E os usuários?

Há uma discussão interminável na Câmara Distrital de Brasília: regulamentar ou não o projeto, enviado pelo Executivo, que legaliza a existência do Uber no Distrito Federal. Houve um primeiro momento, rapidíssimo, que, por pressão dos taxistas, que são politicamente fortes em Brasília – tem um ex-presidente do sindicato, Manoelzinho, que chegou a deputado distrital e presidente do Tribunal de Contas do Distrito Federal – o Uber foi proibido de atuar.
Mas, a evolução foi mais forte: o governador Rollemberg mandou um projeto de regulamentação para apreciação da Câmara Distrital no final do ano passado, que os deputados só estão discutindo agora. E é um pega pra capar danado!
A galeria fica entupida de interessados diretos: taxistas de um lado, uberistas de outro… No plenário, deputados discutem acaloradamente, uns defendendo os “pobres” trabalhadores proprietários ou mais “pobres” ainda motoristas de taxis e atacando os uberistas, outros atacando os péssimos e caros serviços prestados pelos taxis e defendendo a livre concorrência proporcionada pelo Uber.

É curioso ver um parlamentar de esquerda, como Chico Vigilante, bradar: chico vigilanteEnquanto presidente da Comissão de Defesa do Consumidor quero dizer a todos que esse projeto não passa.  O Uber só favorece empresários americanos, que impõem o preço de fora do país”, e ser apoiado por um parlamentar de direita, como Agaciel Maia, que completa: “A empresa Uber lançou o UberX, que veio para matar os taxistas profissionais. A tática é clara: depois que acabarem com os taxistas, eles vão impor a tabela de preço deles. E o próximo alvo será o sistema de transporte coletivo”. Com certeza, nenhum dos dois nobres parlamentares é usuário de taxis, de ônibus ou de metrô nesta capital, construída claramente para pessoas motorizadas (afinal, o presidente que a construiu foi, também, o homem que trouxe a indústria automobilística para o Brasil). Se usassem, seriam menos condescendentes com os serviços de transporte públicos existentes em Brasília. E ampliariam sua visão sobre o assunto, trazendo para a discussão não apenas a opinião de taxistas e uberistas, mas a voz dos usuários, a população eagaciel maiam geral que, como deputados, eles deveriam representar.

Como tal, sem que eles peçam, transmito minha experiência recente, de viagem feita, com a família, a São Paulo: peguei um taxi uma única vez, do Aeroporto de Congonhas para o hotel, em Vila Mariana, e fiz todos os demais roteiros, de turista e de consumidor, via metrô e Uber. Primeiro: motorista convicto, não senti nenhuma falta do meu carro; segundo: para visitar museus, conhecer restaurantes e teatros, fazer compras, gastei  um terço do tempo que gastaria se estivesse de carro particular; e terceiro: o custo com o transporte foi infinitamente inferior se rodasse de táxi como, por exemplo, o comparativo com o único táxi tomado: R$45,00 do aeroporto ao hotel contra R$15,00 do hotel ao aeroporto, via Uber.

Um detalhe importante: o projeto para regulamentar a prestação de serviço de transporte individual privado de passageiros (nome oficial do serviço), enviado pelo governo dito socialista de Rollemberg (PSB), prevê a possibilidade de uso apenas do serviço de “elite”, conforme declarou o secretário-chefe da Casa Civil, quando enviou o projeto para aprovação da Câmara: “Queremos respeitar o espaço de cada um. Estabelecemos que o tipo de carro a ser utilizado [no Uber] é um carro de conforto, de luxo, modelo que vinha sendo utilizado no início pelo chamado Uber Black. São categorias distintas, que não concorrem na mesma categoria. Os taxistas têm condição de se manter no mercado, não estamos aniquilando a figura do taxista”.

taxi x uber 1

uberblack           helicoptero df 2

Assim como os nobres deputados, o governador e sua equipe também não são usuários de táxis, ônibus ou metrô… A população de baixa e média renda, que os elege, que continue se apertando nos metrôs que vão para um lado só da cidade, ou se engalfinhando para subir em ônibus mal conservados, atrasados e apinhados, ou pagando preços extorsivos em táxis desconfortáveis, pois seus congêneres da classe dominante, que pagam suas campanhas eleitorais, poderão dispor, se aprovado o projeto, de mais um serviço de transporte condizente com a classe: com conforto e luxo!

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