Diário de tempos mortos* – 16/09/2020

Viver é nebuloso, escrever é preciso…

            Por determinação médica, eu preciso reduzir o esforço diário que exijo dos meus olhos na leitura de jornais e sites em busca de notícias para transformá-las nos pitacos que posto no Twitter e nos grupos sociais de que participo, certamente o maior prazer que eu tenho na vida aposentada e pandêmica que vivo hoje.

Desde a última consulta que fiz ao oftalmologista, passando por dois aparelhos ultramodernos de verificação da capacidade ótica de cada uma das vistas,  eu estava avisado que, além da perda total da visão esquerda, a perda da visão direita seria progressiva. Quem me acompanha neste blog, sabe que eu tive descolamento de retina na primeira, demorei pra tentar recuperá-la e efetivamente não a recuperei após cinco operações. E que, além de grossa miopia desde a infância, eu tenho uma doença hereditária no olho direito, que reduz paulatinamente a visão no correr da vida.

O ser humano tem o dom de se acostumar a tudo. Conviver com minha visão deficiente é algo que aprendi desde que a última operação de retina não deu certo. Aos poucos, parei de fazer palavras cruzadas no banheiro, parei de comprar e ler jornais, revistas e livros, parei de dirigir à noite, parei de dirigir na cidade… Mas, permaneci fiel às leituras e escrituras no computador, que dotei de uma tevê de 32 polegadas pra servir de monitor. E assim vivo sem maiores angústias há, pelo menos, 02 anos.

Nestas duas últimas semanas, porém, eu senti que a vista direita estava falhando. Esclareço: mesmo tendo só a visão direita, eu poderia fazer exame de vista pra renovar a carteira de motorista. Na primeira renovação, há 04 anos, eu passei (o examinador era amigo do meu oftalmologista, acreditou na minha responsabilidade de não dirigir à noite ou em áreas movimentadas), mas nem tentei renovar ano passado: não conseguiria ler as letras naquele quadro de 05 letras à distância, pois as 02 do meio se embaralham… A falha que notei agora é que todas as letras, e não apenas as do meio, nos textos que escrevia nos posts estavam se embaralhando cada vez mais.

Liguei pro oftalmologista e ele foi categórico: reduza o consumo de televisão e computador ao mínimo. Eu argumentei que televisão tudo bem, mas parar de ler e escrever seria antecipar a morte. E ele concedeu: escreva menos, então, use zoom pra leitura e escritura e evite ler e escrever em plataformas em que a ampliação é limitada, como no celular.

Eu já escrevi diversas vezes que quando eu começo a escrever, é difícil parar. Por isso, escrevi tanto pra dizer algo bem simples: seguindo determinações médicas e visando preservar minha saúde mental,  a partir de amanhã, escreverei só no blog e no Twitter. Nas demais redes, publicarei apenas o link para o blog toda vez que publicar algo e, vez ou outra, farei comentários sobre os posts dos outros. O vital, para mim, é que eu continuarei escrevendo… enquanto for possível. Agradeço a compreensão dos que me seguiram até hoje, e espero que continuem me lendo pelo blog.

 

 

*Retomo um hábito da minha juventude: escrever um diário, que nunca mostrei pra ninguém (porque diários eram escritos apenas pelas meninas) e que, infelizmente, se perdeu entre as muitas mudanças que fiz pela vida.  Naqueles anos sombrios, o diário era político (outra razão para permanecer oculto), hoje não o será necessariamente, pois a esta altura da vida, não tenho motivos para mentir nem mesmo para mim próprio. E também, não será necessariamente diário…

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