Novas de velhos tempos II

Outra percorrida por jornalões e blogues na manhã de hoje me mostra que (acho que isto vai ficar repetitivo, mas quando se trata de velhas raposas da política retomando o poder,  as novas são sempre velhas, pois já foram vistas e feitas várias vezes, sempre com  objetivos ocultos por trás das palavras pomposas, como repactuação ou aperfeiçoamento):

– depois de voltar atrás em relação à repactuação do SUS, o ministro da Saúde foi específico em defesa de quem financiou sua campanha a deputado federal, e disse que o MS não vai controlar a qualidade dos serviços dos planos de saúde: “Ninguém é obrigado a contratar. Não cabe ao ministério controlar isso”. O Art. 196 da Constituição Cidadã diz que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução dos riscos de doença e de outros agravos e o acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. Tudo bem… o Estado não consegue garantir isto diretamente através do SUS, cuja atuação aliás, o ministro tentou reduzir, mas fiscalizar e controlar a atuação dos planos de saúde, o Estado pode! Basta ter um representante do povo que, atuando como ministro, defenda o povo que o elegeu,  não as empresas que bancaram sua eleição…

(Parêntesis necessário: praticamente, todos os ministros do governo interino de Temer empregaram, em entrevistas, o verbo “repactuar”, que não existe nos dicionários. Mas, pela lógica, repactuar é combinar, contratar, ajustar, fazer pacto… de novo. Nas próximas atualizações, será que os dicionários vão informar que o significado de repactuar é, também, demitir, exonerar, reduzir, mudar, acabar com…, alterar o objetivo…?)

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– o ministro das Cidades, Bruno Araújo (o peessedebista pernambucano que está na lista da Odebrecht), revogou a autorização dada pela afastada presidenta Dilma à Caixa Econômica Federal para liberar recursos para a construção de 11.250 moradias do programa Minha Casa Minha Vida. Tal decisão impede o financiamento de residências para refugiados, quilombolas, pescadores artesanais, ribeirinhos, indígenas, assentados da reforma agrária e atingidos por barragens… mas não há revogação de qualquer autorização de liberação de recursos para construção de habitações para a classe média. Segundo o ministro, é uma “medida de cautela”, porque o programa (Minha Casa Minha Vida) precisa ser aperfeiçoado.

(Outro parêntesis necessário: aperfeiçoar é outro verbo usado por, praticamente, todos os ministros do governo interino… Nas próximas atualizações, será que os dicionários vão informar que aperfeiçoar é sinônimo de repactuar?)

– para a nova presidenta do BNDES, Maria Sílvia Bastos, com histórica ligação com as Organizações Globo (leiam em O Quarto Poder, de Paulo Henrique Amorim) foi dado um dever de casa imediato e irrecusável: soltar dinheiro para as concessionárias de  06 aeroportos que estão sem recursos para pagar a concessão que lhes foi dada pelo governo.

(terceiro parêntesis necessário: segundo a oposição aos governos petistas, o Estado é ineficiente e a solução de todos os problemas do país está na iniciativa privada. O petismo no governo aceitou os argumentos e fez concessão de bens públicos à iniciativa privada, repassando-lhe a gestão de aeroportos, portos e rodovias, por 30 anos, prorrogável por mais 30 anos, o que não deixa de ser uma privatização de serviços do Estado. Mas as empresas privadas não conseguem auferir recursos suficientes para pagar nem a concessão outorgada. Pergunto, pois: a iniciativa privada também é incompetente, ou é jogo de cena para obter mais concessões em condições mais camaradas ainda?).

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– o ministro da Educação e Cultura, Mendonça Filho, nomeou o economista pernambucano Maurício Romão para a Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior, que é o órgão do MEC responsável por regular e supervisionar instituições de Educação Superior, públicas e privadas, e os cursos superiores de graduação (bacharelado, licenciatura e tecnológico, e de pós-graduação lato sensu, presencial ou a distância, zelando para que a legislação educacional seja cumprida e buscando a elevação da qualidade do ensino. Romão é  ligado à Ser Educacional, um dos maiores grupos privados de educação superior do país, presente em 28 cidades e 12 estados, com 42 unidades de ensino e cerca de  140 mil alunos, bem como consultor do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau, que faz parte do grupo. Mais um que, certamente, acha que a iniciativa privada é a solução de todos os nossos males e, coerentemente, vai lutar para reduzir a presença de universidades públicas no Brasil.

– o presidente interino decidiu nomear o deputado André Moura, do PSC/SE, como líder de seu governo na Câmara. Além de ser um dos ‘Cunha’s boys’ (ou talvez por isto), Moura é  acusado de vários crimes, como apropriação indébita, desvio ou utilização de bens públicos do município de Pirambu (SE) e, até mesmo, um suposto envolvimento em um caso de tentativa de homicídio. A estas acusações juntam-se outras três, que já tramitam no STF, além de irregularidades apontadas em outros órgãos, como o TCU , que o responsabilizou por várias ilegalidades, condenando-o, inclusive, ao pagamento de multa. Indubitavelmente, um líder à altura do governo interino!

– em três dias úteis de trabalho (13, 16 e 17/05), o presidente interino já exonerou 324 servidores, não sabemos se por vingança, se porque precisa de muitos cargos para agradecer deputados e senadores ou, quem sabe?, para dar uma demonstração de que não é apenas um presidente interino. É um direito dele, claro… Mas, exonerar o fotógrafo oficial da presidenta, um Stuckert, de tradicional família de fotógrafos oficiais de presidentes desde a época do Juscelino? Ou o José Catalão, tido como um dos funcionários mais queridos do Palácio, cuja função, há 08 anos, é servir cafezinho aos presidentes?

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Com tanta gente decente, bem intencionada e compreensiva no governo interino, será que a classe média, tão ativa nos meses anteriores, batendo panelas, fazendo buzinaços e mandando a presidenta tomar no fiofó, vai sair às ruas para aplaudir o fim da corrupção?

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