O brasileiro no poder, enfim! (III/III)

Quer coisa mais brasileira do que a futura ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos? Uma pregadora evangélica que não tem medo de dizer que foi abusada sexualmente na infância e que só se salvou porque viu Jesus Cristo numa goiabeira? Que diz na televisão que os professores das escolas públicas estão ensinando nossos jovens que existem 70 identidades sexuais no Brasil, enquanto nos Estados Unidos só tem 56…? E que isto está confundindo a cabecinha de nossas crianças e adolescentes, “que estão se suicidando, estão se cortando, estão em depressão…?” E que, ao mesmo tempo, é uma funcionária do Congresso Nacional que usa passagens aéreas das cotas parlamentares (paga com o meu, o seu, o nosso salário) para voar pelo Brasil e fazer suas pregações pastorais? (segundo a própria Câmara, nos últimos 11 anos, Damares fez 77 viagens para 18 Estados brasileiros!).

Quer coisa mais brasileira do que a futura ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento? Que é engenheira agrônoma, deputada federal pelo Mato Grosso do Sul e presidente da ‘bancada do boi’ (Frente Parlamentar Agropecuária), que defende a flexibilização das leis ambientais, ‘que atrapalham o desenvolvimento ruralista brasileiro’, que apoia com fervor, alterações das regras para os agrotóxicos no Brasil (seu apelido, aliás, é “musa do veneno”) e a redução das reservas indígenas para permitir a expansão do agronegócio, e que, como tradicional política, neta e bisneta de ex-governadores, foi  secretária de Desenvolvimento Agrário de Mato Grosso do Sul exatamente no período em que a JBS, dos hoje famosos irmãos Batista, com quem ela mantinha negócios empresariais, conseguiu benefícios fiscais do Estado em troca de gordas propinas para o governador e outras autoridades do setor?

Quer coisa mais brasileira do que o atual ministro da Transição e futuro da Casa Civil?  Que é deputado federal há 04 legislaturas, mas só obteve destaque nacional quando relatou, em Comissão da Câmara, as famosas 10 Medidas Contra a Corrupção elaboradas pelo Ministério Público (Dallagnol e Cia), propondo testes de integridade para agentes públicos e a transformação de Caixa 2 (dinheiro não declarado para campanhas eleitorais) em crime? E que, logo depois, foi pego pela Lava Jato por ter recebido R$100 mil reais em Caixa 2? E que, depois de fazer uma compungida confissão pública de seu ‘crime’, tatuou no próprio braço a frase bíblica “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32), “para lembrar do dia em que errei… e nunca mais errar!” E que, pouco tempo depois, teve outro Caixa 2 de R$100 mil denunciado por delatores na mesma Lava Jato? (para quem não tem paciência, a fantástica história da tatuagem começa a partir de 12:58 min)

Quer coisa mais brasileira que o futuro ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general da reserva Augusto Heleno? Que é o típico oficial incrustado de estrelas e condecorações do Exército brasileiro, por ter um brilhante curso preparatório (primeiro colocado de sua turma de Cavalaria tanto na AMAN, quanto na EsAO e na ECEME), sendo designado como adido militar na Europa, comandante de uma brigada e o primeiro comandante militar da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH), constituída de um efetivo de 6.250 capacetes azuis de 13 países, e comandante militar da Amazônia? E que, com um currículo destes, continua preso ao passado repressor do Exército, achando que o Brasil ainda vive nas décadas de 70/80, pródigo em declarações do tipo “direitos humanos é para humanos direitos”, ou que o “Brasil é um país narcotraficante”, que precisa ser consertado “com medidas agressivas”?  (como, segundo consta de relatório da ONU, ele fez no Haiti: liderou uma invasão ao bairro Cité de Soleil, um favelão, que vários grupos de direitos humanos internacionais consideraram um verdadeiro ‘massacre’ contra uma população miserável).

Submissão aos poderosos, passividade bovina, fé inabalável na solução de todos os problemas por meio de um salvador da pátria ou por intervenção de Deus, falta de respeito a si próprio e à sua pátria, um ‘jeitinho’ especial para burlar leis e outro para justificar um erro descoberto, uma necessidade infantil de buscar explicações em espíritos mediúnicos, de culpar vizinhos e colegas, as autoridades, os Céus…! pelos próprios erros, e de transformar tudo e todos numa gostosa piada contada num bar tomando cerveja gelada… quer coisa mais brasileira que isto?

E assim chegamos à próxima família presidencial! Quer coisa mais brasileira que o terceiro filho do presidente eleito, Eduardo Bolsonaro, deputado estadual reeleito por São Paulo com a maior votação da história do país (1.843.735 votos), um devoto da arma, que gosta de portá-la até nos debates da Câmara Federal, e que costuma dar declarações polêmicas pelas redes sociais (‘se quiser fechar o STF, você sabe o que você faz? Você não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo’. Não é querer desmerecer o soldado e o cabo, não. O que que é o STF, cara? Tira o poder da caneta de um ministro do STF, o que ele é na rua?) E que vai ‘passear’ pelos Estados Unidos, onde faz questão de ser fotografado com um boné de propaganda da candidatura do presidente Trump à reeleição em 2020…?

Quer coisa mais brasileira que a futura primeira dama, Michelle Bolsonaro? Uma evangélica convicta e contrita que mandou tirar santos e santas do Palácio da Alvorada e quando a imprensa caiu em cima, disse que era um funcionário petista, e não ela, que estava fazendo isto? E que saiu de seu descanso natalino numa ilha da Marinha Brasileira vestida com uma camiseta, a la Collor, com uma frase pretensamente humilhante a Lula? (“Se começar nesse tom comigo, a gente vai ter problema”, que foi dita pela juíza Gabriela Hardt – eu disse juíza, não delegada ou inquisidora – durante um interrogatório com o ex-presidente em novembro). E que acabou de ser apanhada pelo COAF recebendo R$27 mil reais, em dinheiro vivo, depositado pelo motorista, segurança e companheiro de pescarias do marido, um policial militar que contou uma história hilária numa entrevista fajuta ao SBT, para justificar a movimentação inusitada de  1,2 milhão de reais em sua conta corrente?

Quer coisa mais brasileira que o próprio futuro presidente do Brasil? Que, em reportagem da Veja de 25/10/1987, mostrando que ele e outro militar, Fábio Passos, tinham um plano de explodir bombas em unidades militares do Rio para pressionar o comando (a melhorar o soldo), declarou que  ‘Nosso Exército é uma vergonha nacional, e o ministro (general Leônidas Pires Gonçalves) está se saindo como um segundo Pinochet’? E que está assumindo o governo brasileiro dia 1° de janeiro cercado de generais, que terão de lhe prestar continência, apesar de sua patente de capitão reformado?

 

Pois então, Sílvio Santos vem aí! Perdoem-me… Jair Messias Bolsonaro vem aí! Quer coisa mais brasileira que o novo governo eleito por 57 milhões de brasileiros? Até agora, só uma bola fora neste perfil midiático do brasileiro típico: ele não esfrega e lava suas próprias camisas e cuecas, pois isto é coisa de mulher! Principalmente se ele tem duas máquinas de lavar ao lado, que comprou de presente para a mulher…

25Mas o Brasil é assim! Carnaval, futebol, mulheres, sexo e p…..a!*… muita p…..a!*. E por que não? Moro não é brasileiro?

(fim)

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