar diretamente com a Oi, via telefone.”

Foi o que fiz, claro. Depois de passar por aquela voz de robô, me mandando digitar isto e aquilo, me atendeu uma voz feminina, pediu meu CPF e o nome completo e colocou-se à disposição. Expliquei que eu queria cancelar a Oi TV, ela pediu um tempo para encontrar meu cadastro e retornou, solícita: “Para atender o senhor, nós temos os seguintes planos”, e desfiou um monte de planos, cada um com pequenas variações de benefícios e valores. Eu repliquei que queria, simplesmente, o telefone fixo e a Internet 15 Mb acoplada. Ela insistiu que era melhor eu permanecer com o celular, eu disse que não e ela foi incisiva: “O senhor assinou um contrato de fidelidade por um ano… Para sair dele antes do tempo, há uma multa de R$568,00…”

Fui falar com meu irmão, o novo dono da casa de baixo que não queria a Oi TV. Ele achou um absurdo, disse que tinha acabado de rescindir o contrato com a Oi na casa de onde saíra e que eu devia ligar de novo para a Oi, mas pedindo apenas para mudar de plano, para um que não tivesse tevê. Foi o que fiz, outra vez. Repetidas todas as operações, manifestado o desejo de mudar de plano, justificada a razão – a “situação financeira” não permitia pagar mais o plano – a voz me informou alguns planos mais em conta, eu escolhi um que eliminava a TV e mantinha o celular e a voz disse que estava tudo certo, eu ainda receberia uma conta com o período usado do plano vigente mas, no mês seguinte já viria o custo novo, menos da metade do atual, e me deu instruções para a devolução dos dois ‘aparelhos’ de ligação da Oi TV.

Tudo certo? Não. Nos dias seguintes passei a receber ligações da Oi no telefone fixo, no celular da Oi e no meu celular, que não é da Oi. As vozes, alternadamente, queriam saber porque desistira da Oi TV ou se eu tinha algum parente para repassar os ‘aparelhos’, e se eu, por acaso, tinha feito algum pedido para instalação da TV Oi na minha casa.

Três semanas depois, um questionamento diferente: se eu tinha pedido uma mudança de plano. Quando eu confirmei, a voz disse que ela não tinha sido efetivada porque havia divergência de dados e que eu teria que comparecer a uma loja da Oi para regularizar tais dados. Perguntei se ela podia me dizer que dados eram estes e ela respondeu que não sabia, eu tinha mesmo que ir à loja. Fui. Junto com outra simpática, sorridente, convincente, solícita e assertiva jovem atendente, repassamos todos os meus dados cadastrais no computador (“Ele é ligado à Central e a todas as lojas da Oi – explicou-me ela – o que estiver aqui, estará em todo o sistema”). Não encontramos nada. Pedi para repassar uma segunda vez. Achei uma divergência: minha chácara tem o número 1, lá estava registrado 01…! Ela fez a correção e disse que agora estaria tudo certo. Estou esperando a próxima conta…

Enquanto espero, fico elucubrando: de acordo com reportagem do insuspeitíssimo ‘O Globo’, relatório produzido pela União Internacional das Telecomunicações (UIT), órgão da ONU, o brasileiro paga o maior valor pelo minuto do celular do mundo (no Brasil, o minuto da ligação entre duas linhas de operadoras diferentes custa US$ 0,74, para medições fora do horário de pico e nos Estados Unidos custa US$ 0,27… Em Hong Kong custa US$0,01!). Mas, ao contrário de americanos e hongkonguianos (?), que xingam, brigam e cobram seus direitos, os brasileiros apenas xingam, falam mal dos políticos e governos e postam ‘fake news’ nas redes sociais. Segundo dados da Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça (que coordena os Procon’s), através do portal Consumidor.gov.br,  em 2017 foram feitas  470.748 reclamações, das quais 43,3% (203.834) contra operadoras de telefonia.

E é isto o que mais me indigna. Numa população de 207,7 milhões de habitantes, que usa 236,5 milhões de celulares, apenas 203,8 mil (0,1%) consumidores se dirigem aos Procon’s da vida para reclamar do custo e do péssimo serviço prestado pelas operadoras de telefonia, o que me leva a dar razão a tanta gente que costuma dizer que cada povo tem o governo que merece… Nós, brasileiros, merecemos os desgovernos neoliberais como o atual…!

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