Brasil Nunca Mais (I/IV)

Eu tenho hoje, duas alegrias diárias: escrever este blog e entrar no Facebook para ver a permanência, quem sabe o aumento do número de leitores do blog, e os comentários que alguns fazem que, por enquanto, espero, ainda são poucos. Quando aparece alguém que não conheço comentando alguma coisa, concordando ou discordando de alguma posição que tomei em relação à política ou à própria vida, a alegria torna-se mais intensa, porque o que eu escrevi impactou alguém, positiva ou negativamente. E isto, para quem ainda quer ser escritor, é vital!

Nestes dias, porém, a discordância de um leitor do blog, via Facebook, me despertou para algo a que eu ainda não tinha dado a devida importância: como as pessoas das gerações seguintes a minha desconhecem o que é uma ditadura. Eu vivi… mais do que isto, eu me tornei gente sob uma ditadura militar. Eu tinha 16 anos em 1964, quando o general Mourão botou os tanques na BR-3 a caminho do Rio, e tinha 37 anos e duas filhas, em 1985, quando Figueiredo saiu pela garagem do Palácio do Planalto para não entregar o governo ao vice-presidente eleito indiretamente, José Sarney.

Como estudante secundarista (De ‘ortoridades’ e autoridades I) e universitário, mesmo sem ter coragem para entrar no confronto armado e desproporcional entre governo e ‘revolucionários’ (eu sempre abominei a violência), eu participei de atos e fatos que mostravam, claramente, de onde partia a violência real e quem abusava de ‘prerrogativas legais’ para justificar atos ilegais e repulsivos.

Que justificativa legal ou moral poderiam ter os dirigentes de um ginásio público para pedir a prisão de alunos porque queriam fazer um show do Bituca no auditório do colégio? Que justificativa legal ou moral poderiam ter policiais civis para ‘apreender’ ginasianos, mantê-los de pé defronte à parede de um corredor, toda hora passando a mão na bunda dos garotos e nos peitos e coxas das garotas? Que justificativa legal ou moral poderia ter o diretor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG para proibir a Marília (minha futura primeira mulher) de tocar piano (que tinha sido arrestado pelo DOPS e a gente conseguira reaver na abertura do Diretório Acadêmico) de tocá-lo fora do horário de aulas (e ele proibiu algumas vezes, sob pena de fechar o DA novamente, se fosse desobedecido).

Estas figuras intolerantes e sem caráter se sujeitavam a cumprir atos sem justificativas legais ou morais apenas porque tinham o direito que lhes era outorgado pela ditadura, que se resume numa única frase: “Aqui quem manda sou eu!” Uma frase, aliás, que voltou a circular com intensidade nos dias de hoje, não mais por agentes policiais, militares ou burocratas servis, mas por procuradores, agentes da polícia e da Justiça e outros burocratas servis, que estes existem em qualquer governo, ditatorial ou democrático.

Lendo um texto meu no blog (De novo, não!), em que cito um general reformado com quem encontro vez ou outra em reuniões, e com quem travo debates sobre os tempos sombrios da ditadura, este leitor contesta minha posição com um comentário que ilustra bem a capacidade que algumas pessoas tem (o que é muito comum nas redes sociais hoje) de ler um texto e já tomar uma posição, favorável ou contrária, apenas pelo tema abordado. Vejam só: Mais um cabecinha de vento que baseou seu texto, como ele mesmo diz, em pesquisa rápida no google. Só de falar em Golpe de 1964, Golpe contra Dilma e 21 anos de ditadura violentando a vida dos brasileiros eu já sei que esse não sabe é de P*®®@ nenhuma.”

     

Só para me contrapor à superficialidade do leitor, repito o texto que escrevi, sobre “meu pé atrás”, desde a infância “com a vida militar”, em razão de meu espírito libertário, pouco afeito a ordens emanadas por alguém, seja um deus, seja meu pai, seja um professor, que diz simplesmente “eu estou mandando! Obedeça e pronto!”, vez que nunca aceitei, e nunca concordarei “com a obediência cega, com o pensamento padrão, com a falta de questionamentos, como se a vida fosse um plano reto, sem cantos, sem curvas, sem sombras… tudo devidamente no lugar estabelecido pelo senhor, sim senhor!” (Nada a ver com Google, não é mesmo?)

Daí, eu vou mais fundo na defesa de uma postura democrática entre as pessoas, onde os pensamentos divergentes possam ser discutidos e postulados por todos e qualquer um: “Eu acho que todo mundo tem direito de externar e defender suas ideias… Aceito até discutir opiniões racistas ou xenófobas ou machistas ou, até mesmo, fascistas. Só não admito ideias que preguem a violência como forma de impor tais ideias, que é uma característica do nazi-fascismo e de vertentes do comunismo e, claro, de alguns jovens perdidos, como os skin heads e os kataguiri’s boys, ou como os “corajosos” rancheiros do sul do país, que gostam de dar tiros em caravanas de ônibus e acampamentos populares.”

                Neste contexto, eu cito o Google, para lembrar que, hoje em dia, basta um clique nele, no próprio celular, para se buscar qualquer informação que se deseja, algo simples que qualquer pessoa que queira realmente conhecer uma verdade, possa se inteirar de todas as faces desta verdade, ou da maioria delas, de modo que ela própria, por vontade própria e não pelo que ouviu dizer ou pelo que disse “a sua gente”, se sinta em condições de tomar sua própria posição.

Pois o meu jovem contestador  – eu não o conheço mas, pela foto e pela linguagem agressiva, certamente é jovem ainda, provavelmente seguidor de algum dos vários grupos jovens que não viveram a ditadura e acham que governar é igual tocar uma boiada, basta chicote e berrante – diz que o texto que escrevi foi baseado numa pesquisa rápida no Google, finalizando com um mantra destes grupos: o “cabecinha de vento… não sabe de P*®®@ nenhuma.” (continua)

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