O escolhido

É impressionante como a gente consegue se enganar com determinadas pessoas com quem a gente convive durante certo tempo. Mesmo eu, que me considero bem esclarecido, com idade mais do que suficiente para entender as pessoas em seus desejos, angústias, dúvidas, incompreensões, às vezes sou surpreendido pelas posturas que estas pessoas tomam, principalmente nas redes sociais, quando, provavelmente, não se sentem constrangidas (pela presença de outras pessoas) em expor o que realmente pensam.

Durante um bom tempo, poucos anos atrás, eu convivi assiduamente com um antigo colega de trabalho, já aposentado como eu, tentando encontrar soluções para um determinado problema que afetava a todos nós, aposentados. Apesar de termos posições políticas totalmente opostas, concordávamos em quase tudo – como fomos omissos enquanto os donos do poder intervinham em nosso instituto, como aceitamos a devolução do controle do nosso instituto sem que o motivo da intervenção fosse resolvido, como aceitamos que as regras fossem mudadas sem a nossa participação – menos na forma de agir para mudar esta situação.

Conseguimos chegar a um meio termo e fazer esta mudança. Mas, encaminhadas as mudanças, ele me tornou seu “inimigo”, porque embarcou nas visões bolsonárias que não admitiam ideias ‘petistóides e comunistóides’, mesmo sabendo que eu não era nem petista, nem comunista.  Infelizmente, o bolsonarismo não aceita adversários: ou se é a favor ou se é contra… e quem é contra é inimigo e tem que ser apedrejado… (vide mensagens internéticas do Carluxo!).

Houve uma época – e eu sofri isto com intensidade – em que o petismo agia como o bolsonarismo age hoje: não havia adversários, havia inimigos a serem vencidos, mas a violência quase física era menor: em meados dos anos 80 – Lula foi candidato pela primeira vez em 1989 – havia petistas tão radicais quanto os bolsonaristas atuais. A diferença essencial é que Lula nunca foi idiota e Jair é…! Lula sempre foi contemporizador e Jair não… ele precisa do confronto porque não tem argumentos, apenas ódio… a tudo e a todos que não são ou não pensam como ele! O mesmo ódio que a elite, da qual ele não faz parte, mas gostaria – tem pelo país, pelo povo do país…

Este ódio elegeu Bolsonaro em 2018. Não era o que a elite queria, mas… se não tem Barbosa, Huck ou Alkmin, vai-se de Bolsonaro e seus milicos de pijama mesmo… O importante era destruir Lula e, depois, a gente vê ‘cumé’ que faz! Seis meses depois, como é que faz? O ovo da serpente foi gerado, parte das ruas acha que democracia é coisa de idiota, Congresso, Justiça, generais têm que ser derrubados, o Brasil precisa de um messias, Bolsonaro para uns, Mor para outros.

Uma das coisas mais corriqueiras deste país é a capacidade que os poderosos e seus fantoches têm de se adaptarem ao clamor das ruas e, com isto, manobra-las e conduzi-las de acordo com os seus interesses. E, com isto, reinterpretar as leis de modo que elas, as leis, os beneficiem. Durante o impeachment, a classe média que saía atrás do trio elétrico da Globo criou aqueles balões infláveis de Lula prisioneiro ou de Dilma e, pago pela FIESP, botou o bloco dos patos amarelos para sambarem nas avenidas.

Aquilo, a Justiça permitia… era democrático! E, realmente, era e é, apesar de, mais uma vez, demonstrar claramente que quem tem dinheiro faz o Carnaval ao seu gosto! Só que a Justiça não permitiu o contraponto: o The Intercept colocou na rua mensagens trocadas entre juiz e acusação no processo contra Lula, mas o STF adiou o julgamento de habeas corpus de Lula e o corregedor do Conselho Nacional do Ministério Público, monocraticamente, achou que o procurador, a acusação, não cometeu qualquer crime, vez que os vazamentos é que eram criminosos… Durante os últimos anos, centenas foram os vazamentos acusatórios da Lava Jato e, em nenhum momento, o CNMP ou seu Corregedor fizeram qualquer manifestação sobre a criminalidade dos mesmos.

Voltando ao ex-colega de trabalho: após a eleição do Mito e nos primeiros dois meses de seu governo, cansei de lê-lo pontificando nas redes sociais, vangloriando-se da vitória memorável contra o petismo, o comunismo pagão, a sem-vergonhice e a corrupção. Aí surgiu a história de um tal Queiróz, assessor do filho 01 na Câmara do Rio e sua incrível movimentação de dinheiro, inclusive para a primeira dama. Que, convenientemente, desapareceu… primeiro no Rio das Pedras, uma região dominada pelas milícias e, depois, não se sabe bem onde até hoje, o que fez meu ex-colega desaparecer das redes também.

Depois da apreensão de 39 kg de cocaína num avião da Presidência, estou na expectativa de seu reaparecimento nas redes. Por quem ele badalará os sinos agora: Huck ou Dória? A Globo indicará…! Como sempre… (Que pena que Chacrinha morreu! 25 anos atrás, o p…..o* era mais divertido!)

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