Um espaço para a poesia

Nota necessária: a realidade do país está sufocante. O ódio toma conta de tudo, a violência e o medo levam pessoas e instituições a se acovardarem e se desrespeitarem publica e virtualmente. As poucas vozes serenas e apaziguadoras são mergulhadas em desaforos, xingamentos e no esgoto proveniente dos mais baixos instintos humanos. Já passamos por isto, por tempos sombrios, mas havia esperança. O Brasil está precisando urgentemente de poetas que cantem o amor, a vida e a esperança.

Aritmética da vida

No princípio, era eu e mais uma.

                Que viraram eu e mais três…

Podia ser mais um ou duas talvez, mas uma não quis,

já se sentia completa, feliz!.

E a vida seguiu repleta, bem reta,

com curvas, mas sem atropelos,

até um descruzamento fatal…

Não houve apelos, e três voaram pra longe

e, depois, pra mais longe ainda!

Um mais um não dão caldo,

Um mais vinte é uma esbórnia infinda…

Um mais uma é que funciona bem!

O problema é achar esta uma: haverá quem?

Houve! E, de novo, com esperança e fé,

era eu e mais uma.Pois não é?

Que viraram eu e mais três

e que, por curto espaço de tempo, viraram eu e mais quatro.

Um erro dos deuses, talvez,

Que quis manter só eu e mais três!

Quase trinta anos se foram…

De nova vida completa, repleta, feliz…

Também com curvas, com atropelos,

com caras feias, com muxoxos,

pecados veniais, sem maiores complicações,

convertidos em rápidas reconciliações.

E a vida segue seu ciclo inevitável.

O destino é inexorável, sem contemplações,

e mais duas voam: vão viver suas vidas,

uma pra longe, outra pra sua vida particular,

trabalhar, casar, gerar…

E o princípio volta ao princípio: eu e mais uma!

É claro que a vida não é estática… é errática.

E, às vezes, fica parada em algum momento

e, sem movimento, paralisada, vira rotina,

todo dia fica igual ao dia anterior,

e o dia anteior igual ao dia anterior…

Uma vida sem perspectiva, antipática,

sem aventura, uma gastura sem calor.

E uma, cansada da mesmice, também voa.

E a vida, no fim da vida, volta ao antes do princípio: um!

Claro: o um mais uma virou sete

e o outro um mais uma virou cinco,

com possibilidades de somar mais.

Pensando bem, aliás, não há porque reclamar:

a aritmética não desmente, convalida,

concorda matematicamente:

mesmo com tanta despedida, mesmo com tanta solidão,

mesmo num mundo em convulsão,

a vida vale a pena ser vivida…!

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