A comunicação do governo interino já começou a mostrar sua cara sem vergonha: de acordo com o site Brasil 247, “até às 11 horas, quando todos os sites e noticiários online já haviam publicado matérias sobre a gravação entre o ministro Romero Jucá e o ex-presidente da Transpetro, a Agência Brasil, um dos serviços de comunicação pública da EBC, não havia divulgado nada sobre o assunto”; quando começaram a pipocar reclamações, inclusive dos funcionários, falando em censura, o sistema de internet e intranet da EBC saiu do ar, aparentemente “por problemas técnicos”.

Ou seja: repetem-se as histórias ocorridas na Câmara dos Deputados quando o atual diretor presidente da EBC, Laerte Rímoli, indicado por Temer para substituir Ricardo Melo, que ainda tinha 04 anos de mandato, era o responsável pela área de comunicação, indicado pelo Eduardo Cunha. Vou lembrar uma só:

• antes ainda da votação do impeachment, alguns sites descobriram uma notícia produzida já há algum tempo pela área de Comunicação da Câmara informando que “apenas 36 deputados federais haviam sido eleitos diretamente com os votos dados a eles próprios, ou seja, tinham atingido o quociente eleitoral definido para cada Estado (de acordo com o eleitorado e a quantidade de cadeiras em disputa), significando isto que 477 excelências, ou 93%, ocupam suas cadeiras com os votos dados, também, a companheiros e à coligação da qual fazem parte.
• quando os sites começaram a divulgar esta informação, muitos deputados se sentiram ofendidos e, provavelmente por ordem direta do pútrido Eduardo Cunha, o diretor da área, Laerte Rimoli, mandou refazer a notícia dos arquivos, republicando-a, com a mesma data da publicação anterior, devidamente reescrita com outro enfoque, enfatizando a questão do quociente eleitoral. Mais ou menos como Stalin fez na União Soviética, apagando as figuras que caíam em desgraça das fotos oficiais do regime.

Do outro lado, no porta voz oficioso do governo interino, a Globo, o Jornal Hoje, em reportagem de 10m33s, repercutiu a reportagem da Folha de São Paulo sobre o grampo em que “o ministro do Planejamento, Romero Jucá, sugere um pacto para deter a Lava Jato.” E disse que, “de acordo com a reportagem… Jucá sugeriu que uma “mudança” no governo federal resultaria em um pacto para ‘estancar a sangria’ representada pela Operação Lava Jato.

Além da notícia em si, a reportagem informou a posição do presidente interino, as repercussões no Congresso, manifestação do ministro do STF, Luis Roberto Barroso, e do juiz Sérgio Moro, ambos participando de um evento em São Paulo, promovido pela Veja (que novidade!), e dedicou 1m72s ao próprio ministro Jucá para defender-se.

Logo depois, entrou com outra reportagem, esta menor, com o vazamento da “possível delação” (a que o jornal O Globo teve acesso), do empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, o Bené, acusando o governador de Minas, Fernando Pimentel, do PT, de ter recebido propina, inclusive R$10 milhões da CAOA, representante da Hyunday no Brasil, além de irregularidades cometidas pelo BNDES na Argentina e em Moçambique, nas quais “Pimentel seria um dos possíveis beneficiários”. Para comprovar sua isenção jornalística, foi dito que a defesa do governador se pronunciou… tempo deste pronunciamento: 23 segundos!

E, para completar esta incomensurável isenção, o jornal Hoje mostrou outra reportagem, sobre a 29ª operação da Lava Jato, chamada ‘Repescagem’, que prendeu o ex-tesoureiro do PP, João Cláudio Genu, à qual foram dedicados 3m53s, sempre ligando o aprisionado e os motivos desta operação ao Mensalão (o petista, claro, que o peessebista continua rateando na justiça mineira).  

Interessante também observar a data desta operação: uma segunda-feira. Normalmente, as operações da Lava Jato, por estratégia mesmo do juiz Sérgio Moro, que já disse que utiliza o ‘modus operandi’ da Mani Puliti (Operação Mãos Limpas da Itália), são deflagradas às sextas-feiras, para obterem maior repercussão na mídia. Será que PF e PGR foram alertados que a Folha de São Paulo ia soltar uma “bomba” nesta segunda-feira? E, para não perder o foco, a força-tarefa antecipou sua 29ª operação?

   

Enfim, com censura ou informações distorcidas, a comunicação não é mais controlável por quem quer que seja. Se a Rede Brasil esconde ou a Rede Globo tenta compensar o que não pode esconder, as redes sociais divulgam e discutem livremente qualquer assunto, levando informação e mais conhecimento para, pelo menos, 60% da população brasileira, a parte que tem acesso à Internet. É uma esperança a mais para a democracia…