A grande farsa (III)

Parceiro de um processo que golpeou a Constituição e contribuiu para a situação de quase ilegitimidade institucional em que vive o país, o Judiciário começa a dar sinais de alarme, com Suas Excelências da Alta Corte cometendo ilegalidades que, nos últimos anos, perdoaram a juizecos de piso. Hesitantes ainda, tentam resgatar uma respeitabilidade que perderam e segurar uma onda de lama que já alcança as canelas de alguns deles.

Outra parceira ativa, a grande imprensa familiar, também começa a se distanciar da canoa furada. Folha de São Paulo, Estadão e alguns jornais regionais voltaram a vestir suas capas de defensores da liberdade e da democracia e, esquecidos de dúbias manchetes e meias verdades tornadas fatos, que transformaram uma presidenta politica e gerencialemente inábil, mas honesta e bem intencionada, em uma comunista predadora, com anseios ditatoriais, tentam mostrar o Mito com o verdadeiro significado que mito tem: irracional, simplista, irrealista…

As Organizações Globo ainda não decidiram! Assim como o pai, os filhos de Roberto Marinho se consideram acima das leis, da sociedade e do Brasil. Desculpas por possíveis erros cometidos só acontecem 50 anos depois. Por enquanto, só puseram a cabecinha: botaram as críticas ao governo em ‘sketchs’ humorísticos do Zorra Total e do Fantástico, que gozam seus ministros, seus filhos e o próprio, fizeram reportagens investigativas no jornal e, aos poucos, vêm replicando tais reportagens no Jornal Nacional e na GloboNews, mantendo sempre mervais, valdos e camarottis fazendo contrapontos positivos ao governo.  Mas, mais dia menos dia, elas também pulam do barco. Mesmo num país de baixíssimo nível cultural como o Brasil, a estupidez e mediocridade de governantes acaba sendo reconhecida.

Do outro lado, a Oposição cozinha suas posturas dúbias e, crédula numa revolta popular, aguarda que o povo brasileiro, politicamente analfabeto e espiritualmente dependente,  algum dia esteja disposto e preparado para lutar, a ferro e fogo, contra a desigualdade social, as discriminações de todos os tipos, a perspectiva de uma ditadura que vem por aí. E com um ditador tão ridículo quanto o sósia do barbeiro de Carlitos…

Contra ex-aliados e adversários tão titubeantes, e cada vez mais confiante em seus tuítes e desafiante em suas falas públicas – “Eu sou assim mesmo. Não tem estratégia” ou “Vocês tem que entender que eu ganhei! Que Johnny Bravo, Jair Bolsonaro ganhou, p…a*!” – o Mito açula seus fanáticos seguidores, que espalham o terror pelas redes insociais – seja ameaçando de morte o presidente da OAB, cujo pai ousou lutar contra os ditadores, seja insultando sua filha de 13 anos, que atua numa peça de teatro infantil.

Assim caminha o Brasil… Pode ser que quando a sociedade toda se der conta, não haja mais sociedade, não haja mais país… Apenas escombros, ruínas, uma terra arrasada e sem vida e jovens sem esperança, sem futuro e com um enorme vazio na alma, zumbis  olhando perdidos para um horizonte distante, esperando que o sol apareça… e aÍ, junto com um pequeno raio de sol mortiço, surgirão Raul e Cazuza, de mãos dadas, cantando:

“Eram garotos que como o Mito//Odiavam a vida, a paz e a flor…//Giravam o país sempre a berrar//Gritos de ódio contra o amor! …//Cabelos curtos não usam mais//Almas vazias, só ouvem isto sim//Um… RATATATATA… RATATATATA… RATATATATA…”

PS.: Não tenham dúvidas: assim que receber uma herança, vou me embora pra Pasárgada! Como já escrevi outro dia, lá não sou amigo do Rei, nem terei as mulheres que quero, nas camas que escolherei, mas terei uma casa de campo, um cantinho da paz e amor para refugiar os amigos e onde guardarei meus discos e livros e as recordações de um tempo em que fui feliz… e um computador onde escreverei, sem censura, aquilo que quero e sei!

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