Por que não voto em fascista!

Eu abomino qualquer forma de opressão. Por uma razão muito simples: em não suporto a violência, qualquer tipo de violência, física ou mental. Isto vem dos tempos de menino. Ao contrário de meu irmão mais velho, hiperativo, agressivo, brigão… eu era tímido, preferia ficar em casa a ir para a rua e, quando ia, para brincar com a turma, detestava aquelas disputas idiotas, tipo quem balançava mais alto, quem chegar por último é mulher do padre, quem descia de pé no escorregador, quem dava um peteleco na cabeça dum menino pobre que passava pelo local.

Para mal dos meus pecados, no grupo escolar, por mais que eu me esforçasse para ser igual ao Joselino Barbacena, aquele personagem da Escolinha que tentava se esconder do professor Raimundo, eu era bom aluno e, por isso, acabei virando capitão da turma, com direito a uma cruz vermelha pregada na manga direita da camisa. Pra quê? Virei alvo dos valentões da turma, especialmente do Maximiliano, o filho de um padeiro português que era mais forte e um palmo  mais alto que eu. Mas eu já contei esta história aqui, assim como as brigas de turma na Belo Horizonte do início dos anos 60.

Com minha preferência pelos livros, eu acabei por entender que a violência é uma característica inerente ao ser humano e, particularmente, do homem: desde o tempo das cavernas, ele luta pela comida, ele luta pelo território, ele luta pela fêmea, ele luta pela família, ele luta pelo poder! Mas, há gradação nestas lutas… A luta secular pela comida, pelo território, pela fêmea, pela família era a luta pela sobrevivência. A luta pelo poder sempre foi a luta pela prevalência, o direito, pela força das armas, ou do voto nos tempos modernos, de um grupo prevalecer sobre outros grupos.

Assim, chegamos ao Brasil, pátria gentil de riquezas mil… Uma colônia que virou matriz imperial porque Bonaparte invadiu a matriz real, um vice-reino que virou reino porque o filho do rei não gostou da carta mal educada que recebeu da matriz, um reino que virou  república pela espada de um general monarquista, e uma república velha que se transformou em nova por um golpe que governou como ditadura por 15 anos… Mais hilário ainda: o ditador foi afastado em 1945 e retornou, eleito, em 1950! E entrou para a história como o ‘Pai dos Pobres’…

A novíssima república durou pouco, 19 anos, menos que a nova ditadura, 21 anos! Na primeira, eu me tornei gente, na segunda, eu me tornei antifascista… Quando eu me tornei gente, não havia redes sociais e a comunicação entre pessoas era feita no bate papo, olho no olho ou via telefone, carta, bilhetinhos (para as namoradas…). Quando me tornei antifascista, a comunicação era feita por sinais, por códigos entre os do seu lado… e por ordens dos do outro lado.

Era muito duro ser antifascista naqueles tempos… Era muito duro ser jovem naqueles tempos! Me dói no fundo da alma hoje em dia ver tantos jovens pregando o fascismo como se fosse a consolidação da liberdade que eles têm hoje. E eu fico me perguntando se eles têm ideia do que seja o fascismo. Normalmente, eu me abstenho de fazer comentários políticos no Facebook, a não ser no caso de um velho amigo dos tempos da Faculdade, ex sócio numa agência de redatores que criamos nos anos 70 e parceiro dos primeiros tempos de Brasília, ambos vindos para cá, para ocupar cargos de comunicação em estatais. Fiquei pasmo com as postagens dele, me perguntando o que levara um cara que vivera e sobrevivera os tempos sombrios da ditadura junto comigo a apoiar tal figura.

Excelente jornalista, com um faro notável para descobrir a verdade de um fato, depois que se aposentou e voltou para sua cidade natal, tornou-se micro empresário, dono uma floricultura, como ele próprio me contou quando nos revimos no encontro da turma em Belo Horizonte. Não sei qual a razão, mas o fato é que, de repente, reencontrei o Zé no Facebook como um bolsonarista convicto, daqueles que parecem robôs manipulados, transmitindo, sem qualquer checagem, memes, vídeos, mensagens patrióticas ou religiosas, fake news, enfim, sem qualquer senso de responsabilidade ou ética jornalística. No começo, tentei alertá-lo para o ridículo… Desisti e passei a brincar, respondendo as mensagens na minha página com mensagens tipo ‘Mentir é pecado, Zé…’ Enfim, cansei! Fascistas não argumentam nem debatem… Nem reconhecem o cinza! Ou você está do lado dele ou você é um inimigo a ser derrotado e morto…!

