O dia em que o governador pousou lá em casa e tropicou na minha grama! (II)

As versões – quem sabe, verdades, para nós, moradores (e palhaços!)

Durante a primeira fase dos fatos – agosto e parte de setembro – enquanto Escola e Secretarias trocavam “figurinhas”, a comunidade pouco participou do processo. Os mais  diretamente interessados, caseiros e prestadores de serviços pais e mães dos alunos da Escola, preocuparam-se com a possível suspensão das aulas, e os ocupantes das chácaras, principalmente moradores, através de sua associação local, interessaram-se e acompanharam o desenrolar dos acontecimentos enquanto restrito à Escola, ampliando preocupações e questionamentos quando a Imprensa, mas não as autoridades, alardearam a contaminação.

Pergunta daqui, questiona dali, informa-se acolá, nada é oficial… Fulano, da Chácara tal, tem uma cunhada que é irmã de um assessor do gabinete da Casa Civil , que disse que o vice governador estava incumbido de tomar as providências necessárias para resolver a questão… da Escola e de toda a região! O que se sabe, efetivamente, é o que dizem televisões, rádios e jornais: “todos os poços profundos – eram 327 na época – estão contaminados por benzeno, mas os poços rasos (cisternas) – que eram 468 – não!” Ou: “Amostras foram colhidas em 08 poços e a quantidade de benzeno é vinte vezes superior a quantidade permitida pelas normas de saúde!” Ou: “O lençol freático da região está totalmente comprometido e os donos de poços profundos não devem nem tomar banho em suas casas…!”

Daí, começam as insinuações, o disque-disque que se espalha mais que a poeira das ruas de terra da região no tempo da seca (e, na época, nem existia Facebook ou Whats’App!), tudo em cima de uma base real de uma certeza: os moradores mais antigos da região tinham  certeza absoluta que a água de suas chácaras sempre fora e continuava sendo melhor, mais gostosa, mais saborosa e sem qualquer cheiro parecido com a água tratada e fornecida pela CAESB… E se isto era a verdade, havia alguma coisa por trás desta palhaçada da “contaminação”…!

Lago Oeste e seu entorno preservável…

Primeiro possível vilão por trás da “contaminação”:  Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, IBAMA, que criou esta fantasia para se vingar da região, que estava “atrapalhando” o projeto de expansão do Parque Nacional. Meio contraditório, mas quem disse que teorias conspiratórias têm sentido?

Tento explicar: na época, estava para ser aprovada na Câmara Federal um projeto que alterava as poligonais do Parque, incorporando-lhe parte da região onde moro em troca de outra, em outro local, para se construir uma tal de Cidade Digital, de evidente interesse político-econômico. E a comunidade do Lago Oeste, Associação à frente, não permitiu que parta do Núcleo Rural fosse incorporado pelo Parque. Daí a retaliação…

Segundo possível vilão:  Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal, CAESB, detentora do serviço de fornecimento de água para a capital, mas que não fornece água para a região onde moro, e quer assumir isto…

Numa região como Brasília, historicamente povoada por invasões dirigidas, que se transformaram em cidades regulares, condomínios horizontais construídos em áreas públicas ou particulares que se transformaram em populosos bairros à procura de regularização, cisternas, poços artesianos e semi  proliferam com espantosa celeridade e absoluto descontrole.

A possível existência de contaminação do lençol freático da região seria o portão de entrada da CAESB em toda a área com, à época, uns 7.500 moradores, um contingente nada desprezível de potenciais clientes. E com uma vantagem adicional: a implantação urgente de rede de fornecimento de água a partir da Represa de Santa Maria para atendimento a cerca de 1.000 chácaras teria caráter emergencial, sem licitação, um maná para o ano eleitoral que se aproximava…

Terceiro possível vilão: o próprio GDF, Governo do Distrito Federal, que estava, com certeza, interessado em desvalorizar as terras do núcleo rural, para que a União, proprietária delas, no bojo da expansão do Parque Nacional, transferisse estas terras para o governo local.

Repito, teoria conspiratória não se explica, mas pode-se torna-la razoável: o governador à época, Joaquim Roriz, um político notoriamente ligado à terra e exercendo seu quarto mandato, mantinha conhecidas e históricas políticas de transferência de pobres e desvalidos invasores do Plano Piloto para suas áreas periféricas, com a devida distribuição  gratuita de lotes nestas áreas, criando cidades satélites em profusão. Estão aí Samambaia, Recanto das Emas, I e II, Sobradinho II, Santa Maria, São Sebastião, Estrutural, Itapoã…

Não tão criticada quanto, mas também presente em todos os seus governos, sempre esteve a política de expansão imobiliária para os mais bem dotados economicamente, representada pela criação de bairros ou áreas administrativas independentes oficiais, como Octogonal, Sudoeste, Águas Claras, ou oficiosas, como Vicente Pires, Arniqueiras, Grande Colorado, e pelo rápido povoamento do Setor de Mansões Park Way, aliás o modelo pretendido para a região onde moro.

Este SMPW era uma área tradicional de chácaras, cujos lotes com dimensões superiores a 20 mil m² foram preservados por muito tempo, legalmente como um cinturão ambiental para Brasília. Legalmente também, suas dimensões foram sendo sucessivamente reduzidas, até chegarem aos atuais lotes de 2.500 m², reunidos em condomínios fechados, totalmente ocupados por casas e mansões, o que gerou enriquecimentos lícitos e ilícitos para muitos empresários do ramo imobiliário brasiliense.

(Uma observação pertinente: o Distrito Federal, um retângulo de terra encravado em Goiás, um sonho tornado realidade por Juscelino Kubitschek, não tem indústrias de peso e tem uma população, espertamente inchada pela política populista de seu mais longevo governador, muito acima da sua capacidade de oferecer empregos.

Sua sobrevivência financeira depende do Governo Federal, que paga uma espécie de aluguel por estar aqui instalado – bancando as despesas de saúde, educação e segurança – e das empreitadas imobiliárias, já que construtoras,  incorporadoras e que tais são as maiores pagadoras de impostos.

Em outras palavras, mais objetivas: se existem terras, não importa se protegidas ambientalmente ou não, que podem se transformar em empreendimento imobiliário, vamos fazer o possível e o impossível para que isto aconteça! Depois de habitada uma área, quem é que vai ter culhão de derrubar tudo?).

Quarto possível vilão: a Secretaria de Educação temia uma possível investigação séria em relação à reforma feita na caixa d’água da Escola. Esclareço: segundo diziam, a empresa que executou a reforma da caixa d’água, e que realizava este tipo de serviço em 80% das escolas públicas do Distrito Federal, era uma das financiadoras de campanhas eleitorais do então governo distrital.

 

Óbvio que certas versões têm fundamentos meio enviesados, porém, em época de mensalões e valeriodutos, de CPI da Educação e de eleições que se aproximavam, a credibilidade da política fica mais baixa que a real quantidade de benzeno encontrada nas águas profundas da nossa região. (continua)

 

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