Lembrando a História, outra vez

Eu costumo escrever e exaltar muito a História aqui neste blog. Amigos passaram a me questionar se eu não errei de profissão. A esta altura da vida, com mais de 50 anos escrevendo, inclusive como jornalista, tenho certeza que não. Assim como me tornei editor e assessor de comunicação, pois nunca me adaptei à vida de repórter, a encostar as pessoas na parede ou fuçar suas vidas particulares com o único propósito de obter um ‘furo’,  eu nunca me daria bem como professor, numa sala à frente de 30, 40 alunos de colégio ou de faculdade: os alunos tripudiariam da minha timidez crônica e me expulsariam da sala no primeiro dia!

Poderia ter sido um pesquisador, claro, ou um historiador, ou um museólogo, ou até um arqueólogo (uh lá la! aventuras mil pela Amazônia, procurando as amazonas nuas e selvagens e o Eldorado!) … Mas, naquela época, meio século atrás, como iria sustentar uma família com o salário  proporcionado por estas profissões, até hoje pouco valorizadas no Brasil? Neste dominante universo das redes sociais e insociais, alguém conhece um arqueólogo brasileiro? Alguém conhece um museólogo? (Eu sei: professor também era mal remunerado mas, pelo menos, naquela época havia respeito pelos mestres).

Tanto é que, no Brasil, museus só viram notícia quando pegam fogo! Museus só merecem fotografias quando a classe média que não consegue ira para Miami, descobre que Penedo, em Alagoas, tem um museu dedicado a Dom Pedro I, quando ele andou por lá, lá pelos anos de 1.800 e qualquer coisa… e que o museu da Era Sarney – ele não morreu ainda, lembrem-se – fica num prédio histórico, o Convento das Mercês, por decisão da governadora à época, Roseana Sarney, coincidentemente filha do ex-presidente.

(A propósito, alguém assíduo das redes insociais sabe quem é Niéde Guidon, arqueóloga brasileira, conhecida mundialmente por lutar pela comprovação de sua teoria sobre a presença do homem na América e  por sua luta pela preservação do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, onde ficam as Sete Cidades, uma indicação histórica de que o homem está em terras brasileiras há 55 e não há 15 mil anos apenas… Aliás, alguém assíduo das redes insociais sabe o que são as Sete Cidades?)

Perdoem-me… estou fugindo do assunto. Um dos pontos cruciais da História Moderna é a derrubada do poder monárquico na Rússia, um país católico, dominado por gerações de czares (ou reis), que sucediam ou eram sucedidos por parentes de primeiro grau, assim como Inglaterra, Bélgica, Holanda, Itália, Áustria Hungria e os países nórdicos. E aqui entra a importância de se conhecer a História, algo que os jovens (e nem tanto) de hoje acham ridículo (assim como bolsonaros et caterva acham ridículo o ensino de Filosofia e Sociologia).

A Rússia czarista era uma imensidão de terras geladas (como ainda é hoje) povoada por agricultores dependentes dos nobres, donos das terras, mesmo que estes donos nunca aparecessem em suas terras, preferindo volutear pelos salões de São Petersburgo e Moscou e fazer desafios cavalheirescos de pistola ou espada.

A família Romanov mandou na Rússia, ela própria ou através de prepostos, durante 08 gerações. O último czar, Nicolau II, e sua família foram mortos pela Revolução Russa (inclusive Anastácia, a filha, que virou filme hollywoodiano). Nicolau II teve 04 filhas e, depois, 01 filho, Alexei, o herdeiro… que era hemofílico, uma doença terrível no início do século XX. As tentativas médicas de resolver tal questão de Estado falharam, evidentemente, e, por isso, a czarina Alexandra apelou para místicos e homens santos, os gurus daquela época, e um deles, Grigóri Rasputin, passou a ter uma influência quase divina sobre ela, o czar e a Mãe Rússia.

