Coitadinhos…! (I)

Há uma velha história de minha família, que é contada como homenagem aos predicados de meu avô paterno, um produtor e negociador de café do Sul de Minas. Diz esta história que quando Getúlio Vargas estava no poder como ditador (1930/1945), por causa do grande estoque de café, principal produto da pauta de exportação do país, ele mandou queimar a produção de um determinado ano, para que os preços do café não caíssem no mercado externo (a famosa lei da oferta e da procura), o que prejudicaria nossa balança comercial.

Meu avô, como todos os cafeicultores e produtores rurais do país, tinha sua produção penhorada junto ao Banco do Brasil, ou seja, financiava, com juros subsidiados, a produção, financiamento este que seria quitado com a venda do café, principalmente no mercado externo. Queimada a produção, não havia café para vender, e não se vendendo, não havia dinheiro para pagar o financiamento e requerer um novo empréstimo do Banco do Brasil para garantir a safra do ano seguinte.

Pois bem! Meu avô, como tantos fazendeiros então, teve suas fazendas hipotecadas mas, enquanto seus companheiros de infortúnio se descabelavam, maldiziam o governo e vendiam outros bens para tentar garantir o financiamento futuro, ele passeava pela cidade com seus melhores terno e chapéu, fumando charutos e arrotando uma riqueza que, na verdade, não existia… Mas que o banco (ou seu gerente) acreditou que existia, abrindo-lhe as portas para novos financiamentos, mesmo com as fazendas hipotecadas (a realidade não foi bem assim, mas lendas familiares tem mais valor que a realidade, não é?)

Eu me lembrei desta história familiar ao ler que a atual ministra da Agricultura, uma lídima filha de tradicional família rural, que passou anos e anos agarrada às tetas governamentais, está preocupada com as medidas que vem sendo anunciadas pelo seu companheiro de Ministério, o da Economia, Paulo Guedes.

Ao que tudo indica, e como sempre, o agronegócio não quer saber de redução de oferta de crédito subsidiado para o setor rural. E, por isto, a ministra, Tereza Cristina, declara que o “desmame” radical dos subsídios, proposto pela equipe econômica, pode desorganizar o agronegócio, que responde por 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Chamo a atenção para a palavra usada por Sua Excelência: ‘desmame’. Esta tchurma acha que mamar nas tetas do Estado é um direito exclusivo dela! Já achava assim muito antes do meu avô!

Quantas e quantas vezes vocês ouviram falar na renegociação das dívidas do agronegócio aprovadas pelo Congresso? A última vez foi em outubro de 2018, quando os senadores, após aprovação da Câmara, também aprovaram uma Medida Provisória permitindo ao Governo Temer renegociar as dívidas dos produtores rurais, mesmo considerando o impacto que isto provocaria no Tesouro Nacional: R$5,3 bilhões!

Quantas e quantas vezes vocês ouviram falar de super safras, do alto valor das ‘commodities’ agrícolas, do crescimento espetacular  do Brasil como exportador de proteína animal e, em consequência, da explosão de negócios nas cidades do interior do Sul, Sudeste e Centro Oeste, polos da produção agropecuária do país, exuberantes em seu comércio de carros de luxo, de mansões espetaculares e de transações bilionárias?

Eu passei boa parte da minha vida ouvindo e vendo este mundo de barões da terra, que nunca se fartou de uma riqueza histórica, que nunca se preocupou em pagar fiel e justamente o dinheiro tomado dos cofres públicos e que sempre meteu o pau no governo, qualquer governo!

Meu segundo emprego formal, com carteira assinada, foi na Caixa Econômica de Minas Gerais, nos fins dos anos 60, quando entrei para o Curso de Jornalismo e só podia trabalhar meio expediente. Estudava de manhã, saía correndo da faculdade e, às 12h30 batia ponto no setor agropecuário da Caixa (como universitário, eu tinha 30 minutos de tolerância). E lá ficava até às 18 horas datilografando Cédulas Pignoratícias Rurais… (continua)

 

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