Povo passivo não muda um país…

A História é sábia, porque conta uma realidade que aconteceu. Não adianta as pessoas, ocasionalmente no poder, tentarem reescrevê-la ao seu gosto, que a verdade histórica, mais cedo ou mais tarde, acaba prevalecendo. Não adianta figuras  bolsonaristas, como seus filhos, seu guru e quejandos baterem o pé no ‘esquerdismo’ de Hitler e seu partido nazista, que a História desmente, mesmo se tendo consciência que a História, geralmente, é contada pelos vencedores (e os nazi-fascistas perderam, é óbvio!)

O povão não está nem um pouco preocupado com isto. Para ele, sua missão na vida é sobreviver e botar comida em casa, o que não está nada fácil. Ler o bate boca de jovens (e nem tanto assim) pelas redes insociais, se nazismo é de esquerda ou de direita é angustiante para alguém como eu, que acha que os jovens (e nem tanto) deveriam ter aprendido alguma coisa com a História, mesmo que ela não tenha sido contada, pelos professores ou através dos filmes, reportagens e livros, na sua integral realidade.

Para quem luta por um país democrático, justo, livre, o nazismo foi e será sempre uma tragédia, o fascismo foi e será sempre uma tragédia, o comunismo foi e será sempre uma tragédia… assim como qualquer regime ditatorial, de esquerda ou de direita, ateu ou religioso. Prender, torturar, matar, desaparecer com seres humanos simplesmente porque eles não pensam como o grupo no poder, ou em nome de um deus ou de uma crença, é execrável!

Eu tenho consciência que cerca de 60% da população brasileira – hoje na faixa entre os 15 e os 50 anos, desconhecem efetivamente  o que foi a ditadura militar imposta ao Brasil por 21 anos, entre 1964 e 1985. Uma parte, os que nasceram nos últimos 40 anos não viveram aqueles tempos – alguns, no máximo, estavam no jardim de infância. Outra parte – os que estavam na faixa dos 30 anos quando a ditadura foi derrotada, passaram seus anos de aprendizagem – via escolas ou pela imprensa cúmplice – ouvindo e vendo uma história falsa do heroísmo militar lutando de peito aberto contra o comunismo pagão, com Deus, pela Pátria e pela Liberdade, enquanto os porões torturavam, matavam, desapareciam com adversários.

A gente sabe que a maioria do povo brasileiro não gosta de ler ou, lutando pela sobrevivência, não tem tempo de buscar conhecimento, além daquele que lhe garanta um trabalho e o sustento da família. O resultado disto está sendo catastrófico para o Brasil. Não apenas em relação ao governo militar-pastoral-tecnocrático que nos desgoverna mas, principalmente, com a disfarçada destruição de avanços democráticos conquistados nos últimos anos, desde a Constituição de 1988, e com a declarada aversão a qualquer manifestação popular que não seja para aplaudir, louvar e enaltecer o atual governo.

Mesmo sabendo que nosso povo é pacífico e pouco dado a demonstrações de revolta, principalmente se não for financiado por poderosos ou estimulado pela grande imprensa, o novo governo tem medo e não quer correr riscos: por determinação do ministro do Gabinete de Segurança Institucional, um general saudoso da ditadura, o ministro da Justiça e Segurança determinou o uso da Força Nacional na Esplanada dos Ministérios para controlar as manifestações populares programadas pelo povo da Floresta (o Dia do Índio foi dia 19/04) e pelos sindicatos de trabalhadores (o dia do Trabalho é dia 1°/05). Mas, para controlar dois dias ou uma semana de protestos, Sérgio Moro achou necessário autorizar o uso da Força por 33 dias…!

Sérgio Moro, aliás, é aquele mesmo paladino da Justiça que vibrava com os jovens e não tão jovens que, desconhecendo a História, vestiram camisas amarelas e bateram panelas em manifestações pelas ruas contra a corrupção, que foi, é e continuará sendo parte da natureza humana, e que gostou tanto das luzes e holofotes que a grande imprensa lhe proporcionou, que deixou a toga e, como paga pelo afastamento de Lula da eleição, ganhou – e aceitou – o Ministério da Justiça como prêmio.

Nas redes insociais ligadas à Operação Lava Jato, ele continua sendo um herói: mais do que transformar o discutível combate à corrupção (Aécio, Serra, Renan, Maias, Alkmim, Jáder, Sarney, Richa… e Queiróz, por acaso estão presos?) na quase única via para governança de um país que está entre os dez piores países do mundo em termos de distribuição de renda, ele é o protótipo da classe média brasileira, apesar de, como juiz de 1ª Instância, ter tido rendimentos e privilégios dignos de quem se encontra entre aquele 1% da população que manda e desmanda no país.

Mas, como eu disse lá em cima, tanto o povo que, por falta de tempo, não tem condições de adquirir conhecimento, quanto a classe média, não gostam de ler e aprender. Esta teria condições. Afinal, nós temos livrarias, nós temos museus, nós temos bibliotecas, nós temos sites de venda de livros e nós tínhamos tevês públicas, pagas com nossos impostos, para manter uma programação voltada para a cultura e o conhecimento. Que sempre deu 0 ponto percentual de audiência!

Eu já escrevi aqui no blog que detesto violência… qualquer tipo de violência, seja briga de meninos por causa de uma bolinha de gude (isto é da minha época, que não existe mais), seja de uma virgem vestida de bombas que se explode num mercado sírio, seja de um garoto favelado que entra num supermercado para roubar comida e mata um empregado, seja de um marido corneado por uma esposa cansada da mesmice, ou vice versa…

Mas reconheço que a ‘revolta popular’ é necessária. Conduzida ou não pelos interesses econômicos, políticos e sociais, ao longo de nossa história, Washington Luiz foi derrubado e substituído por Getúlio, Getúlio foi derrubado e substituído por Dutra e, voltando nos braços do povo, suicidou-se para, com dignidade e respeito, sair da vida e entrar para a História.

E a História continuou: Juscelino foi eleito, mas não elegeu seu sucessor, que tentou dar um golpe e foi defenestrado. Jango, o vice eleito, assumiu, derrubou o parlamentarismo que lhe foi imposto pelos militares, e foi derrubado pelos civis inconformados, que chamaram os militares para intervir… militares que gostaram do poder e mandaram os civis, “vivandeiras alvoroçadas, que vêm aos bivaques bulir com os granadeiros…”, à p… que os pariu… E tomaram conta da Viúva… E gostaram, ali permanecendo durante 21 anos.

Em todos estes episódios, o povo saiu às ruas. E a elas voltou, sempre conduzidos pelas elites e pela grande imprensa, Globo à frente, na derrubada do Collor e de Dilma. Está na hora de voltar a elas de novo. Redes insociais turbinadas por poderosos internos e externos podem transformar um personagem despreparado e faccioso em um Mito e ajudar a elegê-lo presidente, mas não irão derrubá-lo enquanto não atingirem seu objetivo. E o Brasil não vai suportar nem um ano de bolsonarismo! Acaba antes…

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *