Sexualidade (I)

Nos meus tempos de jovem, com a sexualidade aflorando à pele, havia apenas quatro sexos: homem, mulher, viado e sapatão. Como eu já escrevi algumas vezes, eu era um tímido crônico, um menino sensível que tinha um medo da po..a* de ser chamado de viado e, por isso, criei algumas muralhas entre a minha sensibilidade e a vida lá fora. O que não era fácil…

Meu irmão, 04 anos mais velho, bem machista, quando queria me irritar, me chamava de Terezinha, um bullying típico daquela época em que não existia bullying, mas eu não brigava com ele e nem reclamava para minha mãe, uma forma idiota de mostrar, para ele, que eu não era frouxo, ou maricas… ou viado.

Já contei isto aqui, mas o único que sofreu alguma consequência desta situação foi o filho único da dona do hotel que ficava em frente ao edifício Mantiqueira, onde eu morava, membro da nossa turma: por alguma razão, ele me chamou de Terezinha e eu avancei sobre ele, derrubei-o e o enchia de porrada quando os outros amigos nos separaram (muito provavelmente, eu estava batendo no meu irmão e não nele!)

O mundo evoluiu, claro. Hoje, a sexualidade é múltipla e tanto analisada, avaliada e discutida em vários fóruns científicos, religiosos, políticos mundiais, como demonizada em milhares de grupos das redes insociais brasileiras.

Dona Damares, ministra (sic) de Direitos Humanos, da Mulher e da Infância, por exemplo, acha, acompanhando a Cúpula da Demografia, que a solução é que os brancos (arianos, talvez?) transem e se reproduzam mais (desde que homem com mulher, claro!) para preservar a raça branca e a religião cristã ocidental sobreposta às demais, o que evitará a bagunça sexual do perdido e pecaminoso mundo atual.

Nesta evolução, os armários foram abertos e as muitas sexualidades afloraram , apesar da imensa resistência que sociedades conservadoras ou de predominância religiosa continuem exercendo sobre as pessoas, especialmente as cultural ou politicamente analfabetas, como é o caso de uma boa parte da população brasileira.

Exatamente por assim ser o Brasil, não é atoa que uma pastora evangélica que se especializou em dar palestras país adentro, nas quais, além de apregoar sua visão de Jesus numa goiabeira, pregava a necessidade de meninos vestirem azul e meninas vestirem rosa e berrava contra a existência de identidades sexuais que não fossem apenas homem e mulher, se tornou ministra (sic) do governo de extrema direita que foi eleito democraticamente por 57 milhões de brasileiros (uma democracia, aliás, que ele e seus pimpolhos tentam derrubar…).

Exatamente por assim ser o Brasil, não é atoa que seu atual governo passou a, de forma nem sempre sutil, perseguir e sufocar manifestações culturais que não estejam de acordo com seus princípios ideológicos, tentando, no final das contas, amordaçar a liberdade de expressão, não apenas censurando mostras e espetáculos públicos, mas reduzindo ou proibindo mesmo os patrocínios dados por órgãos do governo (uma forma de incentivar a cultura em todas as partes do mundo), além de influenciar corações e mentes contra a pluralidade sexual. (termina 5º feira)

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