Creio que os jovens que se engajaram com tanta emoção e ardor cívico na campanha bolsonarista, transformando seus grupos sociais em verdadeiras fontes de fake news que se multiplicam pela Internet, não demorarão a sentir a c….a* que fizeram. Por que, se a gente prestar atenção no que eles postam, percebe-se que eles não se importam, até gostam, de ser chamados de fascistas…

É óbvio que eles não têm muita ideia do que seja o fascismo. Isto não faz parte da história da vida deles. A II Guerra Mundial acabou em 1945. Fascismo e Nazismo, regimes políticos totalitários foram derrotados, portanto, há mais de 70 anos atrás (o comunismo, outro regime totalitário, acabou mais tarde, em 1989, com a queda do Muro de Berlim). Fora as poucas aulas de história moderna que devem ter tido no colégio, eles associam Nazismo a um louco chamado Adolf Hitler, que matava judeus a torto e a direito em câmaras de gás, plasticamente retratados pelos filmes americanos de guerra. Isto foi terrível, monstruoso…!

Já o fascismo, não…  A história registra que Benito Mussolini, figura chave na criação do Fascismo, preconizava – e aplicou isto enquanto governou entre 1924 e 1939 – uma política nacionalista, corporativista, sindicalista, expansionista, com progresso social, além de militarista e autoritária e que defendia os valores cristãos numa sociedade, desprezando  o comunismo ateu. E, neste período, o regime não era antissemita, não reverenciava uma raça pura e era mais tolerante que o nazismo em relação aos adversários políticos, algo que Hitler não admitia, eliminando todos que ousassem se opor a ele (em 1939, nazismo e fascismo se aliaram, e a tolerância italiana foi pras cucuias!)

Não é atoa que muitos filmes americanos, europeus e mesmo italianos (e até animè japonês) costumavam mostrar Mussolini como um bufão, um homem grande a imitar a saudação nazista para sua milícia política vestida de camisas pretas (que tanto fascinam o juiz Moro… as camisas pretas, claro!). Apesar da história e os livros serem menos críticos a ele, nunca deixam de mencionar que quando virou primeiro-ministro da Itália, em 1922, fez questão de ser chamado assim: “Sua Excelência Benito Mussolini, Chefe de Governo, Duce do Fascismo e Fundador do Império

Ou seja, numa época em que a política está desmoralizada, que a situação econômica está degradada (com 27,7 milhões de pessoas que gostariam de trabalhar mais, que desistiram de procurar  emprego ou estão efetivamente desempregadas), a insegurança atingiu nível escandaloso (quase 60 mil homicídios em 2017), só não houve uma revolta popular ainda porque o brasileiro é passivo e continua crendo que Deus ou um salvador da pátria virá salvá-lo da desgraça absoluta, o fascismo, em sua essência, representa, para muitos, o caminho: um governo autoritário, hierarquizado, militarizado, nacionalista, crente em Deus e com fome de matar bandidos, traficantes e corruptos.

Infelizmente, eu não acredito em salvadores e, como eu disse no início, eu não tolero qualquer tipo de opressão. Eu respeito as leis e os costumes, as cores partidárias e as escolhas de cada um, eu pago meus impostos e minhas contas, eu debato ideias com quem esteja disposto a debate-las, não impô-las, mas não admito que um governante, seja ele fascista, comunista, nazista, capitalista ou qualquer outro ista que exista, me impeça de dizer o que eu penso, ou que eu converse, ria ou chore com quem eu queira, ou que proíba a mim, minhas filhas e netos de entrar numa exposição porque ela, a exposição, na cabeça de alguns paranoicos, sexualmente mal resolvidos, ache que ela está divulgando indecências pornográficas nocivas à juventude.

Além disto, existe apenas um tipo de pessoa com quem eu me recuso a debater ou mesmo conversar: quem admite a tortura ou elogia torturadores. Estas pessoas não são apenas fascistas… Elas têm o mesmo instinto assassino que, ao menor sinal, se pronuncia, tirando a vida de um semelhante com a mesma facilidade com que bebe um copo d’água. E, depois, ainda se vangloria pelo crime cometido, pelo orgulho de ser macho, pela absoluta ausência de consciência…

Portanto, mais uma vez e tantas quanto forem precisas, #EleNão!

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