Socorro! O fundo é mais embaixo!

Perdoem a minha estupefação mas, a cada dia, eu descubro que ainda há fundo após o fundo! E me angustia o fato de que entramos num labirinto em que as saídas são limitadas: ou nos revoltamos e lutamos para ser uma Nação ou nos conformamos com a mediocridade, numa sociedade em que alguns – empresários, políticos, altos funcionários públicos, classe média alta, a elite enfim – manda e a maioria da população baixa a cabeça  e obedece.

Houve um assassinato encomendado no Rio: uma mulher negra, que nasceu e cresceu na Maré, uma das favelas cariocas, que não se perdeu da vida, nem se entregou às facilidades do crime mas, ao contrário, acreditou em si e na democracia, lutou, estudou,  formou-se em sociologia e se elegeu vereadora. E foi brutalmente assassinada como um aviso simples  e direto: quem manda aqui é a gente, pô!

Há toda uma discussão política pela grande imprensa, querendo garantir o corpo da vereadora para si e há apenas um fato concreto: duas pessoas, uma política que enfrentava bandidos (reais e oficiosos) e seu motorista (que prestava serviços temporários), foram assassinados…  Parece que parte da nossa sociedade, que se manifesta compulsivamente pelas redes sociais,  perdeu a noção do que é certo ou errado, pois vive hoje apenas em função de opções políticas: Lula e o PT e não Lula e não PT…!

Me corrói a alma ler e ouvir as manifestações de pessoas comuns nos grupos das redes sociais de que participo: a sanha em denegrir a imagem da vereadora assassinada não tem justificativa! Seja para dar um aviso às autoridades, seja para eliminar uma adversária incômoda, a verdade é uma só:  duas pessoas foram barbaramente executadas nas ruas de uma cidade que já estava e continua sob intervenção militar, uma medida tomada com visível interesse político, por um presidente fraco e sabidamente corrupto.

Argumentar que o assassinato de uma mulher negra, ex-favelada e bi-sexual provoca uma comoção exagerada, quando há centenas de policiais sendo mortos por bandidos na mesma cidade sem que haja manifestações populares tão emotivas quanto, é estupidez ou mau-caratismo: policiais militares ou civis são pagos para combater bandidos e, por isso, usam armas, entram em confronto, matam e morrem… Uma cidadã que se notabiliza exatamente porque enfrenta os mesmos bandidos (e os que fingem que são mocinhos) através da palavra, do discurso, de ações desarmadas, ser reverenciada quando é brutalmente assassinada não é apenas natural, é uma questão de justiça reconhecida por toda uma população cansada das promessas vazias das autoridades públicas.

Do outro lado das ruas e das redes sociais, me causam imenso asco as atitudes mesquinhas, desrespeitosas, canalhas mesmo, de pessoas que, tendo alcançado um bom nível  educacional e profissional diante da maioria da população, não conseguem se portar com a dignidade e a humanidade que seria de se esperar de pessoas nestas condições.

É o caso da desembargadora do Rio de Janeiro que, como tantos outros assíduos frequentadores das redes sociais, postou mentiras em relação à vereadora, justificando o fato, após a violenta repercussão, como um simples erro “por ter repassado notícias sem verificar a sua veracidade”.

Como mentira tem perna curta, logo após a “retratação”, as redes publicaram outro post dela, demonstrando a falta de caráter absoluto de uma pessoa que, há anos, exerce uma função pública de julgar pessoas… Que tipo de julgamento se pode esperar de uma pessoa que pede ‘licença para ir lá fora vomitar’ quando fica sabendo que uma professora potiguar tem síndrome de Down?  Que tipo de justiça se pode esperar de uma mulher que “repassa” notícias que denigrem uma mulher friamente assassinada, sem sequer checar a fonte?

A mesma pergunta vale para o deputado Alberto Fraga, o mais votado do Distrito Federal, coordenador da Bancada da Bala do Congresso, que também repassou a mesma notícia falsa. No caso dele, porém, o fascismo é mais declarado: quando contestado, disse que não se arrependia nem um pouco da difusão do post  falso. Afinal, para ele, quem pensa diferente dele é comunista, chavista ou lulo-petista e deveria morrer fuzilado…

Na verdade, acho que o tipo de justiça que podemos esperar no Brasil de hoje é exatamente aquela emanada do Ministro Luiz Fux, do STF, em relação ao auxílio-moradia recebido por juízes federais do Brasil (há algumas exceções como em todas as regras, claro!): quando o malfadado penduricalho (um belo penduricalho, aliás, equivalente a uns 04 salários mínimos), Sua Excelência deve ter pensado na filha desembargadora, que recebe o dito cujo, apesar de ter 02 apartamentos no Leblon, e postergou o julgamento, de modo que os juízes (bem como sua querida filhinha) vão continuar recebendo o auxílio por mais uns 06 meses… ou um ano, quem sabe? O adiamento significa que o Tesouro Nacional vai continuar desembolsando R$135,5 milhões/mês para auxiliar Suas Excelências a “morar”… Se não gostam, é melhor se queixarem ao bispo…! Porque no Supremo a coisa afunda de vez…

O brasileiro, em sua infinita passividade, acostumou-se a considerar o Supremo Tribunal Federal como o templo da Justiça, da temperança, da sisudez, o último bastião da moralidade e da defesa da nossa ainda bruxuleante democracia. Com as últimas cenas de pugilato oral que a gente tem presenciado,  nas próximas sessões é melhor tirar as crianças da sala…

 

 

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