Vésperas

As vésperas são sempre torturantes. Pessoais ou não. Me lembro da primeira véspera da minha vida: provas de admissão ao Colégio Militar de Belo Horizonte. Meu pai achava que eu era muito sensível, aquela história de que macho que é macho não chora… e eu chorava muito,ou seja, precisava de uma educação mais marcial para virar macho…chô! E eu abominava a idéia de viver enquadrado, senhor praqui, senhor pra cá…col estadual central

Naquela época, os dois melhores colégios eram o Militar e o Estadual, ambos públicos. Eu não tinha passado no primeiro “vestibular” do Estadual, mesmo sendo um bom estudante, com direito, inclusive, de fazer um cursinho preparatório. Não tinha como fugir, então: passava no Militar ou teria que ir para algum colégio católico e…  pago.

Mas eu não tinha qualquer vocação militar… e passei a noite de véspera acordado, imaginando mil formas de não passar (eu sempre fui caxias e estava preparado para fazer qualquer prova, mas tinha certeza que, se passasse, não me daria bem no colégio).

Depois, aconteceram as vésperas da 2ª chamada do Colégio Estadual, que passei em 2º lugar, para compensar a decepção paterna por não entrar no Colégio Militar, do “vestibular” para o Curso de Jornalismo, que também passei em 2° lugar – e precisava disto, porque meu pai, médico, achava que eu estava tentando cursar medicina – do 1º casamento, do nascimento da primeira filha, da segunda… do segundo casamento, do nascimento da 3ª filha, da angustiante viagem na véspera da morte da 4ª filha!

E me lembro das vésperas impessoais:  dos grandes jornais estampando manchetes garrafais contra o presidente Jango  (eles foram e continuam sendo golpistas), e da madrugada do golpe, quando eu estava em Copacabana, conhecendo o mar; do primeiro e único  enfrentamento a Polícia Militar de Minas, quando Brizola ia fazer um discurso na Assembléia Legislativa;   do primeiro e único enfrentamento ao Dops mineiro,  preparando a passeata contra a “prisão” de uma colega do Diretório Estudantil do Colégio Estadual;  da eleição indireta de Tancredo Neves  para substituir os militares golpistas; da longa agonia  do mesmo Tancredo, na expectativa  de assunção a uma presidência, que nunca houve;  da eleição de Collor, com as incertezas  criadas  pela infamante  edição do debate entre ele e Lula, perpetrado pela Globo; do impeachment do mesmo Collor e, por fim, da reeleição de Fernando Henrique Cardoso, que eu imaginava que não ia acontecer.

Fora Jango

folha de sp      o dia

Não houve véspera torturante quando da primeira eleição do Lula… a certeza da vitória era absoluta, e nem quando começou o julgamento do mensalão, que ia durar – como durou – tanto tempo, que não houve véspera.

Agora, vivo novas vésperas torturantes. Os grandes jornais, golpistas como sempre, fazem contagens diárias dos deputados, sempre desfavoráveis à Dilma. A TV Globo coloca suas câmaras e seus zooms a favor do golpe – imagens fechadas nas manifestações contra Dilma e bem abertas nas pró, dando a entender que tem muito mais gente nas primeiras que nas segundas. Os “blogs sujos” tentam levantar o moral dos defensores da democracia, incitando o povo a ir para as ruas, mas quem decide são 513 “representantes” deste povo, que varam a madrugada em tenebrosas transações, como dizia uma maravilhosa música de Chico Buarque de outros tempos tenebrosos.

Como eu disse, é uma sensação torturante e desta vez, infelizmente, acho que não vai passar!

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