1º de abril (III)

Não é atoa que o presidente não titubeia quando, frente às câmaras de tevê, diz que controlar velocidade prejudica, provoca mais acidentes, até. E mandou a Polícia Rodoviária recolher os radares móveis. Ao contrário dele, os números não mentem e, no pouco tempo sem os radares, houve aumento expressivo de acidentes, obrigando a Justiça e intervir, sem que o Mito pedisse desculpas ou recuasse de suas intenções.

Sem sequer piscar, ele disse que era falso o aumento dos incêndios amazônicos apontados pelo INPE, demitindo seu diretor, e depois, quando os números, mais uma vez, o desmentiram, culpou as ONGs, os índios e até o ator Leonardo di Caprio pela devastação da floresta. E aí se fez acompanhar de uma índia moderna, youtuber, sem qualquer expressão entre as nações indígenas para representá-las, em seu discurso de defensor das florestas na Organização das Nações Unidas. A floresta pegando fogo e a babaquinha dizendo que “a Amazônia está preservada! Ahorra que vamos!” (isto é havaiano?)

Sem o menor gaguejo, abriu o verbo contra a Educação Pública, dizendo que poucas universidades faziam pesquisa no Brasil e a maioria que fazia era privada. E não se desculpou pela acusação mentirosa quando o Ranking Universitário da Folha apontou que das 20 instituições universitárias de pesquisa, 19 eram públicas.

Assim se passou 2019. Entre uma declaração mentirosa e outra, geralmente na saída de um dos palácrios presidenciais, o Grupo do Ódio, conforme denúncia da mesma Joyce Hasselmann na CPI das fake news, os milicianos digitais, os filhos (menos o 01, que anda sumido do público para cuidar de seu laranjal achocolatado) e o próprio Mito infestaram as redes sociais com outras fake news misturadas a meias-verdades, devidamente espalhadas por robôs ensinados e bem remunerados.

E nada disso é surpreendente, a não ser o poder das redes sociais, que já haviam comprovado isto com a eleição de outro mentiroso, compulsivo, Donald Trump, nos Estados Unidos, um poder que no Brasil não foi devidamente aquilatado pela política tradicional até a eleição do Mito. Ao se ver hoje a importância que o astrólogo e auto proclamado filósofo Olavo de Carvalho adquiriu neste governo, a quantidade de olavistas que pululam pelas redes sociais e o número de ex alunos e discípulos que infestam a Esplanada dos Ministérios e a tecno-burocracia estatal, dá para traçar o jogo que os atuais preceptores do poder (os donos continuam sendo os barões econômicos) estão fazendo.

O guru é enfático em suas posturas de filósofo do anal-lismo. Em recente entrevista a uma “inimiga do povo” ( jornalista), em 05 minutos de conversa, ele já havia chamado a moça de “maliciosa, travessa, mentirosa, difamadora”, enfatizando, dedo em riste: “Você é uma vagabunda… Você não vale nada, mulher!”. Aliás, é assim mesmo que ele espalha sua filosofia, em qualquer situação e para quaisquer interlocutores: os outros nunca alcançam sua incomparável onisciência!

Mas é esta mesma a base filosófica do guruzão (mais de 01 milhão de seguidores no YouTube e Facebook e uns 05 mil alunos de seu curso online): falar palavrões a torto e a direito, principalmente aqueles que têm uma conotação corporal e sexualmente suja, como c.*, não só chama a atenção como desrespeita e agride os inimigos, que precisam ser intimidados de todas as maneiras. Neste contexto, mentir, iludir, injuriar, menosprezar são armas poderosas para intimidá-los, principalmente porque boa parte dos ‘inimigos’ tem a doce crença cristã de que jogar sujo é pecado… e não revida!

Ou, como ele próprio ensina em seu curso no YouTube: “todos os palavrões da língua portuguesa” devem ser usados contra os críticos. “Não se trata de destruir idéias, mas de destruir as carreiras e o poder das pessoas. Você tem que ser direto e sem respeito – isso é muito importante.” Em um ano de desgoverno, o Mito fez algo diferente?

Mas, vai passar!

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