O brasileiro no poder, enfim! (I/III)

Boa parte da minha geração, secundaristas e universitários que passaram a década de 70 e metade das décadas de 60 e 80 lutando contra a ditadura militar tiveram, pelo menos, duas imensas alegrias nestes últimos 30 anos: as eleições, para a Presidência da República, em 1985, de Tancredo Neves, e em 2002, de Luiz Inácio Lula da Silva.

Tancredo, eleito indiretamente pelo Congresso, morreu antes de assumir, e seu vice, José Sarney, o poderoso ‘coronel’ maranhense, que apoiara a ditadura até seus estertores, quando pulou do barco, não enterrou totalmente os sonhos de liberdade, de uma sociedade mais justa e menos desigual pela qual tanto brigamos. Não seguiu em frente, enfim… apenas estacionou, mantendo tudo como era dantes nos quartéis infantes: o poder econômico e seus prepostos políticos preservando seus interesses e o povão trabalhando muito para manter empregos e salários. Aos trancos e barrancos, porém, a democracia avançou. Pelo menos…

Lula, o operário, sindicalista, sem grau de doutor, o lídimo representante do povão que vinha tentando chegar à Presidência há 12 anos, conseguiu envergar a faixa (com 53 milhões de votos no 2º turno). Teve que amenizar, através de uma Carta aos Brasileiros, muitas das posições radicais que, dizia o inefável mercado, ele e seus petistas tinham e, mais do que isto, teve que moderar e compor com os poderosos de sempre, garantindo-lhes os favores e regalias de sempre, em troca da aprovação de programas sociais que beneficiassem o povão.

Os números de seus dois governos, mais o primeiro de Dilma Roussef, que ele elegeu, são significativos em termos de avanço social para o país: em 2016, quando a presidenta foi impinchada, a revista inglesa BBC, em sua edição brasileira, “procurou especialistas e levantou indicadores internacionais para entender o legado dos 13 anos de governo de PT”, fazendo uma reportagem que apontou coisas como estas:

– IDH e combate à pobreza: “A nota do Brasil no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU, que era de 0,649 no início dos anos 2000, chegou a 0,755 hoje (em 2016), o que indica uma melhora.” O IDH levanta indicadores como a esperança de vida ao nascer, a expectativa de anos de estudo e a renda per capita e apontou que o Bolsa Família é uma espécie de modelo de programa social bem-sucedido. “Desde que o programa foi lançado, 5 milhões de brasileiros deixaram a extrema pobreza. E por volta de 2009, o programa havia reduzido a taxa de pobreza em 8 pontos percentuais. Também é destacado o aumento da escolaridade no país e avanços no combate a miséria

– Gini – Desigualdade (o Gini é um indicador que mede desigualdade de renda e onde 0 representa total igualdade): “em 2014, um relatório da ONU sobre o tema também registrou uma queda significativa da desigualdade no Brasil na última década, com o Gini passando, nos cálculos das Nações Unidas, de 54,2 para 45,9. Na época, a ONU destacou o efeito sobre a desigualdade do aumento real do salário mínimo – de 80% entre 2003 e 2010 – e dos esforços para a formalização do mercado de trabalho brasileiro, além dos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família.

– PISA – avaliação educacional: o Programa Internacional de Avaliação de Alunos testa e compara o resultado de sistemas educacionais no mundo por meio de uma série de testes aplicados a estudantes. Em 2000, primeiro ano em que o Brasil participou do PISA ele ficou em último lugar entre 32 nações; com mais que o dobro dos estudantes e países avaliados em 2013, o Brasil tinha melhorado um pouquinho: 55º no ranking de leitura, 58º no de matemática e 60º no de ciências. Segundo um especialista, “é natural que a melhora tenha sido lenta porque a grande conquista do país nos últimos anos foi na questão da “cobertura do sistema“, ou seja, no acesso à escola e universidades” (construção de escolas técnicas, Prouni, Fies, Ciência sem Fronteiras).

– Apesar do significativo investimento no social, o Brasil não deixou de crescer e se desenvolver economicamente, desmentindo as desculpas usadas por economistas e financistas desde o século passado que sempre priorizaram políticas voltadas para os mais abonados (na ditadura, Delfim Neto costumava dizer que ‘era preciso deixar o bolo crescer para depois distribuir as riquezas’). Em 2002, o Brasil era o 13º país no ranking global de economias medido pelo PIB em dólar, segundo dados do Banco Mundial e FMI. Chegou a ser o 6º em 2011, mas em 2018 já estacionara em 9º, basicamente pela desvalorização do real em relação ao dólar.

(continua amanhã)

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