Depois que a ‘gripinha’ passou (I)

Eu estava em Nova Iorque quando a ‘gripezinha’ se mostrou uma pandemia. Muita gente já tinha morrido na província de Wuhan, berço do novo vírus, mas era na China, quem se importa com isto? Há tanto chinês na China que 20 mil a mais ou a menos não faz qualquer diferença… E a China é um país comunista… o governo isola a cidade, isola a província, ninguém entra, ninguém sai e ninguém fala nada, é tudo comunista mesmo…

Fiquei 05 dias na capital do mundo… que já começava a se fechar para este mundo. E fui pra Washington encontrar filhas e netos. Na viagem de ônibus, fiquei contrapondo, durante um bom tempo, a emoção de relembrar Simon e Garfunkel cantando o amor e a paz no Central Park e uma barreira policial que impediu nossa saída dele para uma estação do metrô. E minha filha concordou comigo que a conclusão da aventura, que teria mais uns 15 dias, tinha que ser abreviada: o mundo todo estava se contaminando, não era só chinês comunista mais. E voltar pra casa era preciso, já que ficar com filhas e netos – e morrer entre elas e eles, pois eu faço parte do grupo de risco da virose – mesmo sendo reconfortante pra mim, poderia ser muito perigoso pra todos.

Chegamos em casa numa 3ª feira à meia noite. E senti o caos que estava por vir. Apesar dos anúncios de verificação dos passageiros chegantes do Exterior, nada havia no aeroporto, nem aparelhos para testar febre, nem alfândega, nem gente. E ainda não havia sido decretado o isolamento social, a política recomendada pela OMS para tentar reduzir o contágio da doença, que já transformara a Europa no epicentro da pandemia.

Nos dias seguintes, ainda não sei qual foi a pandemia pior, o vírus ou o governo do Mito, eleito por 57 milhões de brasileiros, boa parte deles ainda iludidos com a figura do falso herói que derrotou a corrupção e o comunismo pagão, disseminada por robôs pelas redes sociais.  Fato é que, como aconteceu em dezenas de países mundo afora, e mesmo com o isolamento tendo amenizado a expansão e os estragos provocados pela pandemia, milhares de brasileiros, principalmente velhos como eu, foram conversar com Deus ou o Diabo mais cedo que pretendiam.

Principalmente, eu disse, porque centenas que acreditaram em prédicas pastorais não ficaram em casa e continuaram frequentando cultos em contrita oração a Deus também tomaram o mesmo rumo, mesmo lavando as mãos, não coçando o rosto e evitando cumprimentar e abraçar os irmãos em Cristo.

Até que o horror não durou muito tempo. Também como em outros países, a começar pela China (que, para desconsolo de olavistas ainda na rede, continua tendo mais de um bilhão de comunistas), em menos de dois meses, o Brasil conseguiu reduzir a pandemia a níveis suportáveis, recompondo seu sistema de saúde e tornando possível enfrentar os demais problemas, fossem os pré existentes, como a dengue, fossem os provocados pelas quase nulas medidas de adequação econômica exaradas pelo governo, fossem as causadas pela justa desobediência civil ao Mito que explodiu país adentro, depois de algum tempo

Ele já não enche mais o nosso saco… Nem ele, nem seu ministério de loucos e ineptos, nem seus filhos numerados. Os quatro foram devidamente cassados politicamente, em sessões históricas do Congresso e da Câmara do Rio, todas virtuais e absolutamente sérias e comportadas: não apareceu nenhum parlamentar a gritar ‘pelos meus filhos e netos, pela minha cachorra Purple’ ou coisas tais. As decisões foram rápidas, encurtados todos os ritos determinados pela Constituição, assim que seus fanáticos apoiadores desapareceram das ruas e das redes sociais. O 02 e o chamado gabinete do ódio ainda tentaram resistir, mas empresários amigos pararam de bancar os robôs e perfis fakes e a grande massa bolsonarista evaporou.

No momento, o clã corre o risco de ser preso, sendo que os advogados do Mito entraram com um pedido no STF para que ele seja declarado inimputável, por sofrer distúrbios mentais, ainda não julgado pelos ministros. Como a roleta do STF tornou o ministro Fux como relator, há fortes chances do pedido ser acatado. A grande Imprensa já especula onde ele será internado… e por quanto tempo. E vizinhos seus no Vivendas da Barra fazem passeata pedindo pra Justiça não permitir internamento residencial.

Infelizmente, porém, a situação ainda está muito ruim. As 28 medidas econômicas lançadas pelo ministro da Economia e seus tecno-burocratas de prancheta e escrivaninha foram ineficientes e incapazes de segurar a peteca da população em geral. Mesmo banqueiros, financistas e adoradores das bolas de ouro do touro de Wall Street andaram amargando prejuízos. Nada que os nivelasse à classe média brasileira, mas o suficiente para voltarem a trabalhar diariamente em seus escritórios, um olho na Bovespa, que está descontrolada, e outro no fluxo de caixa próprio, quase vazio, todos tentando responder uma única questão: como fazer o mercado interno se expandir, já que o mercado externo está paralisado, cada país cuidando do seu próprio umbigo.

Daí que o dono da Riachuelo, por exemplo, com entusiasmado apoio do famoso Véi da Havan, está propondo a expansão do Bolsa Família, com o governo pagando 01 salário mínimo para todos os trabalhadores, formais ou informais, com renda inferior a 03 salários mínimos. Já o CEO do Carrefour quer que o governo, além de comprar produtos in natura de pequenos produtores assentados, passe a comprar produtos industrializados dos supermercados para formar uma cesta básica padrão, a ser distribuída aos mesmos trabalhadores formais e informais propostos pelo dono da Riachuelo.

Segundo Miriam Leitão apurou com seus informantes da FIESP, megaempresários e CEO’s de multinacionais estão conversando intensamente com militares de todos os matizes bélicos e políticos, para o governo emergencial do general Mourão substituir o Ministro Interno da Economia, general Stumpf Trindade, pelo economista brazo-americano Armínio Fraga, considerado o pai do Programa de Renda Mínima (aquele que o velho Suplicy, ex-marido da Marta e pai do Supla, passou anos defendendo em ruas e salões, sempre cantando Blowin’ in the Wind). Segundo Miriam, as conversas estão bem encaminhadas. (continua amanhã)

  1. A ideia era postar uma apresentação do próprio Suplicy, mas, com perdão do Senador, não dá… prefiro Peter, Paul & Mary. É mais salutar…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *