Suas Excrescências

Com declarações de amor à Deus, família e propriedade, 367 deputados federais votaram pela admissibilidade do impeachment da presidenta. Figuras ilustres do cenário polítiDeus, família e propriedade 1co nDeus, família e propriedade 3acional se uniram a desconhecidas personalidades de nomes estranhos – Cabuçu,  Salame, Chapadinha, GaDeus, família e propriedade 2guim,  Fufuca, Marreca, Maniçoba, Carimbão, Cajado, Aro, Serfiotis, Mudalem, Tampinha, Mofatto, Sperafico, Boeira – representando inúmeras comunidades do Brasil profundo, para admitir solenemente  que  Dilma Roussef cometeu crime de responsabilidade fiscal e, por isso, merece perder um mandato que recebeu de 54 milhões de brasileiros.

Isto se torna um acinte, quando se sabe que de um total de 513 deputados federais, apenas 36 foram eleitos por votos dados efetivamente para eles, ou seja, 477 excelências, ou  93%, não tiveram votos próprios suficientes para se elegerem mas, mesmo assim, assumiram suas cadeiras. Isto acontece porque o sistema eleitoral brasileiro permite que um candidato que não atinja o quociente eleitoral, estabelecido de acordo com o número de eleitores e de vagas na Câmara por Estado, receba os votos excedentes dados a companheiros de coligação que atingiram o índtiririca 1ice, receba votos dados à legenda a qual ele se filia e receba os votos dos candidatos da coligação que tiveram pior desempenho. Assim, um campeão de votos como o palhaço Tiririca, estrela da televisão brasileira, que obteve 1,3 milhão de votos, se elegeu e levou, para a Câmara Federal, mais três parceiros de coligação.

Trata-se de uma verdade dolorosa para quem acredita na democracia. Ou, pelo menos, de um alerta para que o povo deste país acorde de sua inapetência para a política e comece a exigir uma nova forma de democracia, que realmente represente a sua vontade.

Há 14 anos atrás, nas eleições de 2002, esta excrescência democráticaenéias já era motivo de piada na imprensa internacional:  Enéias, do PRONA, teve 1,55 milhão de votos para deputado federal, levando, com ele, Amauri  Vasques, com pouco mais de 18 mil votos, Irapuan Teixeira, com menos de 700 votos, um candidato de nome Elimar, com 478 sufrágios e mais duas outras figuras desconhecidas, que permaneceram desconhecidas nos 04 anos de mandato e retornaram ao anonimato quando ele se encerrou. Á época, falou-se muito na necessidade de alterações profundas na legislação eleitoral mas, três legislaturas depois, suas excelências não tomaram quaisquer providências.

O fato é que não dá mais para conviver com figuras ilustres como Eduardo Cunha, o todo poderoso diretor do espetáculo circense (com mil perdões, senhores palhaços, equilibristas, malabaristas e trapezistas de verdade), que, por 10 votos a 0, teve aberto seu processo criminal no STF, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.  cunha 1 Ou como Paulo Pereira da Silva, o grosseiro Paulinho da Força, cão de guarda do presidente da Câmara e que ombreia com ele em  safadagens, com três condenações por improbidade e promoção pessoal e respondendo a ação penal no STF por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, e a quatro ações civis públicas.

cunhalixopaulinho

 

Não dá mais para conviver com figuras abjetas como o notório pastor Marcos Feliciano, que responde a um inquérito no STF por contratação de pastores da igreja para o gabinete, uma ação civil pública por injúria, difamação e incitação ao ódio e uma reprovação de contas eleitorais pelo TRE-SP. E que é capaz de dizer coisas como: “É a última vez que eu falo. Samuel de Souza doou o cartão, mas não doou a senha. Aí não vale. Depois vai pedir o milagre para Deus e Deus não vai dar. E vai falar que Deus é ruim.”

marco feliciano 2

 Nem como o perigoso Jair Bolsonaro, uma imitação barata de Reinhard Heydrich, um nazistóide capaz de, ao votar pelo impeachment, homenagear  Deus e um torturador responsabilizado por participar pessoalmente da morte e da

bolsonaro 1ustra 2criação de artifícios para o “desaparecimento” de dezenas de presos políticos e por 47 homicídios e seqüestros durante a ditadura militar.

