Jair (Sobre José, de Carlos Dummond de Andrade)

E agora… Já vai?

A festa acabando,

a luz apagando,

o povo sumindo,

a noite esfriando,

e agora…  Já vai?

É agora, não é?

Você que é um Mito,

que zomba dos outros,

que faz arminha,

que xinga, molesta,

E agora… Já vai?

Está sem querer,

num único discurso,

está sem caminho.

Já nem pode calar

quem muito pergunta,

mentir já não pode.

A noite esfriando,

O Maia não vindo,

Tóffoli não veio,

só generais ainda vê,

e não vê a pandemia,

e tudo acabando

e tudo fugindo

e tudo mofando…

E agora… Já vai?

E agora… Já vai?

Sua verborragia,

seu instante de sorte,

sua gula da morte,

sua quadriteca,

seu garimpo sem sorte,

seu terno de vidro,

sua incompetência,

seu ódio – e agora?

Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer pescando,

mas o mar secou;

quer ir pro Rio,

pra seus milicianos.

Jair… e agora?

Se você gritasse,

se você gemesse,

se você cantasse

seus sertanejos,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse…

Mas você não morre,

você é duro, não é?

Sozinho no escuro

Qual bicho-do-mato,

sem fantasia,

sem gente na rua

pra te agradar,

sem motocicleta

que fuja roncando,

você marcha, Jair!

Jair, para onde?

 

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