O ódio, quem diria?, está normatizado!

Um leitor das minhas postagens no Facebook me contesta. Meu post dizia o seguinte: “Os últimos vazamentos da Lava Jato, com troca ilegítima de informações entre procuradores suíços e brasileiros, comprova algo que ninguém notou ainda: havia muito dinheiro dos delatores na Europa e nadica de nada de Lula, o “chefão”… Também não foi achado qualquer indício de contas ilegais de filhos e parentes do ex-presidente, uma prova definitiva de que aquele power point do Dallagnol teve um único objetivo: enfeitar uma mentira para alavancar o antilulismo, afastando o PT do poder.”

Ele replicou assim: “Nossa não diga,quer dizer que o PT é vítima?que dizer amigo que o mundo conspira contra o PT,que dizer que o partido com mais gente honesta?Lula,Dilma, Zé Dirceu…etc,que pena né, então esse quadrilha deveria voltar para o poder? (estou reproduzindo tal e qual foi postado pelo contestador. Imagino que seja jovem, já adaptado à linguagem das redes insociais, porque não tem qualquer respeito pela língua portuguesa…).

Um septuagenário como eu, que teve oportunidade de cursar escolas de qualidade, sempre públicas, e teve, com certa dificuldade, que aprender o linguajar reducionista destas redes, nunca deixaria de usar vírgula, ponto e vírgula e exclamações… nem, muito menos, tentaria ironizar, algo extremamente difícil para quem manipula um texto com dificuldades, e, principalmente, limitar-me-ia (bonita construção, não? Muito difícil de usar nas redes insociais!) a contrapor ao escrito à mera discordância política, tipo: “você adora o petismo… eu abomino o petismo!” Ou “a Lava Jato é meu Deus e Dallagnol é seu pastor!”. Isto é uma ironia fina, perceberam? O que não quer dizer que eu saiba usá-la, sempre…

Agora, sem ironia, muita gente acreditou que a Lava Jato era um raio de Deus para o Brasil, e Dallagnol (com Moro nas entrelinhas) era seu pastor… Após a Vaza Jato e o livro de confissões marqueteiras do Janot, ainda tem algum idiota acreditando? Pastores de ovelhas politicamente analfabetas devem estar se mordendo de raiva… Pois, como diz Moisés Mendes, no DCM, “Dallagnol era uma aberração funcional, segundo o homem que pensou um dia em matar Gilmar Mendes”.

Uma das poucas vantagens de ser septuagenário é ser paciente e não partir pra briga ou pros xingamentos pelas redes insociais. Daí, respondi, no Face, ao meu ‘amigo’: “Não sei se voltam ou não ao poder, amigo… Numa democracia, quem decide isto é o povo, que vota! O que sei é que numa democracia, não se faz Justiça passando por cima de leis e corrompendo a Justiça. Os fins não justificam os meios! Se o amigo pensa assim, estará justificando, inclusive, a corrupção: a empreiteira corrompe um diretor de estatal para ganhar uma licitação e, com isso, dar emprego para centenas de desempregados..”

Infelizmente, ele não discutiu a minha tese (outra das vantagens de um septuagenário é poder discutir experiências de vida… e eu tenho, como um jovem que cresceu na ditadura, algumas experiências bem instrutivas para os jovens nascidos após 1985). Ele se limitou a postar que “não compactuo com a corrupção e espero que o povo brasileiro saiba votar,que não vote em partido que é pior que uma facção criminosa. “

             

                Daí, me apareceu uma pulga atrás da orelha a me perguntar: qual a razão de o PT ser um partido “pior que uma facção criminosa”? A Lava Jato provou, usando meios ilegais ou não, que a Petrobras e o Brasil foram roubados por procedimentos políticos que existem desde a Constituição, em 1988… para não dizer que é uma prática desde o descobrimento (na carta que Pero Vaz de Caminha encaminhou ao rei de Portugal anunciando o descobrimento de Pindorama, ele acrescentou o pedido para um emprego na Côrte para seu cunhado).

E outra pulga, um pouco tímida no momento, me cutuca: “Só o PT?” A Lava Jato foi instalada há 05 anos… E, até agora, o único político de expressão nacional (e internacional) preso é Lula! É doloroso para mim, que sempre acreditei no ser humano, perceber o dirigismo da Lava Jato contra uma determinada linha política, algo que está sendo denunciado claramente pela Vaza Jato, através dos vazamentos do The Intercept Brasil, em colaboração com outros órgãos de comunicação (e ficaram mais claros com as confissões do Procurador Geral da República, responsável maior pela Lava Jato, nestes últimos anos).

Por quê tamanho ódio? O que levou boa parte dos brasileiros, principalmente jovens, a crucificar um partido e sua liderança máxima, quando qualquer pessoa com um pouco de informação sabe que a corrupção faz parte da natureza humana? A linguagem do meu’ jovem contestador’ no Facebook é exatamente igual à linguagem usada pelos procuradores da Lava Jato em suas redes pessoais, transmitindo um ódio sem restrições e um total desrespeito à ética profissional, à instituição que servem e à população que lhes paga os régios salários que recebem.

Há uma velha anedota ainda dos meus tempos de jovem rebelde contra a ditadura militar: São Pedro revolta-se contra diversas desgraças que acontecem pelo mundo, maremotos, terremotos, tufões, erupções vulcânicas, que assolam o Japão, as Filipinas, a Europa, o México, o Chile e até os Estados Unidos, e questiona Deus: “- Não entendo! O Senhor autoriza desgraças para todas as partes do mundo… mas preserva o Brasil, onde estão matando jovens apenas por discordarem e lutarem contra a ditadura… Por quê?” E Deus lhe responde: “O Brasil é o país do futuro, Pedro… Mas continuará sendo só isto enquanto o povo que eu coloquei lá não aprender a lutar por ele próprio! Quer maior castigo que este? Ter o direito de exercer o livre arbítrio e não conseguir fazê-lo?”

Naqueles tempos, a gente acreditava que o povão compreendia que a nossa luta era por ele, povão. Estávamos enganados, como continuamos até hoje. Para um analfabeto político – e a maioria o é – liberar R$500,00 do FGTS é muito mais importante que brigar por direitos trabalhistas… Ou compreender que a liberdade de alguém que, manobrando democraticamente, tentou dar voz e poder ao povão, é fundamental para nos tornarmos uma Nação. Já faz algum tempo, mas houve um tempo em que o Brasil foi feliz…!

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