Mais ou menos como está acontecendo hoje no Brasil. 57 milhões de brasileiros, embalados pela ilusão maciçamente difundida pelas grande imprensa e pelas redes sociais financiadas por poderosos de dentro e de fora do país, acreditaram que o petismo inventou a corrupção e que ambos seriam lavados a jato e a vida seria um mar de rosas depois que Dilma fosse impinchada… que ambos seriam encarcerados sem defesa no Tribunal da IV Região e o ouro ia jorrar do chão depois que Lula fosse preso… que o auriverde pendão da Pátria iria tremular altaneiro e o tomate, o feijão, o gás, a gasolina ficariam baratinhos se o Mito fosse eleito presidente…! Quatro meses se passaram e, obviamente, nosfu…!

Ainda pasmos, com dificuldades para reconhecer que foram enganados, jovens (e nem tanto) estão lendo e ouvindo a fantástica história de um guru moderno, astrólogo e auto proclamado filósofo, que não influencia a czarina, mas o próprio czar e seus filhotes varões e milhares de outros idiotas viciados das redes sociais.  Nicolau II, Alexandra, suas 04 filhas, o herdeiro, o médico da família imperial, um servo pessoal, a camareira da imperatriz e o cozinheiro da família foram executados na madrugada de 16 para 17 de julho de 1918, pelos bolcheviques, os revolucionários russos. Mas, isto não acontecerá aqui, claro!

A humanidade evoluiu bastante neste último século. Mas, para isto, teve que se envolver em duas guerras mundiais e milhares de guerras localizadas (que continuam existindo), e modernizar-se: monarquias absolutas foram constitucionalizadas, regimes totalitários nasceram, floresceram e foram derrotados… Até o Brasil, uma república elitista centenária, conseguiu sobreviver a três ditaduras e empurrar sua mambembe democracia para frente, elegendo um ex-ditador, um intelectual, um operário e uma ex revolucionária para a Presidência da República. Tão à frente que o povo, politicamente analfabeto, acreditou que a essência da democracia era a alternância de poder… E 57 milhões de eleitores e eleitoras (37% da população) elegeram o oposto de Lula para nos governar! Nosfu…!

A História mostra, hoje, que o clima de vingança criado pelos vencidos apoiados pela grande imprensa, em 03 eleições vitoriosas do petismo (2002, 2006 e 2010), poderia ser diferente. Os derrotados quase venceram Dilma, democraticamente. Mas, não… e piraram! 16 anos fora do poder era demais! E passaram a conspirar contra a democracia! Passou a não interessar a disputa democrática, já que, apesar do apoio incondicional da elite, Aécio, o menino do Rio, não foi eleito. Era preciso partir para o Plano B, combinado com os americanos, através dos procuradores da República, derrubando a presidenta reeleita e retomando o poder institucional.

Janot fez a sua parte, Moro a sua e Temer e quadrilha, esfregando as mãos, também.  E um mentecapto foi eleito presidente, entronizando sua famiglia no Planalto. O Brasil está caminhando para uma ditadura pura e simples… e a elite – as gradas figuras políticas, militares, intelectuais – que sempre governou o país, continua achando que não é bem isto! Babacas!  Os ditadores sempre contaram com esta cúpida estupidez para se manterem poderosos!

Muitos acreditam que a história se repete como farsa. Será que a história da família Romanov está se repetindo no Brasil como farsa, com o assassinato físico substituído pelo assassinato político, já que os tempos são outros? Não acredito. Olavo de Carvalho não é um místico, que acredita em forças divinas, e se aproveita disto para empalmar o poder. É, apenas, um farsante que construiu sua fama em cima de pessoas cultural, filosófica e sociologicamente analfabetas, que têm orgasmos múltiplos quando vêm ‘gente fina’, como um guru autonomeado filósofo, soltar palavrões a torto e a direito, via redes insociais,  mandando tomar no c.* quem discorda dele: “O cara é do c….e*!, p…a*!”, babam eles…

Não é atoa que Bolsonaro, ecoando seu ministro da Educação, quer reduzir recursos para as áreas de Filosofia e Sociologia nas universidades… O povo precisa continuar cultural, filosófica e sociologicamente analfabeto. Rasputin era dissoluto, licencioso e devasso e gostava de orgias com mulheres da alta sociedade, mas era mais inteligente… tanto que mandou e desmandou por 02 anos, até ser assassinado, por nobres russos, em 1916.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *