Corrupção

Novo debate intenso na rede familiar: para uns, o protesto de domingo nas ruas, promovido pelas forças de oposição ao governo, foi a favor do golpe; para outros, foi contra a corrupção. Já o de sexta-feira, promovido pelas forças de apoio ao governo, para uns foi de apoio à Dilma e Lula, para outros foi em defesa da democracia. À certa altura, o debate se concentrou em corrupção, me permitindo propor uma reflexão a todos:
as lideranças de um lado e de outro estão pouco se ligando para a corrupção. Eles buscam apenas o poder… Cada lado tem uma concepção política e quer governar o Brasil para implementar esta concepção. Para isto, precisam assumir o poder. Em termos bem simplistas, quem está no poder hoje, o PT, acredita que o Estado é indutor fundamental do desenvolvimento; quem está na oposição e que já foi o poder ontem, o PSDB, acredita que o mercado é que traz o progresso para o país. Notem que os partidos de apoio ao governo de hoje, principalmente o PMDB, são os mesmos de apoio ao governo de ontem, com as honrosas excessões de sempre.
A tendência de qualquer grupo, ao chegar ao poder, é mantê-lo e se perpetuar como poder e, para isto, a corrupção é fundamental. Através dela, compra-se lealdades políticas, obtém-se apoios financeiros, aprovam-se leis que implementam a concepção política do grupo.
Por outro lado, a corrupção é, hipocritamente, alardeada como o mal maior da república, por quem está na oposição ao governo, porque é o argumento que mais atinge a classe média (baixa, média e alta), que luta para ter uma vida digna, paga seus impostos, sempre reclamando, mas em dia, e se esforça para criar sua família, levando uma vida honesta e produtiva. Não quer dizer isto que as classes mais baixas, maioria do país, não façam a mesma coisa, só que é a classe média que, ainda, está mais disposta e disponível para sair e gritar pelas ruas e que pressiona suas excelências, os senhores congressistas a, por exemplo, promoverem um processo de impeachment. Processo este que, “legalmente” derrubará um presidente legitimamente eleita, permitindo à oposição ocupar o poder sem necessitar de eleição, em que correria o risco de ser derrotada. As classes mais altas, evidentemente, utilizam outros meios para fazer a mesma pressão.
Lembrei, então, aos jovens do grupo, que corrupção foi o argumento básico que levou à deposição de Washington Luis, em 1930, à derrubada (e suicídio) de Getúlio Vargas, em 1954, à deposição de João Goulart, em 1964, às duas tentativas de derrubada de JK, entre 55 e 60, e é o argumento básico para levar a classe média às ruas hoje, forçando um impeachment, sem motivos legais, de Dilma.
Para quem se interessa por história, corrupção existe no Brasil desde sua descoberta (há uma famosa carta de Pero Vaz de Caminha anunciando a descoberta a El Rey e, junto, pedindo a nomeação de um seu parente para algum cargo na Corte). E ela nunca foi combatida de fato! Porque ela só é combatida com educação real e completa para todos, não este arremedo de educação que foi implementado no Brasil há 500 anos e permanece até hoje.

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