Diógenes e sua lamparina inútil (I)

Todo mundo que passou pelos bancos escolares e teve aulas de História Geral, tomou conhecimento dos filósofos gregos. Sócrates, Platão e Aristóteles, principalmente, têm grande influência na cultura ocidental, mas existiram muitos outros, inclusive um, Diógenes, o Cínico, que passou à história por duas características específicas (seja lenda ou não): ele morava num barril no meio da rua e saia pelas ruas de Atenas com uma lamparina, à procura de um homem honesto.

Esta imagem de Diógenes tem tudo a ver com seu ideal cínico de autossuficiência: a vida tinha que ser natural, não se prendendo às comodidades oferecidas pela sociedade, vez que a virtude do homem estava em como ele agia e não em como ele teorizava. Ou seja, ele se desprendia de bens e valores materiais para demonstrar que para se viver bem não era necessário tolerar uma sociedade corrupta.

Evidentemente, sua filosofia de vida se perdeu no tempo. As sociedades, claro, entre guerras e epidemias, tragédias e renascimentos, evoluíram para um tipo de organização humana onde, apesar de continuar imperando a lei do mais forte (o mais rico, atualmente), a convivência é menos caótica. Mas a corrupção combatida por Diógenes continua viva e forte, uma prova inequívoca que o ser humano é absolutamente leal à sua natureza. Estão aí os Jefersons e Felicianos que não me deixam mentir…

Fico imaginando se Diógenes vivesse hoje num país tropical ao sul do Equador. Provavelmente seu barril estaria instalado sob um viaduto na Cracolândia de São Paulo e, toda vez que ele saísse pelas ruas balançando sua lamparina à procura de um homem honesto, além de ser ofendido ‘por estar procurando homem’, o barril seria desmanchado pra alimentar fogueiras que esquentassem os demais moradores de rua da região durante as frias noites paulistanas.

Quando viveu Diógenes, Atenas era uma cidade estado,  assim como Corinto, pra onde ele foi e morreu, sempre procurando um homem honesto (a História não diz, aliás, se ele encontrou algum). E é claro que não existem mais cidades estado (algumas, talvez: Mônaco, San Marino, Lischteinstein, Andorra e algumas ilhas que sobrevivem como paraísos fiscais, a base legal da corrupção moderna),

Existem países, mais ou menos livres, no momento subordinados a duas potências econômicas: Estados Unidos, em decadência, e China, em ascendência… até o surgimento do coronavírus. Lógico: União Européia e Rússia ainda são peças importantes no xadrez político mundial, mas a pergunta que precisa ser respondida hoje, urgentemente, é quem vai sobreviver economicamente, após a pandemia?

Volto a Diógenes. Em sua busca, seguindo os passos de Kim Kataguiri (sem mostrar a bunda) faz uma caravana solitária até Brasília, sempre balançando sua lamparina, pois há um zum zum zum danado pela cidade sobre o homem honesto que governa o país. E lá chega exatamente no dia em que um dos pilares de sustentação do governo convoca uma entrevista de imprensa para demitir-se do cargo de ministro da Justiça e Segurança.

Diógenes fica perplexo: o juiz impoluto que combateu a corrupção endêmica do Brasil, prendendo políticos, empresários e até um ex presidente da República, se demitindo de um governo que fora eleito exatamente porque seu líder prometera acabar com a velha política do toma lá dá cá, base desta corrupção? E chamando este líder de corrupto? Exatamente quando ele pensara que, enfim, iria encerrar sua busca? (termina sexta)

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