A morte nos preside

Meu pai era médico e minha mãe dona de casa. Casaram-se em 1942, em plena ditadura varguista, pegaram um Ita pro Norte e viveram até 1954 pelo interior do Brasil, papai cuidando de leprosos que, naquela época, eram isolados em colônias afastadas das cidades. Em 1948, em Bambuí, onde nasci, ele fez o primeiro parto de quadrigêmeos de Minas Gerais (foi até capa de O Cruzeiro, principal revista de então).

Apesar de apolíticos (já contei esta história aqui), tiveram que se mudar para Beagá exatamente  por problemas políticos, quando JK, o presidente bossa nova  (com  seu ‘slogan 50 anos em 05’) já assumira a Presidência da República e a democracia parecia engrenar como o caminho para o desenvolvimento do país (bons tempos aqueles em que críticas e gozações eram encaradas sem censura e cantadas livremente).

Durou pouco o sonho! Não havia reeleição à época, Jânio Quadros e sua vassoura contra a corrupção (sempre ela!) reverberada na grande imprensa de então, substituiu JK, tentou dar um golpe, enganou-se e seu vice, Jango, assumiu a Presidência. Era estancieiro, dono de terras, mas a elite tachou-o de comunista, e os militares formados pela Academia ianque do Panamá, incentivados pela elite e pela classe média cristã, o derrubaram e botaram generais de 04 estrelas para nos presidir.

A ditadura durou 21 anos. Meus pais (que nunca me criticaram por minhas rebeldias juvenis, certamente  comprometedoras e arriscadas,  contra a violência dos milicos no poder),  permaneceram apolíticos e conviveram com ela sem defendê-la ou atacá-la… apesar de meu pai considerar a ditadura uma coisa nojenta, estúpida, anti cristã, que precisava ser derrubada.

Infelizmente, como todo e qualquer cidadão de classe média mais esclarecido e pacífico, meu pai achava que um regime ditatorial tinha que ser derrubado de forma democrática, sem violências, que acabariam por atingir pessoas inocentes, como se os poderosos fossem seres humanos benevolentes, dispostos a atender os anseios de um povo (as novas gerações precisam saber que ninguém larga o osso de graça ou com pedidos  bem educados!)

Meu pai morreu em 1995 e minha mãe este ano.  Duas, três, quatro gerações se passaram e o Brasil não mudou em nada, politicamente falando. Na verdade, estava tentando promover políticas sociais que  começavam a reduzir sua histórica e absurda concentração de renda, quando os mesmos poderosos ou seus herdeiros resolveram dar um basta nessa liberdadezinha idiota e assás perigosa para seus interesses.

Como filho e membro da classe média, mais para alta que para baixa,  eu deveria apoiar a nova ordem nacional representada pelo presidente eleito por 57 milhões de brasileiros. Afinal, minha classe fez campanha e votou nele. Mas, eu também sou filho de 64, eu lutei pela democracia quando era jovem e não vai ser agora que estou velho, bem posto  e acomodado, que eu vou fingir que as imbecilidades de um presidente autoritário não tem nada a ver comigo.

Eu disse imbecilidades, mas tenho certeza que o Mito evacua asneiras dia sim dia não de caso pensado. Ele (e seus pimpolhos) não tem respeito pela sociedade humana ou pela vida… Sua relação direta é com a morte, com a violência, com o ódio e, chafurdando na lama de sua alma, ele busca o lado mais torpe de brasileiros que se juntem a ele e formem um exército de fanáticos a carrega-lo nos ombros até torna-lo ditador da Terra de Vera Cruz, quem sabe Rei Brilhante Ustra 1º…!

Eu leio e pesquiso muito na Internet hoje em dia (aposentado, divorciado, filhas criadas, a maioria distante, e passado da idade de peripécias amorosas, tenho muito tempo!). E me preocupo com as manifestações de desagrado e contrariedade que, a cada dia mais, pipocam na grande imprensa (que apoiou o impeachment  de Dilma e a eleição do Mito).

Muitos que ontem o apoiaram ou se omitiram, hoje se referem a Bolsonaro como um imbecil, um inútil, um despreparado para o cargo que ocupa. Um jornalista, Luis Cláudio Cunha , chegou a relacionar 216 palavras dicionarizadas que podem ser usadas para definir Sua Excrescência (https://jornalggn.com.br/artigos/216-palavras-para-a-imprensa-definir-com-precisao-bolsonaro-e-seu-governo-por-luiz-claudio-cunha/)

O problema é que enquanto todos criticam as imbecilidades que ele c..a* ‘com teatral convicção’, o Mito forma seu exército de imbecis, seguidores fanáticos de um Hitler tupiniquim, dispostos a se tornarem uma Schutzstaffel (em português “Tropa de Proteção, abreviada como SS, ϟ ϟ”) nazista, a ser comandada pelo Carluxo, talvez o Pavão Misterioso…!

O Brasil precisa se livrar de Bolsonaro e sua corja o quanto antes. Faremos isto democraticamente, como meus pais achavam que era possível fazer contra a ditadura, ou violentamente, como os jovens rebeldes de 64 tentaram e não conseguiram? (a ditadura foi derrubada pelo acordo entre as elites, como sempre…)

E depois, o que virá? As novas gerações precisam decidir onde querem viver… num país livre e soberano ou num Puerto Rico!

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