13. GENTE BOA, ELE… É SÓ HIPÓCRITA!

Eu sei que sou meio obsessivo com isto, mas não tem jeito, talvez porque eu aprendi na vida, que a verdade, mesmo sabendo que a verdade é muito relativa, é essencial para se viver com a consciência tranqüila. E a verdade transparente é que a hipocrisia é um traço característico da personalidade do brasileiro, tão profundamente arraigado em nosso caráter, que a gente convive com ela, a hipocrisia, numa boa, como se fosse algo natural e perfeGente boa ele... 1itamente aceitável.

Minha obsessão, creio, vem disto, porque a hipocrisia é inaceitável. A gente pode até entender e aceitar as desculpas pedidas por alguém que praticou uma ação errada, mas não dá para, simplesmente, passar uma borracha no ato cometido e dizer  “está tudo bem, vamos esquecer isto, vê se não repete  e coisas tais, fundamentalmente porque aquela ação errada teve conseqüências e alguém foi prejudicado por ela.  Se não, não seria uma ação errada!

Não é uma questão de olho por olho, dente por dente… é uma questão de justiça, dGente boa ele... 2e fazer a verdade prevalecer, não escondendo-a atrás de uma falsa urbanidade, da estúpida visão de que a justiça divina resolverá o assunto mais tarde… Por causa da hipocrisia inerente aos políticos é que a democracia brasileira não resiste a uma figura perniciosa como Eduardo Cunha que, mesmo afastado, continua mandando recados ameaçadores a seus colegas, com a cumplicidade da grande imprensa. E é por causa da hipocrisia entranhada na personalidade do brasileiro que políticos como ele e tantos outros iguais a ele, são eleitos e reeleitos ‘ad aeternum’…

Falo, mais uma vezGente boa ele... 3, em hipocrisia, por causa de Celso Russomano, o candidato a prefeito de São Paulo que lidera as pesquisas.  Bacharel em direito, especialista em defesa do consumidor, ficou famoso na década de 90 quando virou um apresentador do Aqui Agora, programa do SBT, onde mediava as reclamações dos consumidores contra empresas e prestadores de serviços.  Escorado na fama, virou parlamentar e persegue, há algum tempo, um cargo executivo, sempre liderando as pesquisas até um determinado momento, quando é ultrapassado pelos candidatos de forças políticas com maior expressão e sustança.

Para as eleições de outubro próximo, ele tem outro empecilho: em ação que corre no STF (Russomano tem foro privilegiado, pois é deputado federal), o Ministério Público de São Paulo acusa-o de manter uma funcionária de sua produtora remunerada com recurso públicos, vez que ela era comissionada pela Câmara Federal no gabinete do deputado.

A ação está correndo, apesar da tradicional morosidade da Justiça brasileira, e, ao ver que as perspectivas eram feias para ele (o deputado foi confrontado coGente boa ele... 4m a carteira de trabalho assinada pela assessora), Russomano mudou sua exGente boa ele... 6plicação para o fato de uma empregada de sua produtora em São Paulo ser, também, funcionária de seu gabinete em Brasília: pela nova versão, ele confirma que a ex-funcionária Sandra de Jesus exerceu atividades em sua produtora em São Paulo quando era servidora de seu gabinete na Câmara, entre 1997 e 2001. Mas isso teria ocorrido fora do horário de expediente…!

O deputado Celso Russomano tem o direito de dizer qualquer coisa, inclusive de mentir descaradamente… mas é de uma hipocrisia monumental a grande imprensa registrar a mentira como se fosse algo plausível, advogados e promotores levarem a sério a explicação e admitirem-na no processo, substituindo a desculpa anterior (o deputado havia dito que não existia impedimento legal para sua assessora Gente boa ele... 5parlamentar exercer outra atividade privada) e um juiz, quando do julgamento, aceitar o argumento como perfeitamente exeqüível, completando o ciclo da hipocrisia.

Houvesse menos políticos batendo tapinha nas costas de um colega ao dizer ‘Vossa Excelência é um filho da p…*” e mais parlamentares olhando no olho do colega e dizendo “Você é um ladrão do dinheiro público e precisa ser preso”, o Brasil estaria bem melhor…! stanislaw 1

*Consciência é como vesícula, a gente só se preocupa com ela quando dói. (Stanislaw  Ponte Preta)

 

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