Enfim, não dá mais para conviver com figuras medíocres que, numa sessão em que se vota por admitir ou não o impeachment de um presidente da República, são capazes de estufar o peito e berrar seu voto em nome do aniversário da neta ou de Bruno e Felipe ou dos maçons do Brasil ou dos produtores rurais, porque se eles não plantarem não haverá almoço nem janta, ou contra a proposta de mudança de sexo de crianças em idade escolar,  ou em lembrança ao pai, Roberto Jefferson, ou contra a ditadura bolivariana…

Cadeira do dragão, um dos instrumentos usados para tortura por Ustra

Cadeira do dragão, um dos instrumentos            usados  para tortura por Ustra

Com figuras ordinárias que votam não no objeto da sessão, mas para acabar com as vantagens de ser desempregado ou vagabundo, pela Congregação Quadrangular, pelos velhos e as crianças, pelo fim da dependência do Bolsa Família, pela mãe Lucimar, pela Renovação Carismática, pelos médicos brasileiros, para acabar com a CUT e seus líderes, pela República de Curitiba, em memória do pai, por Campo Grande, a morena mais adorada do Brasil, pelo controle das armas, porque comunismo é o que ameaça este País, para o povo pioneiro e sem medo de Rondônia, pela BR 429, por todos os corretores de seguros, para a filha Manoela,  que ainda vai nascer, para a mãe de 93 anos de idade que está em casa, em homenagem ao fundador da sua cidade, pela paz em Jerusabandeira de minaslém, para o melhor estado, Tocantins,  pela mãe, que está lutando pela sua vida, para que a gente não se torne vermelho como a Venezuela e a Coréia do Norte, pela honra da bandeira de Minas Gerais…

Com figuras insignificantes que não medem a importância de seu voto e o dedicam para o filho Breno e a amada Polícia Militar de São Paulo, aos militares que assumiram o poder em 1964, ao pai de 78 anos que lhe ensinou a palavra de Deus, para Sandra, Érica, Vitor, Jorge e o neto que vai nascer,  para o estado de São Paulo, governado nos últimos 20 anos pelos políticos honestos de seu partido, para a mulher e filha, seu melhor eleitorado,  às filhas, sua maior riqueza, para dar um fim aos coronéis, para os soldados das Forças Armadas, que agora são aposentados sem salário, para os sem teto, que dormem na rua, nascem na rua, morrem na rua, para que o governo defenda outra vez a nação de Israel,  à mulher, Mariana, e à pequena filha, Mariana, aos caminhoneiros, à Canção Nova e aos brasileiros dependentes de drogas,  à sua tia Eurides, que cuidou dela quando era pequena, a você, mãe, às tradições libertárias de Minas Gerais, ao hospital do câncer, em tributo às vitimas da BR 251…!

Aí, vêem os comentaristas do lugar comum, os analistas de mesa de bar, os sociólogos de certezas absolutas e decretam:  mas, os deputados são um retrato fiel do povo que o elegeu… Se são medíocres, ordinários, insignificantes, é porque o povo brasileiro é medíocre, ordinário e insignificante ou, então, como disse o grande herói nacional, Pelé, “não sabe votar!”

Não são não, meus amigos. Deputados e políticos em geral são um retrato fiel dos interesses que bancaram suas eleições… Bancos, financeiras, empreiteiras, indústria e comércio, laboratórios farmacêuticos, conglomerados educacionais, empresas e produtores rurais, sindicatos patronais e de empregados, associações de classe e corporações investem pesado para botar seus indicados nos legislativos e executivos do país. Se são medíocres ou ordinários ou insignificantes, não interessa… desde que lutem, com unhas e dentes, para defender seus interesses.

Não foi à toa que Sua Excelência, o ministro Gilmar Mendes, sentou em cima do processo, já aprovado pelo STFgilmar mendes 3,que proibiu o financiamento eleitoral pelos poderes econômicos. O verborrágico ministro, muito mais que um juiz da Suprema Corte, é um político, como todos aqueles, com as honrosas exceções de praxe, que votaram em nome de Deus, da família e da propriedade. O Brasil? Ora, o Brasil não vem ao caso…

 

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