Deus. Deus? (I)

Todos que me conhecem mais de perto, sabem da minha convicção religiosa, qual seja, nenhuma. Já escrevi várias vezes sobre meu ateísmo, se bem que, na verdade, eu não sou ateu, mas agnóstico. Isto é, eu não creio em um Deus Todo Poderoso, Criador do Céu e da Terra, mas creio que existem forças positivas e negativas que influenciam os seres humanos para o bem ou para o mal. Eu conheço gente que passa a vida inteira reclamando dela, da vida, atraindo forças negativas para o seu dia a dia… e conheço gente que passa a vida inteira feliz da vida, atraindo forças positivas… No meu entendimento, algum Deus não tem nada a ver com isto… só a própria pessoa tem. Lógico que se estas forças positivas veem através da fé em Deus, ótimo… acreditar Nele torna-se motivo de felicidade, o que é positivo.

Nos últimos dias entrei num debate postal, via Facebook, com um querido amigo bem mais jovem. Nós temos discordâncias políticas sérias – apesar de jovem, com menos de 40 anos, ele é politicamente conservador – e religiosas – ele é cristão praticante e participa, ativamente, de grupo de casais católicos de classe média que acreditam na bondade de Deus e nos ensinamentos de Jesus Cristo como a salvação do ser humano. Com 30 anos de vida a mais que ele, e talvez por isto, eu acho que se os humanos, em 2020 anos,  ainda não conseguiram apreender as lições de Cristo, não vão – com as exceções de praxe – aprendê-las nunca! Quanto mais praticá-las…

Como eu disse, eu sou agnóstico e respeito a religiosidade de cada um, mas discordo da interferência da crença de um grupo sobre a diversidade religiosa de um população. No meu entendimento, o Estado é uma entidade sem religião, sem posição política, sem preconceitos sexual, racial ou social… é um ente organizado por seres humanos que não são homogêneos, e em que não existe uniformidade de qualquer espécie. Ao contrário dos fascistas, eu não acredito e não aceito que a minoria tenha que obedecer à maioria. Maiorias são efêmeras… a maioria de hoje pode ser a minoria de amanhã. A situação de hoje pode ser a oposição de amanhã… É este o maior valor de uma democracia sem adjetivos.

Não é perfeita? Claro que não… mas ainda é a melhor forma de convivência humana que nós temos. Quem se interessa por História da Humanidade – e eu me interesso – sabe que a expressiva evolução tecnológica da humanidade nestes 30 últimos anos não mudou o entendimento do ser humano comum em relação à sua própria realidade. Ao contrário. A informação, a Internet, o celular se transformaram em ferramentas essenciais para o dia-a-dia de uma pessoa, mas que não usa tais tecnologias para uma busca de mais conhecimento que as torne mais conscientes de seus direitos e deveres morais, políticos e sociais.

Eu moro numa chácara em um Núcleo Rural cujas terras ainda pertencem à União. É uma área com cerca de 10 mil habitantes, a imensa maioria caseiros, prestadores de serviços e familiares que dependem dos pouco mais de mil usuários, e não donos, das chácaras. Há muitos usuários morando também, e vários empreendedores rurais, mas a maior parte usa suas chácaras como lazer de fim de semana, quando não para especulação, aguardando uma futura regularização fundiária.

Se for feita uma pesquisa na região, tenho certeza absoluta que o número de celulares empatará com o número de moradores jovens e adultos, provavelmente mais até porque muitas crianças também já têm o seu. Do mesmo modo, por necessidade do patrão, quase todas as chácaras são conectadas à Internet, sendo difícil imaginar alguma casa, por mais simples que seja, sem sua tevê.

No entanto, a área de 35 km²  dispõe de uma única linha de ônibus, uma única escola de ensino fundamental, um único posto de saúde, um único posto de polícia, que nem tem obrigação de prestar segurança, pois foi instalado como Posto de Descanso para os policiais do Batalhão Rural responsável por várias áreas rurais da Região Norte do Distrito Federal.

Ou seja: mesmo gozando dos benefícios da modernidade, o povo da região aceita que seus filhos se amontoem em salas de aula ou admite permanecer um bom tempo no posto à espera da vacina que lá não pode ser estocada por falta de uma geladeira. Reclamações? Xingamentos? Revolta? Qual o quê! Deus sabe o que faz… Quer felicidade maior: Deus e eu na roça do patrão? (termina amanhã)

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